Entidades repudiam perseguição e exposição de dados de jornalista do UOL
Entidades de defesa da liberdade de expressão e do combate à corrupção repudiaram hoje a perseguição e a exposição de dados pessoais do jornalista e colunista do UOL Thiago Herdy, em um site apócrifo publicado na plataforma Wix.
Retirado do ar pela própria plataforma, o site trazia registros fotográficos da rotina do repórter, dados sigilosos de seu Imposto de Renda e informações falsas a respeito das motivações de seu trabalho como jornalista.
O texto menciona reportagens produzidas em parceria com outros jornalistas do UOL sobre indícios de irregularidades em contratos emergenciais assinados durante a primeira gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
"A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) manifesta seu extremo repúdio ao caso, que se revela uma grave tentativa de intimidar e censurar o trabalho do jornalista, quando ele cumpria sua missão de investigar o uso de recursos públicos", escreveu a diretoria da entidade, em nota oficial.
Para a Abraji, "é urgente que as autoridades públicas investiguem o caso, identifiquem os mandantes da estratégia de perseguição e façam cessar as ameaças sofridas pelo repórter", registrou.
Para a presidente da Abraji, Katia Brembatti, o caso deve ser tratado como um ataque ao trabalho da imprensa.
"Não se trata de algo pessoal, mas da divulgação de informações de um profissional, com claro interesse de provocar reações, como atrapalhar sua rotina e o expor a ameaças", disse a jornalista, para quem é preciso identificar e punir tanto os responsáveis quanto os financiadores do site com conteúdo intimidatório.
O CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) emitiu um alerta pedindo às autoridades brasileiras que "investiguem rápida e exaustivamente o vazamento de informações pessoais e fotos do jornalista do UOL Thiago Herdy após a publicação pelo portal de uma série investigativa sobre indícios de irregularidades em contratos de obras emergenciais no município de São Paulo".
"Está claro que postar detalhes da vida privada de Thiago Herdy em um site anônimo tinha a intenção de intimidá-lo por seu trabalho investigativo", disse a coordenadora do programa América Latina do CPJ, Cristina Zahar.
"As autoridades devem investigar imediatamente para identificar e responsabilizar os responsáveis", completou.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgaram nota conjunta classificando a ação criminosa como "uma grave ameaça ao exercício da profissão, à liberdade de imprensa e à democracia".
"É inaceitável essa prática de intimidação do profissional, que foi perseguido em diversos momentos", escreveram as entidades.
"O SJSP e a Fenaj repudiam essa ameaça e esse ataque ao jornalista e exigem uma rápida apuração por parte das autoridades competentes, como a Polícia Civil, para identificar os criminosos e levá-los à Justiça", escreveram.
Em nota, o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas manifestou "repúdio à exposição ilegal de informações pessoais e sigilosas do jornalista" e exigiu das autoridades "investigação e responsabilização dos envolvidos nesse gravíssimo ataque ao espaço cívico".
"A divulgação dos seus dados configura uma séria violação de direitos e uma tentativa de intimidação, claramente motivada por seu trabalho jornalístico".
Segundo representantes do Fórum, a remoção do site "não apaga a gravidade dos fatos" e, por isso, "é fundamental que as autoridades investiguem a origem desses ataques, responsabilizem os envolvidos e garantam a proteção do jornalista e de seus familiares".
Ainda de acordo com a entidade, práticas como esta "representam uma ameaça à liberdade de imprensa e ao direto da sociedade à informação, o que fragiliza os valores democráticos da maior cidade do país".
O diretor-executivo do escritório brasileiro da ONG Transparência Internacional, Bruno Brandão, classificou como "extremamente graves as ações contra o jornalista do UOL e sua família, em clara e covarde retaliação contra suas reportagens investigativas".
Brandão diz que as reportagens "revelam fortíssimos indícios de corrupção na Prefeitura de São Paulo" e que a Transparência Internacional "reforçará seu apoio e visibilidade ao trabalho do repórter e colunista do UOL".
