Campanhas de prevenção da Aids desaparecem do espaço público e prejudicam informação dos jovens
Profissionais que trabalham com a prevenção da Aids na França estão preocupados com a redução das campanhas de informação sobre o vírus HIV, principalmente entre os jovens.
A maior ONG francesa de prevenção contra a Aids, chamada Sidaction, começou nesta sexta-feira (21) três dias de coleta de doações para financiar a pesquisa de tratamentos contra o vírus HIV. Para essa campanha anual, que já acontece há 31 anos, a associação publicou um estudo atualizado sobre o grau de informação e conhecimento da população sobre a Aids. Os resultados surpreenderam.
O estudo revelou que 42% dos jovens franceses na faixa etária de 15 a 24 anos ainda acreditam que a Aids pode ser transmitida pelo beijo; 40% acham que existe uma vacina contra o HIV; 78% acreditam que uma pessoa que fez um tratamento antirretroviral eficaz continua a transmitir o vírus, o que cientificamente não é mais o caso com o avanço dos novos tratamentos. Sem falar nos jovens que acham que a pílula do dia seguinte, para evitar uma gravidez indesejada, também protege contra o HIV.
Enfermeiras que trabalham em escolas de ensino médio e fazem parte da rede de prevenção e educação para o uso de contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis (DST) dizem que os distribuidores automáticos de preservativos, instalados nos colégios franceses a partir do ano 2000, não têm sido mais reabastecidos. Muitos ficam vazios, outros escondidos atrás de paredes, onde muitos alunos sequer sabem que existem.
Falta educação nas escolas
Pais de estudantes têm reclamado que os filhos não são mais sensibilizados no ambiente escolar sobre o uso da camisinha, que ainda é o método mais simples e eficaz contra as DST, principalmente no início da vida sexual. Não se vê mais cartazes de prevenção contra a Aids nos banheiros, como se via dez anos atrás.
Segundo a pesquisa feita pela ONG Sidaction, a maioria dos jovens de 15 a 24 anos não sabe sequer onde fazer um teste de diagnóstico do HIV, sendo que o exame é gratuito em qualquer laboratório da França, sem necessidade de pedido médico.
Médicos do trabalho também constatam o mesmo relaxamento do Estado nas campanhas de prevenção para adultos. É como se a Aids tivesse se tornado invisível no espaço público.
De acordo com os dados de 2023, ano do último levantamento do Ministério da Saúde francês, 5.500 novos soropositivos foram diagnosticados. O público que mais sofreu contaminação foi o de homens heterossexuais com idades acima de 50 anos. Estudos qualitativos mostram que muitos se infectaram depois de uma separação, por falta de informação e descuido na prevenção.
A França tem atualmente 200.000 pessoas que vivem com o HIV e 10.000 que são provavelmente portadoras do vírus e não sabem.
Ativistas notam que entre alguns grupos da população, como entre homossexuais, o relaxamento com a prevenção está relacionado com o avanço dos tratamentos, com o fato de a medicina ter conseguido reduzir as mortes por Aids. Voluntários que vão a bares e clubes distribuir preservativos conversam com os frequentadores sobre o assunto.
Profilaxias pré e pós-exposição
Eles notam que desde o aparecimento de antirretrovirais que podem ser tomados de 2 a até 72 horas após a exposição de risco para impedir a infecção (Profilaxia Pós-Exposição, PEP) e também o uso regular de medicamentos pelos grupos considerados de alto risco, que conseguem prevenir a infecção pelo HIV (Profilaxia Pré-Exposição, PrEP), caiu bastante o uso do preservativo.
Voluntários da Sidaction dizem que voltou a ser frequente, mesmo para uma relação sexual ocasional, a pessoa dizer "se meu parceiro não quiser usar o preservativo, eu não insisto" ou "preservativo incomoda, diminui o prazer, não uso mais", argumentos que só voltaram a ser citados pela proteção oferecida pelos antirretrovirais.
Apesar do sucesso desses tratamentos, na França eles são mais acessíveis nas grandes cidades. Quem vive em zona rural ou num deserto médico não tem essa facilidade de acesso.
Outro ponto, segundo o Ministério da Saúde francês, que reembolsa esses antirretrovirais desde 2016, é que só 4,6% das mulheres adotavam esses tratamentos preventivos em 2023, e entre os imigrantes que beneficiam de um Auxílio Médico do Estado (AME), o acesso à PEP e à PrEP era de 0,1%.
Epidemia pode voltar com força
As autoridades francesas estão preocupadas com o impacto dos cortes do governo de Donald Trump na área da saúde. A decisão do republicano de suspender a ajuda externa dos Estados Unidos já interrompeu "substancialmente" o fornecimento de tratamentos para o HIV em vários países da África, no Haiti, na Ucrânia, entre outros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É um retrocesso que pode apagar 20 anos de progresso da ciência nessa área.
Mais do que nunca, o preservativo vai continuar a ser o meio mais barato, de fácil acesso e seguro contra doenças sexualmente transmissíveis, que não deve desaparecer do conjunto de medidas de prevenção contra o HIV.