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Balada gospel: igreja cria festa sunset com drink sem álcool e DJ

O formato do evento, com características semelhantes às de uma festa de balada convencional, exceto pela bebida sem álcool e o gênero musical, chamou atenção nas redes sociais - Reprodução/@casa.oficial
O formato do evento, com características semelhantes às de uma festa de balada convencional, exceto pela bebida sem álcool e o gênero musical, chamou atenção nas redes sociais Imagem: Reprodução/@casa.oficial
do UOL

Ranieri Costa

Colaboração para UOL

17/03/2025 05h30

No dia 22 de fevereiro, a igreja Casa promoveu o evento "Sunset Casa", em Goiânia. Descrito como um "final de tarde inesquecível de música, alegria e muita comunhão", a programação incluiu DJ, lounge, open bar de drinks não alcoólicos e open food, com ingressos comercializados ao público. A divulgação enfatizou que não haveria bebida alcoólica.

O que aconteceu:

Não é a primeira vez que a igreja Casa se torna motivo de polêmica por causa de suas programações visando atrair os jovens. Anteriormente, já havia realizado eventos temáticos, como os cultos "Vem, Novinha", "Tinder, o Culto" e "Open Bar, o Culto", que também geraram discussões sobre os limites entre evangelização e entretenimento, além de muitos memes.

Fundada em 2017 por Davi Passamani e Giovanna Lovaglio, a igreja cresceu rapidamente, passando de 63 participantes no primeiro culto para uma média de 1.200 pessoas por celebração em 2022. A congregação investe em projetos voltados para jovens e crianças, como o Casa Share e a banda Casa Worship, que alcançou destaque no cenário gospel com músicas em estilo pop rock.

Hoje, a pastora Giovanna é divorciada de Passamani que não exerce mais nenhuma função na igreja. Giovanna, por meio de um dos líderes de louvor da igreja, disse que não iria se manifestar sobre as críticas relacionadas ao evento.

A realização do "Sunset Casa" gerou grande repercussão nas redes sociais, dominada por críticas e ironias em relação à proposta do evento. Para muitos usuários, a igreja teria ultrapassado os limites do aceitável ao adotar um formato que, segundo eles, se assemelha mais a uma balada do que a um encontro de fé.

"Daí pro inferno é 5 reais de Uber", escreveu um jovem em tom sarcástico. "Isso é uma boate, passa muito longe de um lugar para louvar e adorar a Deus", criticou uma mulher, expressando indignação com o evento. Outro usuário ironizou a proposta e afirmou: "Estavam todos presentes, menos ele", insinuando que Jesus não estaria em um ambiente como aquele.

Também houve quem destacasse o caráter festivo do encontro. "Tá melhor que as baladas da minha cidade", comentou uma seguidora, reforçando a ideia de que o evento se aproximava mais do entretenimento do que de uma prática religiosa. "Tá igualzinho às raves mundana, misericórdia", comparou outro jovem, evidenciando sua reprovação à proposta da igreja.

Por outro lado, membros da congregação e seus líderes defenderam a iniciativa, argumentando que a estratégia busca alcançar públicos que dificilmente se sentiriam atraídos por um culto tradicional. "Melhor evento que participei nos últimos tempos! Como é bom ser Casa", declarou Fernando Henrique, frequentador da igreja e entusiasta do evento. A pastora e fundadora da igreja, Giovanna Lovaglio, também celebrou a realização: "Especial demais".

Oportunidade de comunhão

Embora nas redes sociais as críticas ao evento sejam bem frequentes, quem foi, parece ter gostado. Para Fernando Henrique, 31, frequentador da igreja, o "Sunset Casa" foi uma oportunidade de comunhão e diversão dentro de um ambiente seguro e cristão. Ele destacou que o evento não foi um culto, mas um momento de lazer "entre irmãos na fé", com estrutura profissional e organização cuidadosa. "Muitos podem julgar e criticar, mas estamos focados em resgatar pessoas. A Casa foi o lugar onde tive um verdadeiro encontro com Jesus", afirmou.

Fernando também explicou que o ingresso para o evento custou R$ 50 e cobriu os custos de estrutura, alimentação e bebidas não alcoólicas, como água com gás, refrigerantes e sucos. Segundo ele, a igreja tem o princípio de que "ninguém fica para trás", permitindo que aqueles sem condições financeiras participem por meio de doações de ingressos feitas por outros membros. Ele reforçou que a proposta do evento era oferecer um ambiente de diversão entre os próprios frequentadores, com músicas que exaltam a Deus, sem qualquer elemento que descaracterizasse a fé cristã.

Evangelização ou entretenimento?

As estratégias modernas de evangelização têm buscado atrair o público jovem por meio de uma estética mais próxima do universo secular (fora de uma ordem religiosa), como o evento "Sunset Casa". Para Lucas Vieira, mestrando em teologia e pastor de jovens na Igreja Batista no Morumbi, em São Paulo, esse tipo de abordagem pode, de fato, aproximar a nova geração das igrejas e do movimento evangélico, "o que não implica, necessariamente, em aproximar do evangelho."

Ele explica que iniciativas como essa surgem para reduzir a distância entre a linguagem interna da igreja e o contexto cultural dos jovens, além de romper com o estereótipo do "crente chato". No entanto, o teólogo alerta para o risco de uma compreensão distorcida do evangelho: "Encontros assim podem apresentar uma visão distorcida do que realmente é o evangelho de Jesus de Nazaré."

Um dos principais debates gira em torno dos limites entre evangelização e entretenimento. O pastor Lucas defende que a identidade do cristianismo está na pessoa de Jesus Cristo e que qualquer estratégia deve ser avaliada a partir dessa referência.

"Se em algum momento o ser contemporâneo ou ser jovem estiver desalinhado com o ser Cristo, então freamos a assimilação da cultura e ficamos com Cristo", afirma. Assim, a questão central não é a forma da evangelização, mas se ela realmente conduz os jovens a um discipulado autêntico.

Além da evangelização, outro desafio apontado pelo pastor Lucas é a continuidade da formação espiritual dos jovens, especialmente em um contexto de crescimento acelerado do número de evangélicos no Brasil. Ele observa que muitas igrejas seguem uma lógica mercadológica, buscando atrair novos membros, mas sem investir, de acordo com o pastor, na maturidade da fé. Para o pastor, a formação de cristãos comprometidos com a vivência do evangelho passa menos por grandes eventos e mais pelo envolvimento pessoal na comunidade de fé.

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