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Prefeito opositor do presidente é preso em meio a protestos multitudinários na Turquia

23/03/2025 14h19

O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal opositor do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi suspenso do cargo e preso, neste domingo (23), por "corrupção", quatro dias depois de sua detenção desatar os maiores protestos em uma década no país.

Imamoglu, de 53 anos, foi transferido para a prisão de Silivri, a oeste de Istambul, junto com vários coacusados, informaram seu partido e meios de comunicação turcos.

O prefeito, que denunciou desde o início acusações "imorais e sem fundamento" contra ele, também foi suspenso de suas funções neste domingo, anunciaram as autoridades.

"O atual processo judicial (...) é uma execução sem julgamento", afirmou Imamoglu em mensagem difundida por seus advogados, na qual instou o país "a lutar".

Na manhã deste domingo, um juiz ordenou a prisão do prefeito por "corrupção", embora tenha rejeitado uma ordem de prisão por "terrorismo".

O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democratas), principal força de oposição, ao qual pertence Imamoglu, qualificou a prisão como um "golpe de Estado político".

Seus advogados anunciaram que vão recorrer da decisão do tribunal.

- Milhões de pessoas votam nas primárias -

"Ekrem Imamoglu está a caminho da prisão, mas também da Presidência", declarou o líder do CHP, Özgur Özel.

Neste domingo, seu partido realizou primárias nas quais estava previsto que o prefeito de Istambul fosse nomeado candidato às eleições presidenciais de 2028.

O CHP chamou todos a participarem, não apenas seus membros. Segundo a Prefeitura de Istambul, 15 milhões de pessoas participaram das primárias e mais de 13 milhões de votos foram de pessoas que não militam no partido.

"Viemos apoiar nosso prefeito. Continuaremos com ele", disse à AFP Kadriye Sevim, uma participante destas primárias, durante as quais viu multidões de eleitores chegarem a algumas seções eleitorais.

Além disso, o CHP voltou a convocar para a noite deste domingo manifestações em Istambul pelo quinto dia consecutivo.

Para evitar distúrbios, o governo municipal estendeu a proibição de reuniões até a noite de quarta-feira.

E também anunciou restrições para pessoas que possam participar das manifestações entrarem na cidade, sem informar como implementaria a medida.

Na quarta-feira, a detenção de Imamoglu provocou protestos maciços, que se estenderam a pelo menos 55 das 81 províncias turcas.

A onda de contestação é inédita desde as grandes manifestações, iniciadas no parque Gezi de Istambul, e que sacudiram o país em 2013.

- Turquia pede bloqueio de 700 contas no X -

A rede social X denunciou, neste domingo, que as autoridades turcas pediram o bloqueio de mais de 700 contas na plataforma.

"Nós nos opomos às múltiplas ordens judiciais da Autoridade Turca de Tecnologias da Informação e da Comunicação para bloquear mais de 700 contas de organizações de notícias, jornalistas, personalidades políticas, estudantes e outros dentro da Turquia", informou a plataforma em um comunicado.

"Acreditamos que esta decisão do governo turno não apenas é ilegal, mas também impede que milhões de usuários turcos tenham acesso à informação e ao debate político em seu país", acrescentou o X.

Centenas de pessoas foram detidas em pelo menos nove cidades durante os protestos, segundo as autoridades.

"As manifestações vão continuar (...) A nação está de pé e não vai ceder", disse à AFP Ayten Oktay, uma farmacêutica de 63 anos em Istambul, onde dois prefeitos distritais detidos ao mesmo tempo que Imamoglu também foram suspensos neste domingo, acusados de "corrupção" e "terrorismo".

O conselho municipal vai eleger um vice-prefeito na quarta-feira, anunciou o governo.

"Seguiremos lutando", assegurou Ercan Basal, um psicólogo de 53 anos, na capital, Ancara, instando o governo a "reverter este erro".

Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas - a princípio como primeiro-ministro e depois como presidente - prometeu, por sua vez, não ceder ao "terror da rua".

Imamoglu se tornou a pedra no sapato do chefe de Estado, quando arrebatou a prefeitura de Istambul do partido do presidente em 2019.

O AKP, Partido da Justiça e do Desenvolvimento, ao qual pertence Erdogan, se manteve no poder na capital econômica do país por 25 anos.

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© Agence France-Presse

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