Míssil Long Neptune pode ser uma nova esperança para a Ucrânia
Míssil Long Neptune pode ser uma nova esperança para a Ucrânia - Segundo Zelenski, a Ucrânia tem seu próprio foguete de longo alcance para atingir alvos nas profundezas da Rússia. Que tipo de arma é essa e será que ela pode substituir os mísseis ocidentais?O Long Neptune passou com sucesso em todos os testese na utilização em combate, declarou recentemente o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. "É um novo míssil ucraniano, muito preciso. O alcance é de mil quilômetros. Muito obrigado aos nossos desenvolvedores, fabricantes e militares ucranianos", escreveu no Telegram, sem fornecer mais detalhes sobre o míssil ou seu alvo.
Analistas de open source intelligence (Osint, informações disponíveis publicamente) e a mídia informaram que a Ucrânia havia usado o míssil para atingir a refinaria de petróleo em do porto russo de Tuapse, no Mar Negro, a cerca de 550 quilômetros da linha de combate. De acordo com as autoridades regionais russas, houve um incêndio na refinaria durante o fim de semana. Especialistas consultados pela DW presumem que uma versão avançada do míssil anti-navio Neptune R-360 tenha sido usada no ataque.
Modificações no Neptune
O míssil de cruzeiro R-360, desenvolvido pela companhia de design Lutsch, em Kiev, está em uso pelas Forças Armadas ucranianas desde 2020. Juntamente com o sistema RK-360MC, protege a costa detectando e destruindo navios inimigos. Ele tem uma ogiva de 150 quilos e um alcance de até 300 quilômetros.
Sua primeira missão de combate foi em abril de 2022 contra a fragata russa Admiral Essen. Pouco tempo depois, o evento mais significativo da guerra russo-ucraniana ocorreu quando dois desses mísseis antinavio afundaram o cruzador russo Moskva, avaliado em 750 milhões de dólares.
Mas os projetistas ucranianos não pararam por aí, e apresentaram uma nova modificação do R-360 em 2023, capaz de atingir alvos terrestres e também navios. Uma fonte anônima do Ministério da Defesa da Ucrânia disse ao portal americano The War Zone, que ele tem um alcance de 400 quilômetros e pode carregar uma ogiva de 350 quilos, ou seja, 200 quilos a mais do que um míssil antinavio.
Projetado para voar até mil quilômetros, esse míssil já foi empregado várias vezes pelos militares ucranianos, inclusive em setembro de 2023 contra um sistema de defesa aérea russo S-400 e o aeródromo de Saky, na Crimeia ocupada. Agora, os engenheiros ucranianos teriam desenvolvido uma nova versão do sistema de mísseis Neptune, supõem especialistas.
Produção em série sendo cogitada
Para Mykola Sunhurowskyj, especialista militar do Centro de Pesquisa Razumkov de Kiev, a questão agora é saber se o míssil pode ser produzido em massa. Pois a arma só faz sentido se for usada em grande escala. "Espero que, combinando os recursos tecnológicos, de produção e financeiros da Ucrânia e de seus parceiros ocidentais, possamos aumentar a produção. Mas há a questão da localização das fábricas, já que todo o território da Ucrânia está sob fogo."
Serhiy Shurez, da empresa de consultoria ucraniana Defense Express, também considera importante a produção em série. Ele calcula que a Ucrânia deve produzir de 40 a 50 mísseis por mês, o mesmo número que a Rússia: "Precisamos atingir esse ritmo." Ao contrário de outros tipos, o míssil Neptune conta com o apoio de uma equipe de projetistas experientes. "Por exemplo, as pessoas estão falando sobre o míssil balístico Sapsan há 15 ou 20 anos, mas ele ainda não existe", comenta o especialista.
Kiev pode ficar sem os mísseis ocidentais?
Antes do Long Neptune, os mísseis ATACMS e Storm Shadow (SCALP) fornecidos a Kiev pelo Ocidente, eram as armas de maior alcance que a Ucrânia já empregara usar contra a Rússia. De acordo com fontes de acesso aberto, eles têm um alcance de até 300 quilômetros.
No entanto, a mídia relata que os estoques de mísseis balísticos ATACMS americanos da Ucrânia estão esgotados desde janeiro de 2025. Até o momento, não há informações sobre se haverá novas entregas dos EUA. Kiev também tem apenas alguns mísseis Storm Shadow.
Por isso os especialistas consideram positivo o fato de a Ucrânia ter agora seu próprio míssil de longo alcance. Entretanto, não acreditam que possa substituir completamente as armas ocidentais: "Devido à necessidade de mísseis das Forças Armadas da Ucrânia, não se trata de substituir os mísseis ocidentais. Trata-se de complementar a ajuda ocidental", diz Sunhurovskyi.
Shurez ressalta que ainda há necessidade de mísseis que Kiev não recebeu, em especial os mísseis de cruzeiro alemães Taurus. "Um Taurus pode viajar até 600 quilômetros e a ogiva pesa 450 quilos. Embora seu alcance seja menor do que o do Long Neptune, tem uma ogiva penetrante exclusiva, que é particularmente adequada para destruir bunkers profundos. O Taurus é caracterizado por sua sofisticação tecnológica e é o míssil mais avançado que existe."
Eventuais alvos da Ucrânia
A Rússia está reagindo ao alcance das armas ucranianas e, por isso, movendo para mais fundo em seu território os alvos potenciais – como aeronaves e certas instalações de produção, explica Sunhurovskyi. "Mas uma refinaria de petróleo você não consegue transportar." Graças ao Long Neptune, muitos alvos na Rússia estão agora ao alcance da Ucrânia.
Até agora, os ucranianos só conseguiam atingir alvos a distâncias de mais de 300 quilômetros usando drones. O drone de combate Lyutyy desenvolvido na Ucrânia voa mil quilômetros, e o Ninja estabeleceu um recorde ao atingir uma fábrica da empresa química Gazprom Neftekhim Salavat na Rússia a uma distância de 1.500 quilômetrost, segundo a mídia ucraniana, citando fontes do serviço secreto.
"Eles continuarão a atacar com drones, mas só podem levar uma pequena quantidade de explosivos – até 50 quilos. Não é possível penetrar num objeto fortificado com eles, nem mesmo com vários drones ao mesmo tempo", explicou o major da reserva ucraniano Oleksiy Hetman, veterano da guerra contra a Rùssia, em entrevista à estação de rádio NV. Ele acredita que um Long Neptune possa carregar até 300 quilos de explosivos, podendo também destruir prédios.
A mais de 300 quilômetros de distância, há inúmeras instalações logísticas russas e, acima de tudo, instalações industriais que teriam de ser destruídas, para que se possa travar uma verdadeira guerra de atrito, observa Shurez: "Isso é exatamente o que a Rússia está tentando fazer na Ucrânia."
O especialista enfatiza que a Ucrânia poderia usar a mais recente versão do Neptune para atingir refinarias, postos de comando e depósitos de munição na Rússia, sem precisar da ajuda dos EUA ou de outros países.
Autor: Oleksandr Kunyzkyj