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Primeira bicicleta elétrica sem bateria dispensa uso do lítio, metal raro pouco reciclável

20/03/2025 12h53

O uso da bicicleta se tornou um ícone da vida sintonizada com boas práticas ambientais. Entretanto, nas ruas de grandes metrópoles, como Paris, os modelos elétricos, de calibres cada vez maiores virou norma - alimentando a dependência de energia e metais raros, necessários para a sua fabricação.

O engenheiro francês Adrien Lelièvre, doutor em engenharia industrial, não se conforma com o que tem visto nas grandes cidades e desenvolveu a primeira bicicleta elétrica sem bateria a lítio.

"A bicicleta é um símbolo da transição energética, mas em vez de ir no sentido da sobriedade de materiais, a indústria das bicicletas foi na direção de copiar o modelo do carro, acrescentando mais uso de energia para se desenvolver", constata. "As bicicletas foram transformadas em scooters leves, pilotadas por pedais. Isso as afasta do seu DNA, que é não apenas ter duas rodas e pedais, mas serem movidas à energia muscular." 

Na Pi Pop, marca pioneira francesa, são as pedaladas do ciclista que geram a energia, armazenada em "supercondensadores" instalados na traseira da bicicleta, onde também fica o motor. Quando mais leve for o ciclista e mais plano o trajeto, mais Wh (Watts/hora) eles são capazes de estocar.

"Eles carregam bem mais rápido e podem recuperar a energia da freada, ao contrário das baterias, que quando recebem muita carga, estragam. Na Pi Pop, o primeiro freio que se ativa é o freio-motor: em vez de gastar energia com as pressões exercidas pelos freios mecânicos, ela converte em eletricidade a energia sintética das rodas girando e a estoca nos supercondensadores - não por reações químicas, como as baterias, mas por eletrostática", explica o CEO.  

Simultaneamente, a assistência elétrica é dispensada nas partes mais duras do trajeto, como a largada e as subidas, ou quando o usuário quer aumentar a sua velocidade, no limite de 25km/h. Outra grande diferença em relação às bicicletas elétricas convencionais é que a sua autonomia é ilimitada - à condição que o ciclista continue pedalando regularmente.

Reciclagem garantida

Os supercondensadores são fabricados com apenas três componentes, todos recicláveis, explica o chefe de projeto Martin Weissmann, doutor em química e estocagem de energia. "É feito com materiais relativamente simples: carbono, alumínio e papel. O lado um pouco rudimentar desta composição faz com que seja fácil de reciclar depois", salienta. 

Não é o caso do lítio, metal raro essencial para a fabricação das baterias que sustentam a eletrificação das economias, de bicicletas e aeronaves. Adrien Lelièvre ressalta que elas se generalizaram, mas criam dependência de matérias-primas críticas e mantêm a curva do consumo de energia cada vez mais para o alto.

"O lítio traz problemas ligados à sua extração do solo, à sua duração, de apenas três a cinco anos, ao fato de não ser reciclável e também por gerar problemas de saúde, afinal temos visto cada vez mais explosões com baterias de lítio, que os bombeiros têm dificuldades de controlar", lembra ainda o CEO.  

Uso nas cidades planas

A fabricante tem sede em Olivet, a 140 quilômetros de Paris, e desenvolve unidades sob encomenda, a valores semelhantes aos dos melhores modelos elétricos no mercado. Em uma cidade plana como a capital francesa, a Pi-Pop se mostra ideal, testemunha a usuária Marianne Hervé.

A engenheira percorre 18 quilômetros por dia de bicicleta, no trajeto entre a casa e o trabalho, e optou pelo modelo sem bateria.

"Não preciso carregá-la na tomada, nunca. De manhã eu simplesmente pego a bicicleta e vou. Isso é muito prático", atesta. "Ela se carrega enquanto eu ando e me ajuda nas partes mais difíceis, então não chego suada no trabalho. Decidi pegar este modelo porque não tem lítio, então é melhor para o meio ambiente", afirma, à emissora Franceinfo.

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