UE organiza primeira conferência de doadores para Síria após queda de Assad
A União Europeia organiza nesta segunda-feira (17) em Bruxelas a 9ª edição da conferência de doadores sobre a Síria. O encontro está sendo considerado como uma oportunidade para os europeus promoverem a mobilização internacional em apoio ao país, após mais de uma década de guerra.
A coalizão islâmica controlada pelo então líder rebelde Ahmad al-Shareh, em 8 de dezembro, colocou um fim à ditadura da família Assad, que esteve à frente do país por mais de meio século.
Pela primeira vez em nove anos, a conferência terá a presença de membros do novo governo. O ministro das Relações Exteriores sírio, Asaad al-Shaibani, representará seu país em Bruxelas.
"Este ano, é claro, a conferência será diferente", disse um funcionário da UE. "Há uma janela de oportunidades, e temos que aproveitá-la, caso contrário, será tarde demais", acrescentou.
A transição é difícil no país, dividido entre várias comunidades religiosas. Diversos massacres foram cometidos nas últimas semanas - os mais violentos desde a chegada ao poder da coalizão liderada pelo grupo islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Forças de segurança, grupos armados aliados e jihadistas estrangeiros foram responsabilizados pela violência, que deixou quase 1.400 civis mortos. As vítimas fazem principalmente parte da comunidade alauíta, uma das vertentes xiitas do Islã, do ex-presidente Bashar al-Assad.
"Massacre isolado"
Os 27 países da União Europeia, que decidiram rapidamente apoiar a transição na Síria, pretendem tratar o massacre como um "incidente isolado", segundo diplomatas. Os europeus elogiaram a nomeação de uma comissão de inquérito para investigar o caso e disseram que "tudo (deve) ser feito para evitar que tais crimes aconteçam novamente", segundo um comunicado.
"É necessário manter a suspensão das sanções. Isso gera esperança para as pessoas e o caos diminui. Para isso, é preciso que todos os serviços estejam disponíveis, como os bancários, por exemplo", enfatizou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, em sua chegada a Bruxelas.
Mas os países da UE estão prontos para reconsiderar o levantamento gradual das sanções impostas à Síria, decidido no final de fevereiro, em caso de mais violência desse tipo, segundo diplomatas. Na quarta-feira, a França disse que seria contrária ao fim das sanções "se os abusos ficassem impunes".
A Alemanha, por sua vez, anunciou que concederá mais € 300 milhões ajuda ao país. A ONU estima que levaria pelo menos meio século para a Síria retornar à situação econômica em que estava antes da guerra civil, que começou em 2011.
Suspensão da ajuda americana
A conferência de doadores do ano passado mobilizou cerca de € 7,5 mil milhões para a Síria. Mas os esforços para alcançar esse resultado são prejudicados este ano pela decisão dos EUA de suspender sua ajuda internacional.
Os Estados Unidos têm sido, até agora, o país que mais atribui ajuda internacional à Síria, de acordo com a ONU, e enviou participantes para a conferência nesta segunda-feira.
"O sistema geral de ajuda humanitária foi baseado em dois pilares: um muito importante, formado pelos Estados Unidos, e outro pela UE e seus Estados-membros", disse outro funcionário da UE.
Hoje, "um desses pilares foi significativamente reduzido e até desapareceu completamente. Isso implica uma redução nos fundos disponíveis para ajuda humanitária em todo o mundo", disse. Os organizadores da conferência de doadores esperam que os países árabes do Oriente Médio possam compensar a retirada dos EUA.
(Com informações da AFP)