Flávio projeta Lula fraco em 2026 e Bolsonaro com poder de 'eleger poste'

A família Bolsonaro está convencida de que a direita vencerá a próxima eleição. Por este motivo, Jair Bolsonaro (PL) vai manter sua candidatura a presidente até o prazo limite do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O que aconteceu
O ex-presidente vai aguardar "até os 48 minutos do segundo tempo". A afirmação é do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e foi feita em entrevista exclusiva ao UOL. Segundo ele, Bolsonaro continuará candidato até o prazo final da Justiça Eleitoral.
Caso a proibição de concorrer se mantenha, o vice vira o titular na disputa pelo Planalto. Flávio declarou que a escolha do companheiro de chapa, e possível herdeiro dos votos, será de Jair Bolsonaro.
O senador acrescenta que haverá conversas para ouvir sugestões. Os aliados poderão vender seu peixe, expor argumentos e traçar cenários. Ele próprio admite que vai dar conselhos —e advogará por um nome de centro-direita.
Flávio justifica a prerrogativa de o ex-presidente decidir sozinho. "A palavra final é do Bolsonaro. O capital político, os votos, são dele e é ele quem escolhe para quem vai entregar."
A atitude contraria o centrão. Partidos de centro-direita gostariam que Bolsonaro declinasse da candidatura ainda neste ano, caso não recupere os direitos políticos até dezembro.
O argumento usado é dar tempo para o substituto projetar seu nome nacionalmente. Flávio não considera necessária a antecipação da saída do ex-presidente da disputa porque vê em Bolsonaro o capital político para decidir a eleição.
Bolsonaro ganhará a eleição. Se ele não concorrer, ganha quem ele apoiar. Bolsonaro elege você [aponta para o repórter], elege ele [aponta para o assessor de imprensa], elege até um poste.
Senador Flávio Bolsonaro
Sem medo de repetir o PT
Esperar até a data-limite repete a estratégia do PT em 2018. Naquele ano, Lula estava preso e impedido de participar da corrida presidencial. Fernando Haddad, seu vice, virou candidato e perdeu.
Flávio vê diferenças significativas para a tática dar certo desta vez. Ele afirma que o cenário político era negativo para o PT em 2018. A Operação Lava Jato havia levado Lula para a cadeia sob a acusação de corrupção.
O senador afirma que no ano que vem o PT também chega desgastado à eleição. Ele sustenta a projeção dizendo que vários setores estão descontentes com o governo:
- Empresários reclamam dos juros altos;
- Setor financeiro está pessimista com os gastos elevados;
- População sente os efeitos da inflação.
A fraqueza política do governo também entra na conta. O senador cita as dificuldades de articulação do Planalto com o Congresso para aprovar projetos que servirão de bandeira nas eleições.
Não há ilusão de que o governo será ignorado pelo Legislativo. Mas a leitura é que a Câmara e o Senado, ambos dominados pelo centrão, aprovarão um número reduzido de propostas prioritárias para o governo.
Sem entregas, sem votos. Flávio considera que Lula não terá realizações e marcas suficientes para mostrar nos palanques em 2026 e assim obter votos para sua reeleição.
Isolamento político
Flávio ainda menciona o desembarque de potenciais aliados do PT nas eleições. Ele lembrou que no mês passado o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), gravou vídeo e concedeu entrevistas com críticas a Lula e a seus ministros.
A atitude de Paulinho seria um aperitivo de futuros rompimentos. Também contabiliza a recusa de partidos em firmar alianças. Reportagem do UOL revelou que o centrão não aceitou vincular o recebimento de cargos na reforma ministerial a fechar alianças para 2026.
Flávio considera que o PT chegará isolado à eleição. Não haverá sustentação política, apoio de empresários nem de economistas. Por fim, a inflação terá corroído o prestígio de Lula com o eleitorado de menor renda.
Que saudade do meu ex
O senador diz não acreditar que Bolsonaro será preso. A previsão contraria a expectativa de políticos e juristas em Brasília, que veem o ex-presidente virando réu e sendo condenado por tentativa de golpe de Estado.
Na opinião de Flávio, nem uma eventual prisão prejudicaria Bolsonaro. Ele afirma que a maioria da população discorda de que tenha havido tentativa de intervenção militar e, por isso, desacredita as investigações da Polícia Federal.
O raciocínio do senador é que o cenário econômico vai se impor à situação jurídica de Bolsonaro. Com o PT desacreditado, os eleitores vão se voltar ao antagonista de Lula. "Quem pode derrotar Lula é Bolsonaro."
Em busca de uma solução
Mas Bolsonaro precisa estar na urna em 2026 para ganhar. Flávio não aponta como isto pode ocorrer. O senador se limita a citar um alinhamento de forças políticas e econômicas se juntando à pressão popular contra a perda dos direitos políticos do ex-presidente.
A primeira expectativa é este cenário tornar insustentável a condenação por tentativa de golpe. Mas isto não devolve o ex-presidente ao jogo eleitoral. A investigação da Polícia Federal corre no STF e não tem relação com Bolsonaro estar inelegível.
Quem tirou os direitos políticos de Bolsonaro foi o TSE. Flávio lembra que dois ministros indicados pelo ex-presidente estarão na Justiça Eleitoral: André Mendonça e Kassio Nunes Marques. Mas o senador não menciona um argumento ou recurso jurídico para sustar a perda de direitos políticos do ex-presidente.
Reversão das penas
Mesmo que seja condenado, Flávio não vê o ex-presidente por muito tempo na cadeia. O senador alega que um veredicto de culpa por tentativa de golpe será consequência de um julgamento político para "tirar Bolsonaro do jogo".
Ele afirma acreditar em reversão da pena. Flávio reclama muito da postura do STF, que considera ser uma Corte que persegue a direita.
O bolsonarismo tem um antídoto para a situação. O foco é fazer muitos senadores para bater de frente com o Supremo, já que.o impeachment de ministros do STF é analisado por senadores.
Ter a maioria e a Presidência permitira dar as cartas. Flávio diz que vem buscando um acordo para encerrar o que chama de "perseguição". Caso não tenha sucesso, será preciso "corrigir injustiças".
O nome a ser apoiado por Bolsonaro neste ano deverá se comprometer a ajudar nesta tarefa. Ou seja, Planalto e Senado farão dobradinha contra o STF e defenderão o ex-presidente.
Flavio admite que haverá instabilidade. Ele não sabe quanto tempo ela duraria e justifica que a situação será resultado de uma falta de disposição para entendimento.
Quem está perseguindo não está pensando no day after [dia seguinte]. Essas pessoas vão ter que responder por abuso. Vai ser mais um turno de instabilidade política.
Senador Flávio Bolsonaro