Governo trabalha com setor privado para tentar reverter taxas dos EUA sobre aço, diz Lula
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro trabalha junto com o setor privado para tentar reverter as sobretaxas aplicadas pelos Estados Unidos às exportações de aço e alumínio do Brasil para os EUA, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista publicada nesta quarta-feira, acrescentando que as tarifas não são boas para nenhum dos lados.
"Para produzir aço aqui, importamos carvão siderúrgico dos EUA. A indústria norte-americana, por sua vez, depende de nosso aço semiacabado. Não há por que atrapalhar essa relação que funciona tão bem. Por isso, estamos trabalhando em conjunto com o setor privado para mostrar que essas medidas precisam ser revertidas e que a razão deve voltar a falar mais alto", disse Lula em entrevista por e-mail ao jornal O Povo, de Fortaleza.
Desde o dia 12 deste mês os Estados Unidos passaram a aplicar uma tarifa de 25% sobre todo aço e alumínio que chega ao país. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, ficando atrás apenas do Canadá.
O governo brasileiro abriu uma rodada de negociações que começou com uma conversa entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick.
Na última sexta-feira, foi feita uma primeira reunião técnica com os Estados Unidos, e outras ainda vão ser marcadas. Até o momento, não houve avanços. O governo brasileiro pediu o adiamento da aplicação da medida, mas não foi atendido. A intenção do Brasil é que os norte-americanos voltem a estabelecer cotas de importação sem tarifa, modelo que funcionou até este ano.
"Taxar o aço e o alumínio, na forma como isso foi feito pelos Estados Unidos, não traz nada de bom para ninguém. Nosso governo considera essa uma medida equivocada e injustificada, pois afeta tanto as empresas daqui como as de lá, que trabalham há décadas em uma relação de parceria e complementaridade", disse Lula na entrevista.
O presidente complementou que o governo brasileiro está avaliando o que mais pode ser feito, inclusive admitindo a possibilidade de o Brasil recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Apesar de já ter falado em retaliação, a posição do governo brasileiro é de ter calma e esperar o resultado das rodadas de negociações. Se não tiver resultado, a reciprocidade deve ser adotada, mas ainda não há uma decisão sobre onde o Brasil pode retaliar.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)