Entidades repudiam foto de alunos de medicina: 'Direta apologia ao estupro'
Entidades ligadas aos direitos humanos e equidade de gênero emitiram nota endereçada à reitoria da Universidade Santa Marcelina em tom de repúdio ao ato de alunos da instituição que fizeram apologia à violência sexual e ao estupro durante o Intercalo, competição esportiva universitária realizada no último sábado (15), por calouros de medicina. A Universidade abriu sindicância para apurar o ocorrido.
O que aconteceu
Carta assinada por oito entidades afirma que o episódio ocorrido no final de semana com "apologia direta ao estupro é, incontestavelmente, repugnante". Os grupos ressaltam que esse tipo de comportamento representa "uma gravíssima violação dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana constitucionalmente garantidos em nosso país", além de ser "absolutamente inaceitável para toda sociedade e para toda a comunidade acadêmica".
Documento salienta que o ato praticado por alunos da universidade é crime penalmente tipificado no Brasil. Ainda, destaca que a atitude dos universitários "reforça e contribui, diretamente, para a perpetuação de um ambiente social hostil, violento e discriminatório, especialmente com mulheres, crianças, jovens e demais grupos vulneráveis".
Entidades reforçaram o papel da Universidade na educação de seus alunos e afirma que a instituição "não deve se eximir de sua responsabilidade" e deve investir em campanhas de conscientização para combater a cultura do estupro na sociedade. "É fundamental que todas as universidades, aqui em específico a Universidade Santa Marcelina, tome medidas imediatas e rigorosas contra todo e qualquer ato de apologia a crime, incluindo, mas não se limitando, a uma intensa investigação sobre todos os envolvidos nos acontecimentos, aplicação de sanções em conformidade com o regulamento interno da instituição e em conformidade com a legislação brasileira vigente, incessantes campanhas de conscientização que reforcem os valores de respeito à integridade física, psicológica e moral de todos os indivíduos e oferta de suporte às vítimas de quaisquer formas de violência, assédio ou importunação sexual, procurando sempre zelar por um ambiente seguro e acolhedor".
Na carta, os grupos pedem a exclusão dos alunos que participaram do ato do quadro da Santa Marcelina. "É inadmissível a permanência de pessoas que fazem apologia ao estupro dentro de um sistema de ensino e rechaçamos profundamente a postura conivente da universidade que permitiu que seu ambiente institucional tenha se tornado palco para tais manifestações criminosas".
Requeremos que a administração e todos os responsáveis tomem todas as medidas necessárias e cabíveis para sancionarem de maneira severa, com toda a responsabilização necessária, os envolvidos nos recentes acontecimentos a fim de coibir situações similares. É dever de toda e qualquer instituição de ensino preservar e preparar seus estudantes e futuros profissionais com a máxima observância, obediência e compromisso com os direitos humanos e sociais constitucionalmente garantidos em nosso país.
Assinam a carta o Instituto Lamparina, o Instituto AzMina, o Nem Presa Nem Morta, o Instituto Patrícia Galvão, o CEPIA- Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação Criar Brasil, Associação Gênero e Número, a Anis - Instituto de Bioética e o Grupo Curumim.
Entenda o caso
Membros da Atlética da Santa Marcelina posaram para uma foto segurando uma faixa com a frase: "entra porra escorre sangue". O caso aconteceu antes de uma partida de handebol.
A foto, que circulou em grupos internos da faculdade, gerou indignação entre estudantes e corpo diretivo. Ela também contava com a presença de uma mulher, que supostamente faz parte da Atlética.
A Atlética publicou uma nota oficial atribuindo a confecção da faixa aos calouros. Após repercussões internas, foi publicada uma segunda nota afirmando que o presidente e vice-presidentes da gestão 2025 foram afastados.
Fontes ouvidas pelo UOL afirmam que a Atlética foi responsável pela compra da faixa e pela inscrição da frase. Alunos relataram que a faixa foi feita após um treino de futsal na quinta-feira, 13, com participação direta dos atleticanos.
O Centro Acadêmico Adib Jatene e outras entidades estudantis classificaram o episódio como apologia ao estupro. A frase da faixa, segundo fontes, teria sido inspirada em uma letra de uma música da cantada por alguns dos alunos, que foi banida pela instituição em 2017. A letra fazia apologia à violência sexual e continha expressões explícitas de desrespeito, com versos como "entra porra e sai sangue" e referências à violência sexual contra mulheres. Após denúncia dos coletivos da faculdade, a música foi banida da instituição.
Faculdade promete punição aos responsáveis
A Faculdade Santa Marcelina declarou que "se manifesta veementemente contrária ao ocorrido". A instituição afirmou que os responsáveis serão penalizados conforme a gravidade da infração. As punições podem incluir advertências, suspensão e até expulsão. A faculdade também afirmou que acionou as autoridades competentes para investigarem o caso. O UOL entrou em contato com o Ministério Público. Em caso de retorno, o texto será atualizado.
A Associação Atlética Acadêmica Pedro Vital emitiu uma nota de retratação. Afirmou ainda que não compactua com o conteúdo exposto e que medidas cabíveis estão sendo tomadas. Em uma nova nota, feita na noite da segunda-feira, a Atlética anunciou o afastamento dos atuais presidente e vice-presidente da gestão 2025, além de informar que todos os membros da fotografia enfrentarão as devidas consequências disciplinares.
O Coletivo Feminista Francisca, da faculdade, também se manifestou, no sábado, cobrando um posicionamento mais firme da Atlética. "Os machistas, os misóginos e os patriarcais não passarão enquanto nós estivermos aqui, unidas e prontas para lutar contra qualquer ato que fira a nossa dignidade humana".