Mesmo com 'motosserra', Trump gasta US$ 36 bi a mais que Biden em fevereiro

Dados da Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos indicam que o governo Trump gastou 36 bilhões de dólares a mais em fevereiro do que o governo Biden no mesmo período do ano passado.
O que aconteceu
Mesmo apostando em "serra elétrica", Trump gastou mais que Biden. O governo do republicano gastou 603 bilhões de dólares em fevereiro deste ano, contra 567 bilhões gastos pelo governo Biden no mesmo período do último ano. Diferente do democrata, Trump está promovendo cortes profundos em gastos governamentais, incluindo demissões em massa de funcionários públicos e fechamento de agências públicas.
Trump aumentou gastos em 6,35% em primeiro mês completo como presidente. Isso não significa que os gastos não vão cair nos próximos meses, mas mostram que a tentativa de desinchar o Estado, prometida pelo presidente e reforçada pelo bilionário Elon Musk, ainda não apresentaram resultado.
Em contrapartida, arrecadação com tarifas cresceu. O ganho com as taxas sobre produtos externos cresceu de 6,7 bilhões em fevereiro do ano passado, para 7,2 bilhões neste mês. Segundo o site Axios, o aumento é causado pela taxa de 10% sobre todos os produtos chineses, implementada por Trump no último mês.
Musk e Trump miram cortes em programas sociais
Musk pretende cortar centenas de bilhões de dólares de programas sociais. Em entrevista a Fox Business neste mês, o homem mais rico do mundo defendeu que os próximos grandes cortes fossem realizados em "gastos obrigatórios", direcionados a programas sociais. Estão inclusos a Previdência Social, programas de acesso à saúde, como o Medicare e o Medicaid, e o programa de seguro desemprego. Anualmente, eles consomem cerca de 50% dos fundos do governo.
Principal despesa do governo em fevereiro foi com Previdência Social. No total, 129 bilhões de dólares foram destinados a pagamentos para beneficiários com programa, que atende principalmente aposentados. Já em 2024, o governo americano pagou 1,3 trilhão em Previdência. Segundo dados da agência responsável, nove em cada dez americanos com 65 anos — cerca de 69 milhões de pessoas — têm a previdência como principal fonte de renda.
Musk e Trump acusam fraude em pagamentos de previdência. Ambos repetiram várias vezes, sem citar fontes, que a maioria dos beneficiários da Previdência Social estão mortos ou não existem, e que há outras pessoas não elegíveis que recebem os cheques em seus nomes. Musk afirmou que 20 milhões dos inscritos estão mortos, e ainda que há registrados com 100, 200 e 300 anos de idade que continuam recebendo dinheiro do governo.
Talvez Crepúsculo seja real e haja muitos vampiros recebendo Previdência Social. [...] Ter dezenas de milhões de pessoas marcadas na Previdência Social como "VIVAS" quando elas estão definitivamente mortas é um problema ENORME. Obviamente. Algumas dessas pessoas estariam vivas antes [dos Estados Unidos da] América existirem como um país. Pense nisso por um segundo? Elon Musk, sobre supostas fraudes no sistema previdenciário dos EUA, em publicação no X
Chefe de agência rejeitou falas de Musk. "Os dados relatados são de pessoas em nossos registros com um número de Seguro Social que não têm uma data de morte associada ao seu registro. Esses indivíduos não estão necessariamente recebendo benefícios", respondeu Lee Dudek, comissário interino da Administração da Previdência Social.
Fraude na agência existe, mas se limita a menos de 1% do gasto. Um relatório de 2024 apontou que 71,8 bilhões de dólares foram gastos de maneira incorreta entre os anos fiscais de 2015 e 2022.
Trump e Musk miraram em gastos quase insignificantes
USAID gastou 21,7 bilhões no último ano fiscal — somente 0,3% do gasto total do governo. Entretanto, o governo Trump não desistiu de atacar e tirar 83% dos fundos da agência, que financiava trabalho humanitário ao redor do mundo, inclusive no Brasil. "Os 5.200 contratos que agora estão cancelados implicaram gastos de bilhões de dólares de maneiras que não favoreceram (e em alguns casos até prejudicaram) os interesses nacionais fundamentais dos Estados Unidos", disse o secretário de Estado, Marco Rubio. A Justiça dos EUA, entretanto, ordenou ontem que o governo Trump cessasse com suas tentativas de fechar a USAID.
Cortes da USAID também afetaram universidades. A renomada Universidade Johns Hopkins, teve contratos de 800 milhões de dólares cancelados, e anunciou a demissão de 2 mil empregos. Em nota, a Universidade anunciou que os cortes atingem a Escola de Saúde Pública Bloomberg.
Desde campanha, Trump defende fechar Ministério da Educação. O órgão consumiu somente 2% dos gastos do mês de fevereiro e 3,33% do gasto do último ano fiscal, e se tornou alvo ideológico de Trump. A mídia americana sugeriu que ele preparava uma ordem executiva para desmantelar o órgão, o que ainda não aconteceu. Entretanto, o governo cortou metade do quadro de funcionários do órgão — e está sendo processado por mais de 20 estados por isso.
Agência de Proteção ao Consumidor teve trabalho paralisado. Em 10 de fevereiro, funcionários do órgão responsável por evitar que americanos sofram golpes financeiros e paguem preços justos e transparentes foram mandados para casa, e ordenados a interromperem todo o trabalho. Entretanto, quatro dias após sua pausa, um juiz federal ordenou que o governo interrompesse todas as ações contrárias à agência. Em janeiro, último mês em que a agência funcionou em totalidade, gastou somente 67 milhões de dólares dos cofres públicos.
Agência criada para tirar população das ruas foi encerrada. O Conselho Interinstitucional dos EUA sobre Desabrigados, que apresentou orçamento anual de apenas 4,3 milhões de dólares, também foi cortada no governo Trump, em uma ordem executiva assinada na última sexta-feira que fechou outras seis agências. O conselho trabalhava com outras 19 agências para gerar políticas públicas com o objetivo de reduzir a população de rua no país.