Txai Suruí e mais 23 ativistas são candidatos a 'jovem campeão' da COP30
A presidência da COP30 deve definir até o final da semana quem vai representar a conferência junto à juventude. Após analisar 154 inscrições, com maioria feminina (62%), a Secretaria Nacional de Juventude, parte da Secretaria-Geral da Presidência da República, divulgou a lista de 24 candidaturas habilitadas para o posto, com idades entre 18 e 35 anos. A lista inclui algumas das principais lideranças do ativismo climático no Brasil, como Txai Suruí, Paloma Costa, Beatriz Azevedo de Araújo e Marcele de Oliveira.
Txai Suruí foi a primeira indígena a discursar na abertura de uma COP do Clima, em 2021, quando se tornou conhecida pelo Brasil e pelo mundo, acumulando milhares de seguidores nas mídias sociais — e também passando a sofrer mais ataques e ameaças. Filha de duas lideranças indígenas, o cacique Almir Suruí e a indigenista Neidinha Suruí, Txai atua em Rondônia na organização Kanindé e coordena o Movimento da Juventude Indígena.
Outra candidata de expressão junto à ONU é a advogada Paloma Costa. Em 2019, ela discursou ao lado de Greta Thunberg para chefes de Estado na sede da ONU, em Nova York. No ano seguinte, foi escolhida, junto a outros seis jovens de todo o mundo, para o conselho consultivo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Já a cearense Beatriz Azevedo de Araújo foi premiada pela ONU pelo seu trabalho no combate à desertificação. No ano passado, recebeu o prêmio UNCCD Land Heroes - que significa "heróis da terra" em inglês. Advogada e ativista, fundou o instituto Verdeluz, que trabalha pela conservação da Caatinga.
Também da região Nordeste, a candidata Mikaelle Farias mora em João Pessoa e despertou para o ativismo ambiental por conta do vazamento de óleo no litoral nordestino em 2019. Ela fundou o Palmares Lab-Ação, que desenvolve tecnologias para a justiça climática.
Para a ativista Marcele de Oliveira, a participação da juventude nas negociações do clima é uma prioridade. Ela cobrou diretamente do presidente Lula, durante uma reunião com as ONGs na COP28 do Clima, em Dubai, a necessidade de criação de um conselho da juventude para o clima e também questionou os planos de expansão da exploração petrolífera — o que levou Lula a se posicionar sobre a adesão do Brasil ao fórum da Opep+, que reúne grandes produtores de petróleo.
A lista conta ainda com lideranças como Mahryan Sampaio Rodrigues, embaixadora da juventude da ONU, e Catarina Lorenzo, que apresentou, junto a Greta Thunberg e outros quinze jovens, uma queixa ao Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas para protestar contra a falta de ação governamental sobre a crise climática. A relação completa das 24 candidaturas está disponível aqui.
Sem remuneração, o posto de 'jovem campeão' (tradução livre do termo em inglês youth champion) prevê a promoção da participação da juventude na COP30, o que também deve implicar uma mediação junto à presidência da COP sobre demandas da juventude para as negociações climáticas.
A decisão de eleger uma liderança jovem para a COP foi assinada em 2023, na COP28, em Dubai, com a intenção de aumentar o engajamento da juventude nos processos de negociação climática.
Jovens brasileiros têm marcado presença nas COPs do Clima na última década, com delegações encabeçadas por organizações como Engajamundo e Fridays for Future Brasil. Esses grupos se dividem entre a atuação nos bastidores, junto a diplomatas, e os protestos públicos, com marchas e cartazes.
Após três edições consecutivas em países sob regimes autoritários - Egito (2022), Emirados Árabes Unidos (2023) e Azerbaijão (2024) - a preparação para a 30ª edição da COP acontece sob a expectativa de maior participação pública de ativistas climáticos de todo o mundo.
No Brasil, a aposta de boa parte das ONGs e movimentos sociais é influenciar a agenda da presidência da COP ao longo do ano. Por isso, a escolha de uma figura que represente fielmente um setor pode definir o nível de alinhamento da sociedade com a COP30, ainda durante o preparo da conferência.
Além do jovem campeão, a presidência da COP30 deve escolher ainda uma figura mais antiga e tradicional das COPs do Clima: o High-Level Champion, responsável pela mediação com o setor privado.
Sem edital de chamamento, a nomeação deve ser feita a partir de indicações de lideranças de setores econômicos relevantes para o clima, como o agronegócio e o setor energético. Um dos favoritos para o cargo é Marcello Brito, que foi presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e secretário-executivo do Consórcio da Amazônia. Até o momento, a presidência da COP30 não sinalizou um prazo para a escolha, tradicionalmente feita no início do ano de cada COP.