Ministro anuncia criação de poupança popular para financiar indústria da defesa francesa
O governo francês se mobiliza para que a população invista em produtos financeiros especialmente criados para apoiar o rearmamento do país, para evitar, no futuro, uma guerra com a Rússia. O ministro da Economia, Éric Lombard, anunciou nesta quinta-feira (20) a criação de um produto de poupança, por meio do qual os cidadãos poderão financiar empresas do setor de defesa, o que deverá gerar € 450 milhões, cerca de R$ 2,7 bilhões.
Em entrevista ao canal TF1, o ministro explicou que essa poupança será lançada pelo banco público de investimentos Bpifrance. O depósito mínimo inicial será de € 500, cerca de R$ 3 mil, e terá uma remuneração maior do que produtos similares existentes. Os recursos ficarão bloqueados "por pelo menos cinco anos", disse o ministro. "É capital empresarial, leva tempo para as empresas crescerem" antes de sacar o dinheiro investido, explicou Lombard. Ele acrescentou que os bancos privados também lançarão produtos focados no fortalecimento da indústria de defesa.
No mês passado, o serviço de inteligência dinamarquês acendeu o alerta ao afirmar que a Rússia poderia começar uma guerra em larga escala com a Europa em cinco anos se Moscou considerar que a Otan está militarmente enfraquecida ou politicamente dividida. Em seguida, a Comissão Europeia declarou que a Europa precisaria estar pronta para dissuadir potenciais invasores até 2030.
Para estar pronta para se defender contra agressões externas dentro de cinco anos, o bloco incentivará a compra de equipamentos fabricados em seu território. Nesse contexto, a França é o país com a indústria de defesa mais avançada.
Industriais de defesa franceses estão em busca de € 5 bilhões de investimento privado, o equivalente a R$ 30 bilhões aproximadamente, para financiar a produção de novos aviões de caça Rafale, tanques de guerra, mísseis e munições. A maior parte do investimento necessário virá do orçamento do Estado, com um montante estimado em € 100 bilhões por ano (R$ 614 bilhões no câmbio de hoje).
A constatação é de que desde o fim da Guerra Fria (1947 a 1991), os investimentos em defesa recuaram na Europa. Agora, com a guinada geopolítica do presidente americano, Donald Trump, e sua inversão de alinhamento estratégico favorável a Moscou, os europeus terão de assumir sua própria segurança. No início de março, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, no qual afirmou que não era mais possível confiar na Rússia.
Guerra híbrida
Os estoques de munição e peças de reposição devem ser reabastecidos. A França, protegida por sua dissuasão nuclear, não considerou necessário reforçar seu escudo antimísseis. Neste segmento, o governo francês apoia o projeto europeu Elsa, para ataques de longo alcance, e gostaria de convencer seus parceiros a investir nos sistemas SAMPT NG, o sucessor do sistema de defesa terra-ar SAMPT.
Os investimentos em defesa cibernética e equipamentos espaciais também foram identificados como prioridades. O ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, tem sublinhado que os meios de guerra híbrida utilizados pela Rússia não são cobertos pela dissuasão nuclear. Operações de influência e ataques cibernéticos exigem uma resposta diferente e poucas nações na Europa têm capacidades confiáveis nessa área, reporta o jornal Le Figaro. A França também pretende investir em recursos de inteligência artificial que podem fazer a diferença.