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Equador inicia campanha para segundo turno das presidenciais em meio à violência

23/03/2025 15h08

O Equador iniciou no domingo (23) a campanha para o segundo turno das eleições presidenciais em 13 de abril entre o presidente Daniel Noboa, o mais votado no primeiro turno, em fevereiro, e a esquerdista Luisa González, com a violência como principal tema da disputa.

Noboa, um empresário de 37 anos, autoproclamado de centro esquerda, teve uma vantagem de apenas 16.746 votos sobre González, advogada de 47 anos, afilhada política do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017).

A campanha começou com grandes concentrações de simpatizantes dos candidatos em Quito por ocasião de um debate obrigatório, que durou duas horas e no qual ambos trocaram uma série de acusações de corrupção e até mesmo de vínculo com o narcotráfico. 

González, que aspira se tornar a primeira presidente equatoriana eleita nas urnas, apontou Noboa como proprietário de uma empresa investigada por suposto narcotráfico e propôs que ambos fossem submetidos a um "teste antidoping" após o debate.

- Ajuda estrangeira -

Para reforçar a luta contra o crime, para a qual Noboa disse que precisa de ajuda dos Estados Unidos, Canadá, Itália, França e Espanha, o chefe de Estado insistiu em seu projeto de reforma da Constituição para eliminar a proibição de bases militares estrangeiras no Equador. Ele propôs a medida ao Congresso, mas o 'correísmo' é contra a medida.

Correa encerrou em 2008 um convênio que permitia a Washington usar uma instalação da Força Aérea Equatoriana no porto de Manta (sudoeste) para voos antidrogas.

No sábado, Noboa denunciou que um membro de seu partido, Ação Democrática Nacional (ADN), foi morto em Canuto (sudoeste), uma pequena cidade costeira de onde González é originária.

Mais de 30 políticos, autoridades judiciais e jornalistas foram mortos desde 2023 no Equador, inclusive o presidenciável Fernando Villavicencio (centro), baleado ao sair de um comício em Quito antes do primeiro turno das eleições antecipadas daquele ano, nas quais Noboa foi eleito para um mandato de 18 meses.

Quem governar o país nos próximos quatro anos também deverá enfrentar uma crise econômica. A dívida pública está em torno de 57% do PIB e uma guerra contra o narcotráfico é cara.

A disputa é muito acirrada, em meio à violência de gangues que têm vínculos com cartéis internacionais. "O Equador vive um panorama muito complexo", disse à AFP o analista Leonardo Laso, ex-ministro de Comunicação.

- Empate -

Laso destacou que as pesquisas mais recentes apontam um empate para o segundo turno, quando 13,7 milhões de eleitores devem comparecer às urnas.

Ele acrescentou que "a campanha é complexa, difícil. Os votos estão ocupados, na grande maioria (por Noboa e González), e a disputa pelo que resta vai ser muito dura".

No primeiro turno de fevereiro, Noboa e Gonzáles tiveram 88,17% dos quase 10,3 milhões de votos válidos, que se distribuíram entre 16 candidatos, algo sem precedentes na história do país.

O líder indígena de esquerda Leonidas Iza ficou em terceiro lugar, com 5,25% dos votos, e a ambientalista anti-correísta Andrea González Nader ficou em quarto, com 2,69%. Quase um milhão de votos foram em branco ou nulos, enquanto o índice de abstenção ficou próximo de 18%.

Estes votos "em grande medida são os que vão definir a eleição", assinalou Laso.

A maior organização de povos originários do país, Conaie, liderada por Iza, e outras organizações de esquerda resolveram apoiar Luisa González.

Noboa trava desde 2024 uma guerra com grupos narco, cuja disputa pelo poder levou a taxa de homicídios a subir de 6 por 100.000 habitantes em 2018 para o recorde de 47/100.000 em 2023.

Embora o governo, que declarou o país em conflito armado interno e mantém as Forças Armadas nas ruas para combater o crime, tenha conseguido baixar esta taxa para 38/100.000 no ano passado, este ano começou como um dos mais violentos, aterrorizando ainda mais a população.

Eleitoralmente "esse aumento da violência pode pesar dos dois lados", explicou o analista Laso.

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© Agence France-Presse

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