Número de vítimas de bala perdida no Rio aumenta 58% em 2025

Nos primeiros 75 dias deste ano, — de 1º de janeiro a 16 de março — 41 pessoas foram vítimas de bala perdida no estado do Rio de Janeiro. Esse número representa um crescimento de 58% em relação aos 26 casos registrados no mesmo período de 2024.
A comparação faz parte de um levantamento divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Instituto Fogo Cruzado, uma instituição sem fins lucrativos que compila dados de tiroteios e feridos por arma de fogo em diferentes capitais brasileiras.
De acordo com a metodologia do Fogo Cruzado, é considerada vítima de bala perdida a "pessoa que não tinha nenhuma ligação, participação ou influência sobre o evento no qual houve disparo de arma de fogo, sendo, no entanto, atingida por projétil".
O estudo aponta ainda que as 41 vítimas de bala perdida representam 11,5% do total 355 pessoas baleadas no estado em 2025. Os disparos de armas de fogo deixaram, no total, 167 vítimas fatais e 188 feridas.
Entre as vítimas de disparos de arma de fogo estão três crianças, três adolescentes e sete idosos.
O Fogo Cruzado informa também que nove vítimas de bala perdida morreram e 39 ficaram feridas. Esses números também superam os do ano passado, quando, no mesmo período, três baleados morreram e 23 ficaram feridos.
Operações policiais
O Fogo Cruzado colhe e divulga por meio de aplicativo de celular informações sobre trocas de tiro em tempo real - verificadas por analistas. O instituto identificou que 66% das vítimas de bala perdida nos primeiros 75 dias de 2025 foram atingidas durante a realização de operações policiais.
Ao todo, foram contabilizados 27 casos, dos quais sete terminaram com morte.
Já no mesmo período do ano passado, foram dez casos em operações policiais (38%), sendo uma morte e nove feridos.
Casa e escola
Os analistas do Fogo Cruzado detalham que nove pessoas foram atingidas por balas perdidas dentro de casa no estado do Rio de Janeiro em 2025, o que corresponde a 22% do total. Uma delas morreu.
Houve também o caso de uma mulher atingida em uma escola. Alcione da Silva, de 49 anos, foi baleada dentro do campus da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), em Quintino, bairro da zona norte carioca, na última quarta-feira (12).
Ela tinha acabado de deixar o filho na escola e foi atingida de raspão. "No momento em que Alcione foi atingida, havia uma ação policial no Morro do Saçu, no Campinho [bairro vizinho]", frisa o Fogo Cruzado.
A cidade do Rio concentra 34 dos 41 casos de bala perdida em 2025. Os demais se distribuem por outros municípios da região metropolitana: São Gonçalo (4), São João de Meriti (2) e Maricá (1).
Protocolo de enfrentamento
Na avaliação do coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, Carlos Nhanga, a diminuição de casos de baleados passa pelo estado revisar protocolos de enfrentamento à criminalidade.
A polícia do Rio de Janeiro mira no confronto ao invés de buscar por planejamento e inteligência. Há anos, a população permanece refém do medo e de operações policiais que não reduzem a criminalidade e não trazem segurança. O resultado é sempre o mesmo: alto índice de letalidade. A cada três vítimas de balas perdidas mapeadas em 2025 pelo Fogo Cruzado, duas foram atingidas em ações policiais. Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informou que não comenta sobre os dados presentes no relatório, "uma vez que não tem conhecimento sobre a metodologia utilizada para sua coleta".