Negociadores israelenses abordam questão dos reféns de Gaza com mediadores no Egito
Israel anunciou neste domingo (16) que enviou seus negociadores ao Egito para conversar com os mediadores sobre a questão dos reféns que continuam cativos em Gaza, num momento em que os desacordos com o Hamas ameaçam a frágil trégua no território.
O acordo de cessar-fogo, mediado com a ajuda do Catar, Egito e Estados Unidos, entrou em vigor em 19 de janeiro, após quinze meses de uma guerra desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
"Representantes da equipe de negociadores estão atualmente reunidos no Egito com altos funcionários egípcios para discutir a questão dos reféns", afirmou um comunicado do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Segundo uma fonte próxima às discussões, uma delegação do Hamas, liderada por Jalil Al Hayya, o principal negociador, partiu do Cairo em direção a Doha, onde fica o escritório político do movimento.
Na noite de sábado, Netanyahu "instruiu a equipe de negociadores a se preparar para a continuação das discussões", com o objetivo de obter a "libertação imediata de onze reféns vivos e da metade dos reféns mortos", afirmou seu gabinete.
As negociações se baseiam na proposta do enviado americano Steve Witkoff, que participou das negociações em Doha nos últimos dias.
Dos 251 sequestrados em 7 de outubro de 2023, ainda restam 58 em cativeiro em Gaza, 34 dos quais foram declarados mortos pelo Exército israelense.
- Desacordos -
Witkoff destacou em entrevista à CNN neste domingo que sua proposta incluía o retorno de cinco reféns vivos, incluindo o soldado israelense-americano Edan Alexander, em troca da libertação de "um número significativo de prisioneiros palestinos" detidos por Israel.
"Eu achava que a proposta era convincente", disse, acrescentando que os israelenses haviam sido informados previamente.
Mas a resposta do Hamas foi "totalmente inaceitável", continuou. "Há uma oportunidade para [o Hamas], mas ela se fechará rapidamente", alertou.
O Hamas afirmou na sexta-feira estar disposto a libertar Edan Alexander e entregar os corpos de outros quatro israelenses-americanos em troca de prisioneiros palestinos.
Durante a primeira fase do acordo de trégua, que expirou em 1º de março, o Hamas entregou 33 reféns, incluindo oito mortos, e Israel libertou cerca de 1.800 prisioneiros palestinos.
No entanto, a continuação da trégua está em risco. O Hamas exige avançar para a segunda fase das negociações, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada israelense de Gaza, a reabertura das passagens para a entrada de ajuda humanitária e a libertação dos últimos reféns.
Israel, por sua vez, quer uma extensão da primeira fase até meados de abril e exige, para avançar para a segunda, a "desmilitarização total" do território e a saída do Hamas, que controla Gaza desde 2007.
- "A situação é catastrófica" -
Mohammed Hallas, que vive em uma tenda com sua família em Shujaiya, no norte de Gaza, ainda acredita em uma trégua permanente graças à pressão dos Estados Unidos.
"O Hamas e Israel serão obrigados a chegar a um acordo porque [o ex-presidente americano Donald] Trump não quer guerra e quer a libertação" dos reféns, disse este arquiteto de 41 anos à AFP.
"A solução mais rápida para o Hamas é libertar os prisioneiros", que são "uma moeda de troca", acrescentou. Enquanto isso, "a situação é catastrófica e piora a cada dia", advertiu.
O ataque de 7 de outubro no sul de Israel deixou 1.218 mortos no lado israelense, a maioria civis, segundo um levantamento baseado em dados oficiais, incluindo os reféns mortos em cativeiro.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva em Gaza que matou pelo menos 48.543 pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU, provocando um desastre humanitário.
Apesar da trégua, o Exército israelense continua realizando bombardeios em Gaza. Neste domingo, anunciou ter matado um "terrorista" na área de Netzarim, no centro, em um ataque aéreo.
Outros bombardeios mataram nove pessoas no sábado, incluindo quatro jornalistas palestinos, em Beit Lahia, no norte, segundo a Defesa Civil do território.
Além disso, Netanyahu informou neste domingo ao chefe da agência de segurança interna de Israel que pedirá sua destituição. "Permanentemente, mas sobretudo durante uma guerra como esta, existencial, deve haver total confiança entre o primeiro-ministro e o chefe do Shin Bet", justificou.
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