Fed mantém taxas de juros, mas revisa previsões para crescimento e inflação nos EUA
O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve suas taxas de juros inalteradas nesta quarta-feira (19), conforme esperado pelo mercado, mas alertou para uma maior "incerteza" no país e revisou suas previsões sobre o crescimento e a inflação.
Dois meses após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, o Fed manteve suas taxas entre 4,25%-4,50%.
Porém, "a incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou", afirmou o comunicado do banco central americano.
Em uma coletiva de imprensa após a divulgação da nota, o presidente do Fed, Jerome Powell, esclareceu que essa incerteza é "incomumente alta".
Nesse contexto, o Fed reduziu sua previsão de crescimento para 2025 para 1,7% e elevou a projeção de inflação para 2,7%. Anteriormente, previa um crescimento de 2,7% para este ano e uma inflação de 2,5%.
A projeção para o desemprego também foi revisada, passando de 4,3% para 4,4%.
Após a reunião do Fed, considerada sem surpresas, a bolsa de Nova York fechou em alta.
"Todo mundo sabia que não haveria um corte nas taxas", disse o economista da Moody's Analytics, Matt Colyar. "O que mudou foi o tipo de ambiente econômico (...) sobretudo devido a políticas caóticas provenientes de Washington", explicou.
O índice industrial Dow Jones subiu 0,92%, para 41.964,63 pontos, o tecnológico Nasdaq avançou 1,41%, para 17.750,79 unidades, e o índice ampliado S&P 500 teve alta de 1,08%, alcançando 5.675,29 pontos.
- Efeito das tarifas -
Powell afirmou que a inflação começou a subir nos Estados Unidos em parte devido às recentes tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
"Claramente, parte [da inflação], uma boa parte, vem das tarifas", declarou o presidente do Fed, acrescentando que "pode haver um certo atraso em um maior aumento" inflacionário no restante do ano.
Trump reagiu à decisão durante a noite e exigiu que o Fed reduza as taxas para ajudar a compensar os efeitos de suas políticas tarifárias.
"Façam a coisa certa", escreveu o magnata em sua rede Truth Social. "Para o Fed seria MUITO melhor CORTAR AS TAXAS, já que as tarifas dos EUA começam a fazer a transição (facilitando) em seu caminho para a economia", postou.
Powell também alertou que, nesse contexto, o risco de recessão nos Estados Unidos aumentou, mas não é elevado.
"Se voltarmos dois meses, as pessoas diziam que a probabilidade de uma recessão era extremamente baixa. Então, ela aumentou, mas não é alta", declarou.
Na Casa Branca, o diretor do Conselho Econômico Nacional de Trump, Kevin Hassett, afirmou que apenas em 2 de abril haverá "total clareza" sobre os produtos que serão afetados pelas tarifas, referindo-se à data escolhida por Trump para implementar a totalidade desses impostos.
- "Catástrofe" -
Desde a última reunião do Fed, em janeiro, que também manteve as taxas, o panorama mudou significativamente.
As empresas enfrentam novos aumentos de tarifas, os consumidores precisam monitorar os gastos e os investidores duvidam que os Estados Unidos possam sair ilesos das medidas econômicas impostas por Trump.
Além de uma ofensiva tarifária, marcada por reviravoltas constantes, o magnata republicano encarregou o bilionário Elon Musk de cortar postos no governo federal e reduzir gastos.
Até agora, com uma economia em crescimento e uma taxa de desemprego baixa, o Fed concentrou-se na luta contra a inflação, que permanece acima da meta de 2%, situando-se em 2,5% em janeiro, segundo seu índice preferido, o PCE.
No entanto, especialistas preveem um novo aumento da inflação, o que poderia levar a uma alta das taxas de juros. Juros elevados encarecem o crédito, reduzindo o consumo e os investimentos, o que, por sua vez, alivia a pressão sobre os preços. Ao mesmo tempo, os economistas esperam que a economia esfrie, o que poderia pressionar o Fed a reduzir os juros para estimular o crescimento.
Trump tem insistido na necessidade de um corte nos juros.
O status quo "é a política mais apropriada neste momento, já que não sabemos realmente até onde as tarifas irão e por quanto tempo", disse à AFP o ex-presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, antes do fim do encontro de política monetária de terça e quarta-feira.
As iniciativas do presidente deixaram perplexo até mesmo o economista Michael Strain, do conservador American Enterprise Institute, que apoia vários aspectos do programa republicano.
Agora, ele classifica a gestão econômica do governo como uma "catástrofe".
"Antes era inconcebível que um presidente - incluindo Trump durante seu primeiro mandato - causasse deliberadamente tanto dano à economia", afirmou em seu blog. "Felizmente, ele herdou uma economia sólida", refletiu.
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