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Gritzbach morreu por vingança do PCC e interesse econômico de PMs, diz MP

do UOL

Do UOL, em São Paulo

17/03/2025 10h57Atualizada em 17/03/2025 17h10

O Ministério Público de São Paulo denunciou hoje à Justiça os seis acusados de participarem do assassinato do delator do PCC, Vinicius Gritzbach, em 2024. A pena dos envolvidos pode chegar a 100 anos de prisão.

O que aconteceu

Foram indiciados: Emílio Gongorra, o Cigarreiro; Dênis Antônio Martins, cabo da PM; Ruan Rodrigues, soldado da PM; Fernando Genauro, tenente da PM; Diego Amaral, o Didi, e Kauê Amaral, o olheiro.

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O caso não está completamente encerrado, está parcialmente concluído. O motivo do crime, para nós, ficou claro, é represália e interesse econômico. Represália por parte do núcleo PCC e interesse econômico por parte do núcleo de policiais militares.
Rodrigo Merli, promotor do Tribunal do Júri

O Ministério Público afirma que eles aceitaram "promessa de recompensa para a execução e participação no crime". Ainda conforme a denúncia, eles agiram "como verdadeiros mercenários e matadores de aluguel" e mataram Gritzbach também em represália algumas mortes de integrantes do PCC.

"Agregadas ao tipo principal, nós temos quatro qualificadoras descritas na denúncia, o motivo torpe, o perigo comum, o recurso que dificultou a defesa da vítima, além do emprego de armamento de uso restrito. São as quatro qualificadoras do crime", explicou a promotora do Tribunal do Júri Vania Caceres Stefanoni.

O órgão também pediu a conversão das prisões temporárias em preventivas. A Justiça ainda não se manifestou a respeito.

MP defende que pena seja proporcional ao dano causado para a sociedade. "Considerando que nós temos quatro qualificadoras agregadas ao tipo principal, duas vítimas fatais, duas vítimas sobreviventes, a pena pode chegar aos 100 anos de reclusão", explicou a promotora. "Nós estamos falando de dois homicídios consumados, dois tentados no maior aeroporto da América Latina. Isso chocou tanto a sociedade em São Paulo quanto no país, quanto trouxe reflexos internacionais."

Denúncia enviada à Justiça também inclui pedido de indenização de R$ 1 milhão por dano moral coletivo. "E, para as vítimas sobreviventes, pelo menos R$ 20 mil, e para as famílias enlutadas, pelo menos R$ 100 mil. Isso já está na nossa denúncia", afirma Rodrigo Merli, promotor do Tribunal do Júri.

MP quer que polícia ofereça recompensa de R$ 50 mil por informações de todos os foragidos. Atualmente, o montante é oferecido apenas por detalhes do paradeiro de Kauê do Amaral Coelho. O órgão quer que a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) estenda o benefício a informações sobre outros dois foragidos: Emílio Gongorra, o Cigarreiro. e Diego Amaral, o Didi.

Outros envolvidos, que auxiliaram na fuga de Kauê, respondem por outras tipificações e as condutas deles ainda serão investigadas. "Eles vão ser responsabilizados (...) por outro tipo de crime que não o homicídio", explicou a promotora, destacando que a participação deles foi "posterior ao crime".

O que o Ministério Público atribui a cada denunciado

Caso Gritzbach - Seis foram indiciados e denunciados por participação direta no crime - Reprodução - Reprodução
Indiciados e denunciados por participação direta no crime
Imagem: Reprodução
  • Denis Antônio Martins, cabo da Polícia Militar: apontado como um dos executores.
  • Ruan Silva Rodrigues, soldado da PM: denunciado como atirador.
  • Fernando Genauro, tenente da PM: teria levado Denis e Ruan até o aeroporto.
  • Kauê do Amaral Coelho: Teria atuado como olheiro no dia do crime. Segundo o MP, ele transmitiu informações do "posicionamento da vítima em tempo real".
  • Diego dos Santos Amaral e Emílio Carlos Gongorra Castilho: MP aponta que eles "angariaram o auxílio" de Kauê para monitorar Gritzbach.

Entenda o crime

O crime foi motivado por vingança, segundo o inquérito da Polícia Civil, finalizado na última sexta-feira. O documento, de 500 páginas, apontou a dinâmica do crime e foi encaminhado à Justiça nesta tarde. A coluna de Josmar Jozino havia antecipado os indiciamentos dos PMs narrando que eles se conheciam e que o motorista de fuga do crime era amigo e frequentava a casa da vítima.

Após 126 dias do crime, a polícia apontou que PMs foram os executores do crime a mando do narcotraficante Emilio Carlos Gongorra, o Cigarreiro. A conclusão veio a partir de interceptações telefônicas e de mensagens entre os envolvidos no crime que somaram 6 terabytes de conteúdos.

Até o momento, três PMs estão presos enquanto outros três homens estão foragidos. A polícia solicitou ao Poder Judiciário que todos sejam presos preventivamente.

Gritzbach foi morto em uma emboscada no Aeroporto Internacional de Guarulhos no dia 8 de novembro de 2024. Dois homens encapuzados desceram de um Volkswagen Gol Preto e abriram fogo contra o homem, enquanto outro criminoso aguardava no volante para a fuga. Gritzbach respondia por homicídio e lavagem de dinheiro e havia colaborado em uma delação premiada dias antes do crime. No ataque ao delator, uma outra pessoa morreu e duas ficaram feridas.

Os homens foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, uso de meio resultante em perigo comum com emboscada e ocultação de crimes, além do emprego de arma de fogo. Os policiais também responderão por associação criminosa.

O UOL não conseguiu contato com a defesa dos envolvidos. O espaço fica aberto para manifestações.

Quem é Cigarreiro

Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Narcotraficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro, em foto de arquivo da Polícia Civil
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Cigarreiro, um velho conhecido da polícia paulista, mandou matar Gritzbach para vingar morte do traficante e parceiro Anselmo Santa Fausta, também conhecido como Cara Preta, de acordo com o inquérito. Gritzbach havia sido apontado como responsável pela morte de Santa Fausta, após o traficante cobrar o empresário pelo sumiço de milhões de reais. Além disso, detalhes da delação do empresário ao Ministério Público que conectavam agentes da polícia ao PCC também provocaram a ira de Cigarreiro.

Cigarreiro segue foragido junto com Diego Amaral, apontado como braço direito do traficante no planejamento da morte. Kauê Amaral, olheiro do local do crime no dia do assassinato, também tem paradeiro desconhecido pela polícia.

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