Em meio a tensões com a Rússia, França prepara manual de sobrevivência em caso de crise
A França está elaborando um manual para informar seus cidadãos sobre como se preparar e agir em uma situação de "crise". O documento deve ser enviado para a população nos próximos meses, de acordo com fontes do governo francês.
Entre os casos de crise abordados no documento de sobrevivência estariam um acidente industrial, um evento climático grave, um ataque cibernético ou um conflito armado.
No entanto, segundo a Secretaria-Geral de Defesa e Segurança Nacional (SGDSN), responsável pela elaboração da cartilha, citada no jornal Le Figaro na terça-feira (18), este último ponto não deve ser o foco central do documento, apesar de ser lançado em meio a tensões sobre a retirada da ajuda dos Estados Unidos à Ucrânia.
Em 5 de março, Emmanuel Macron fez um apelo à "pátria" para que se "comprometa" diante da "ameaça russa" durante um discurso transmitido pela televisão. Desde então, o governo insiste na necessidade de rearmar a França, assim como vários outros países europeus, como a Alemanha, que votou na terça-feira, um gigantesco plano de investimentos.
Kit de sobrevivência
O guia de vinte páginas, que será finalizado nos próximos meses, será composto de três partes. A primeira, com o título "Protegendo-se", permite "conscientizar a população francesa sobre a noção de solidariedade", diz uma fonte próxima ao projeto. Trata-se de "proteger a si mesmo, mas também proteger as pessoas ao seu redor: família, vizinhos, etc."
O manual também sugere aos leitores que façam um "kit de sobrevivência" para ter em casa em caso de uma crise grave. De acordo com o texto, é recomendável ter pelo menos seis litros de água engarrafada, cerca de dez latas de comida, pilhas e uma lanterna caso falte energia elétrica. O manual também recomenda ao leitor que tenha a mão um pequeno estoque de remédios para dor, compressas e soro fisiológico.
A segunda parte, intitulada "O que fazer em caso de alerta?" diz respeito à conduta a ser adotada em caso de ameaça iminente. São lembrados os números de emergência (bombeiros, polícia, serviços médicos de emergência, etc.) e o procedimento a seguir dependendo do tipo de crise a ser enfrentada. Por exemplo, é recomendável manter as portas de casa fechadas no caso de um acidente nuclear.
A última parte pretende mobilizar os franceses. Com o título "Envolva-se", ela explica como se alistar como reservista.
Suécia distribuiu cartilha similar
No final de 2024, a Suécia enviou cerca de 5 milhões de cartilhas para seus moradores, incentivando os cidadãos a se prepararem para possíveis conflitos armados. Nos manuais, o governo sueco apresenta instruções práticas e relembra o contexto internacional em tom sério: "Vivemos tempos incertos. Conflitos armados estão ocorrendo atualmente em nossa parte do mundo. Terrorismo, ataques cibernéticos e campanhas de desinformação são usados ??para nos minar e influenciar."
A iniciativa francesa, por sua vez, faz parte da estratégia nacional de resiliência que data de abril de 2022, afirma uma fonte governamental. Este plano nacional, desenvolvido após a pandemia da Covid-19, tem como objetivo "preparar melhor a França, suas empresas e seus cidadãos para esses choques, para resistir às crises ao longo do tempo, coletivamente e em profundidade".
A estratégia define 63 ações em torno de três objetivos: preparar o Estado para enfrentar crises, desenvolver meios para lidar com elas e "adaptar a comunicação pública aos desafios da resiliência". No lado militar, o livreto tem como objetivo explicar aos franceses como se proteger e incentivá-los a se envolverem em benefício da comunidade, seja como bombeiros, na reserva militar, na saúde ou mesmo na Segurança Civil.