A organização pedirá a autoridades "uma investigação aprofundada e livre de interferências, para identificar e punir os criminosos que tentaram difamar Herdy".
"O jornalismo investigativo é elemento chave do combate à corrupção, e seu livre exercício é pilar central de qualquer democracia", concluiu Brandão.
O Inac (Instituto Não Aceito Corrupção) classificou a publicação do site como "um ato de retaliação" pelo trabalho do jornalista sobre indícios de corrupção no âmbito do município de São Paulo.
"A liberdade de imprensa é garantia fundamental com a qual não se transige, assim como o direito de acesso à informação, do qual o jornalista é o instrumento fundamental numa democracia, onde impera o princípio da publicidade", registrou em nota a diretoria executiva e o Conselho Superior do instituto.
Para a organização, são "inconcebíveis" os fatos noticiados pelas reportagens do UOL, "que merecem imediatas e rigorosas apurações por parte do Ministério Público e da própria Controladoria-Geral do Município".
Em nota, o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas manifestou "repúdio à exposição ilegal de informações pessoais e sigilosas do jornalista" e exigiu das autoridades "investigação e responsabilização dos envolvidos nesse gravíssimo ataque ao espaço cívico".
"A divulgação dos seus dados configura uma séria violação de direitos e uma tentativa de intimidação, claramente motivada por seu trabalho jornalístico".
Segundo representantes do Fórum, a remoção do site "não apaga a gravidade dos fatos" e, por isso, "é fundamental que as autoridades investiguem a origem desses ataques, responsabilizem os envolvidos e garantam a proteção do jornalista e de seus familiares".
Ainda de acordo com a entidade, práticas como esta "representam uma ameaça à liberdade de imprensa e ao direto da sociedade à informação, o que fragiliza os valores democráticos da maior cidade do país".
Prefeito diz que caso precisa ser investigado
Durante agenda pública na manhã desta quinta-feira (20), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que não sabia que o jornalista havia sido perseguido e tido seus dados expostos na internet.
"Se isso aconteceu, eu acho que a gente precisa ser solidário, estou sabendo disso agora aqui por você. (...) Ser solidário e não admitir e não permitir em nenhuma hipótese que qualquer tipo de pessoa persiga, ainda mais jornalista no exercício de seu trabalho", afirmou o prefeito.
Para Nunes, se confirmado o episódio, trata-se de "um ato criminoso". "A polícia tem que investigar e punir, evidentemente", afirmou.
O site com conteúdo intimidatório menciona reportagens publicadas pelo jornalista e colegas do UOL sobre indícios de contratos emergenciais da prefeitura de São Paulo.
E traz dados falsos sobre a motivação das reportagens publicadas sobre o caso.
"Thiago Herdy tinha uma missão a cumprir. Seu alvo? A gestão municipal de São Paulo", escrevem os autores do texto, não identificados.
Ainda assim, o prefeito disse entender que não há relação entre o episódio e sua administração.
"Não vejo relação com minha administração, isso não tem o menor sentido", afirmou.
O deputado federal e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), escreveu em seu perfil da rede social X que a exposição da rotina do jornalista é fato "gravíssimo".
"Minha solidariedade a Herdy. Essas ameaças são inaceitáveis e precisam ser apuradas", escreveu o deputado.
Também no X, a vereadora Amanda Paschoal (PSOL) escreveu que "a liberdade de imprensa é um direito fundamental, e precisa ser protegida de forma ativa pelo poder público contra ameaças e tentativas de cerceamento".
Para ela, "se faz urgente uma manifestação de Nunes e do governador Tarcísio de Freitas".
"Precisamos saber: São Paulo é uma cidade segura para seus jornalistas? São Paulo protegerá o direito de repórteres investigarem o próprio prefeito?", escreveu.