Membros do Fed preparam novas projeções econômicas com foco em impacto das políticas de Trump
Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - As novas projeções econômicas das autoridades do Federal Reserve fornecerão nesta semana a evidência mais tangível até o momento de como eles veem o provável impacto das políticas do governo do presidente Donald Trump, que têm obscurecido uma perspectiva econômica anteriormente sólida.
Analistas têm reduzido suas expectativas de crescimento dos EUA para este ano, aumentado o risco percebido de recessão e preveem uma inflação mais alta à medida que as novas e rígidas tarifas de importação de Trump são aplicadas, com a previsão de taxas ainda mais amplas no próximo mês.
Partindo do que algumas autoridades chamaram de "ponto ideal" de crescimento estável e riscos equilibrados, cenários mais complicados estão subitamente em jogo com uma sensação crescente de incerteza em relação às previsões e mercados de ações em queda.
Ainda é provável que haja um "pouso suave", com a economia crescendo e a inflação desacelerando para a meta de 2% do Fed, disse Beth Ann Bovino, economista-chefe do U.S. Bank.
"Ainda assim ... estamos começando a ver vários choques. Guerras comerciais, expectativas do consumidor sinalizando temores de recessão e preocupações com a inflação", disse Bovino, com a política monetária do Fed também incerta caso os planos tarifários de Trump reacendam as pressões dos preços.
Esses choques incluem grandes perdas em Wall Street, com o S&P 500 entrando brevemente em uma correção técnica na semana passada com uma queda de 10% em relação à máxima histórica atingida em fevereiro.
Embora as autoridades do Fed normalmente minimizem as oscilações dos preços dos ativos como um fator na formulação da política monetária, movimentos bruscos são registrados, pois podem mostrar tanto uma perda de confiança quanto sinalizar a redução dos gastos dos consumidores.
Espera-se que o Fed mantenha a taxa de juros estável na faixa de 4,25% a 4,50% no final de sua reunião de dois dias na quarta-feira. O nível atual tem sido mantido após um corte em dezembro, quando a projeção mediana dos membros previa dois cortes de 0,25 ponto percentual em 2025; atualmente, operadores preveem três reduções desse tipo.
A expectativa mediana das autoridades em dezembro previa que a economia dos EUA cresceria 2,1% neste ano, com a taxa de desemprego subindo ligeiramente para fechar o ano em 4,3% e o índice PCE, que é usado para a meta de inflação de 2%, avançando 2,5%.
Mas essas projeções foram emitidas antes que os planos de Trump se tornassem mais concretos, com a duplicação das tarifas sobre produtos da China, um novo imposto de 25% sobre aço e alumínio importados, uma taxa de 25% sobre a maioria dos produtos de México e Canadá, que deve entrar em vigor no próximo mês, e tarifas globais "recíprocas".
Os 19 membros do Fed terão uma palavra a dizer com as projeções atualizadas, que serão divulgadas junto com a próxima decisão de juros às 15h (horário de Brasília) de quarta-feira.
Declarações públicas anteriores à reunião apontaram para três cenários em desenvolvimento: desaceleração da inflação ou enfraquecimento da economia, o que permite mais cortes; inflação presa acima da meta do Fed, que deixa a política monetária mais rígida por mais tempo; e inflação permanecendo mais alta do que o desejado, mas a economia também desacelerando.
Essa última situação apresentaria um possível dilema que poderia forçar uma escolha entre as metas de inflação e de emprego do Fed.
Em uma pesquisa recente da Reuters, os economistas foram quase unânimes em dizer que os riscos de uma recessão aumentaram.
Isso pode não ser imediatamente aparente nas novas projeções do Fed. Com os dados recentes ainda sólidos e os planos de Trump em fluxo - e, em alguns casos, enfrentando reversão por ordem judicial - os números elaborados pelas autoridades podem não mostrar muita mudança em relação a dezembro.
No entanto, a variedade de opiniões entre os membros também pode começar a se ampliar, refletindo menos confiança nas previsões básicas, mais riscos e maior incerteza - fatores capturados em pesquisas separadas divulgadas junto com as projeções.