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"O cinema é uma arma que muda corações e mentes", diz Karim Aïnouz, convidado de honra do Cinélatino, em Toulouse

22/03/2025 17h19

O cineasta cearense Karim Aïnouz é o convidado de honra da 37ª edição do festival Cinélatino, em Toulouse, no sudoeste da França. O evento realiza uma retrospectiva de sua filmografia e exibe grande parte de seus longas, com sessões seguidas de debates.

Daniella Franco, enviada especial da RFI a Toulouse

"Você diz que tem origem da Cabília, mas você não parece ser argelino, parece bem brasileiro", observa a espectadora após a projeção de "Marinheiro das Montanhas", em Toulouse, primeiro filme da retrospectiva de Karim Aïnouz a ser exibido nesta edição do festival Cinélatino.

Em plena manhã de sábado, a sala de cinema está quase lotada, e o público se recusa a ir embora depois do encerramento do filme. Os espectadores querem interagir com o cineasta brasileiro, muitos deles sobre a temática do filme e a busca das origens de Aïnouz no norte da África, outros sobre o sentimento de culpa da França décadas após a guerra da Argélia. Mas diante do tom acolhedor do cineasta, a conversa toma um rumo descontraído.

"Eu encontrei com você uma vez em Cuba, você me disse que estava indo para uma festa e nem me convidou", lança outra participante do debate, levando a sala às gargalhadas.

Com o mesmo tom descontraído, Aïnouz conversou com a RFI, confessando estar cansado após ter acordado às 4h da manhã em Berlim e ter feito uma conexão em Bruxelas para chegar a tempo do primeiro debate em Toulouse, mas destaca estar muito feliz de voltar ao festival que acolheu seu trabalho desde o início de sua carreira. Foi aqui, na capital da região sudoeste da França, que o diretor cearense recebeu o principal prêmio do Cinélatino em 2010, junto com Marcelo Gomes, por "Viajo porque preciso, volto porque te amo".

Quinze anos e quase dez longas-metragens depois - muitos deles premiados nos maiores festivais mundo afora - Karim Aïnouz retorna a Toulouse e encontra espectadores animados a debater sobre a obra um tanto autobiográfica, diário de sua primeira viagem à Argélia em 2019. Coincidentemente, sua última vez no Cinélatino ocorreu por ocasião do lançamento de "Marinheiro das Montanhas", em 2022.

"Toulouse é uma cidade muito acolheradora, tem um público muito curioso sobre o cinema latino-americano. É bonito estar em lugar onde as pessoas de fato conhecem o trabalho da gente. O festival criou uma cultura importante, de apreciação do cinema latino-americano, então é um prazer e uma honra estar aqui", diz.

Contar histórias de impacto

"Tem outro lado que você se sente um pouco velho", ri, ao falar sobre a retrospectiva de sua carreira realizada no Cinélatino. Aos 59 anos, Karim Aïnouz esbanja energia e criatividade, planejando "de forma mais livre" o futuro de sua trajetória na Sétima Arte.

"Eu fico muito feliz de olhar para trás e ver que foram muitos anos, mas foram muitos filmes. Então, tem a sensação de você estar no mundo e estar ativo, no sentido de estar contando histórias que têm impacto e que de fato fazem diferença", diz.

Em Toulouse é visível o efeito de seu trabalho, tanto pela emoção do público diante de suas obras quanto pela influência que Aïnouz exerce sobre as jovens gerações de cineastas que participam do festival e não poupam elogios ao diretor cearense.

Para Aïnouz, essa é a força do cinema, uma arte que define como "uma arma que muda corações e mentes". "Não é uma arma de destruição, mas de transformação", reitera, lembrando o período difícil que o setor cultural brasileiro viveu com o governo Bolsonaro, mas superou.

Para os próximos anos de uma carreira em que Aïnouz pretende dobrar a quantidade de filmes que dirigiu até agora, os planos não são poucos. O cineasta revela que pretende abrir "um espaço de celebração" em Berlim, cidade onde está radicado. Além disso, por meio de sua produtora, a Cinema Inflamável, também quer colaborar com cineastas jovens e investir mais em cinema de gênero.

Segundo ele, essa liberdade permite projetar o futuro de sua carreira "de forma não-linear e mais irreverente". Por isso, Aïnouz se diverte ao ser questionando sobre a possibilidade de abrir uma boate na Cabilia, ideia evocada em "Marinheiro das Montanhas" e que intrigou o público em Toulouse.

"Foi uma brincadeira no filme porque eu fiquei imaginando como seria. Em Ibiza já tem tanta gente e tem uma coisa muito alegre na Argélia. É um sonho um pouco absurdo, mas prometo colocar vocês na lista de convidados", brinca.

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