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'Violentamente antiamericano': Brizola é citado em arquivos sobre Kennedy

do UOL

Do UOL, em São Paulo

21/03/2025 05h30

Os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos quebraram o sigilo e tornaram públicos documentos relacionados ao assassinato de John F. Kennedy, que presidiu o país de 1961 a 1963, ano em que foi morto. O Brasil e o ex-governador Leonel Brizola (1922-2004) são citados em alguns registros.

Por que Brizola é citado?

O político brasileiro estava envolvido na sucessão de poder no Brasil. Após a renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961, Brizola —então governador do Rio Grande do Sul— passou a comandar esforços para a mudança no cargo, que foi assumido pelo seu cunhado João Goulart no mês seguinte. Jango, como era conhecido, foi deposto no golpe militar de 1964.

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John Kennedy indagou sobre a possibilidade de derrubar Jango. Em uma reunião na Casa Branca, ele perguntou ao embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, se os Estados Unidos poderiam "intervir militarmente" no país para depor o presidente João Goulart. A gravação veio à tona em 2014 no site Arquivos da Ditadura.

Arquivos sobre assassinato de John Kennedy citam Brizola - Arquivos Nacionais dos Estados Unidos - Arquivos Nacionais dos Estados Unidos
Arquivos sobre assassinato de John Kennedy citam Brizola
Imagem: Arquivos Nacionais dos Estados Unidos

Os EUA temiam o avanço do comunismo no Brasil e espionaram políticos, inclusive Brizola. Um dos documentos com investigações da CIA, a agência de inteligência americana, fala em "subversão cubana na América Latina" em diferentes países, como Argentina, Bolívia, Costa Rica e Brasil. O texto afirma que "o ex-embaixador cubano descreveu privadamente Brizola como tendo as melhores perspectivas para iniciar uma revolução de estilo Castro [Fidel Castro, político cubano] no Brasil".

O arquivo de junho de 1964 diz:

Antes da derrubada do presidente Goulart, Cuba estava envolvida em um esforço subversivo ativo no Brasil, fornecendo fundos, treinamento de guerrilha e apoio de propaganda a grupos comunistas e pró-comunistas. Operando principalmente por meio de sua embaixada no Rio de Janeiro, Havana colaborou estreitamente com as Ligas Camponesas de Francisco Julião no nordeste do Brasil e com Leonel Brizola, o cunhado violentamente antiamericano de Goulart.
Arquivo da CIA, revelado pelos EUA

Arquivos sobre assassinato de John Kennedy citam Brizola - Arquivos Nacionais dos Estados Unidos - Arquivos Nacionais dos Estados Unidos
Arquivos sobre assassinato de John Kennedy citam Brizola
Imagem: Arquivos Nacionais dos Estados Unidos

Cuba teria enviado dinheiro ao Brasil para ajudar Brizola, segundo a CIA. Uma fonte disse que cerca de dez dias antes do início da derrubada de Goulart, "Havana enviou dinheiro ao Brasil em um esforço para reforçar as forças de Brizola". O trecho também está em um dos documentos revelados pelos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos.

Outro documento, de 1961, diz que Cuba e China ofereceram ajuda ao Brasil. O líder chinês Mao Tsé Tung e o cubano Fidel Castro propuseram "apoio material, incluindo 'voluntários, a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, que liderava a luta no Brasil para assegurar a sucessão à presidência do vice-presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros".

Mas Brizola recusou a oferta. Segundo a investigação, "embora apreciasse o apoio moral", o então governador "não queria criar um caso internacional sobre a crise política do Brasil". Um comentário sobre o caso, sem identificação, diz que "Brizola obviamente estava com medo de que, se as ofertas fossem aceitas, os Estados Unidos poderiam intervir". É informado também que a oferta de ajuda de Castro vazou para a imprensa, mas a de Mao, não.

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