Pesquisador francês é expulso dos EUA por opiniões pessoais sobre política americana
Os Estados Unidos negaram acesso ao país a um pesquisador francês e a proibição preocupa Paris, que teme a abertura de um precedente para outros casos. O governo francês lamentou na quarta-feira (19) a recusa de entrada nos EUA e a posterior expulsão do professor que viajou ao país para participar de uma conferência. A justificativa das autoridades americanas para negar a sua entrada é o fato de ele ter expressado uma "opinião pessoal" sobre a política americana em relação à pesquisa científica.
O pesquisador barrado nos EUA trabalha para o CNRS (Centre national de la recherche scientifique), o maior órgão público de pesquisa científica da França e uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo.
O caso chamou atenção do ministro do Ensino Superior e Pesquisa francês, Philippe Baptiste. "Soube com preocupação que um pesquisador francês em missão para o CNRS, que viajava para uma conferência perto de Houston, foi impedido de entrar nos Estados Unidos, antes de ser expulso", disse Baptiste um comunicado enviado à AFP. "Essa ação foi aparentemente tomada pelas autoridades dos EUA porque o telefone do pesquisador continha trocas de mensagens com colegas e amigos, nas quais ele expressava uma opinião pessoal sobre a política de pesquisa do governo Trump", acrescentou.
"Liberdade de opinião"
"Liberdade de opinião, livre pesquisa e liberdade acadêmica são valores que continuaremos a defender com orgulho", continuou o ministro. "Defenderei a possibilidade de todos os pesquisadores franceses serem fiéis a ela, dentro da lei", enfatizou Philippe Baptiste.
Ao mesmo tempo, o governo francês lembra que os Estados Unidos são "soberanos" em matéria de entrada e permanência de estrangeiros em seu território e especifica que "os serviços consulares franceses foram informados".
No entanto, o Ministério das Relações Exteriores da França "deplora esta situação" e reitera o seu "desejo de promover a liberdade de expressão", bem como o compromisso do governo francês "com a cooperação acadêmica e científica".
De acordo com uma fonte diplomática, o incidente ocorreu no dia 9 de março. O pesquisador espacial teria passado por uma verificação aleatória na chegada ao aeroporto, durante a qual o seu computador de trabalho e o seu telefone pessoal foram revistados. Ainda segundo a mesma fonte, teriam sido encontradas mensagens discutindo o tratamento dado aos cientistas pelo governo Trump.
O pesquisador francês teria sido acusado de mensagens "que refletem ódio contra Trump e que podem ser descritas como terrorismo". Seu equipamento profissional e pessoal teria sido confiscado, antes de o professor ser enviado de volta à Europa, em 10 de março.
"Acusações foram retiradas"
De acordo com outra fonte informada sobre o caso, o francês foi acusado de "mensagens conspiratórias e de ódio". O professor teria sido informado de uma investigação do FBI, o Departamento Federal de Investigação americano, cujas "acusações foram retiradas", continuou a fonte.
Contactada pela AFP, a Embaixada dos EUA em Paris, encaminhou o assunto aos serviços alfandegários. A Alfândega americana, ao ser procurada, não respondeu imediatamente.
Este incidente ocorre no momento em que Donald Trump faz uma série de anúncios chocantes direcionados à comunidade científica. Desde o seu retorno à Casa Branca, o republicano prometeu cortes brutais no orçamento, censura de certos assuntos em pesquisas subsidiadas, entre outras medidas.
Na França, cientistas renomados se mobilizaram em apoio ao colega.
(Com RFI e AFP)