Em ato por anistia, Bolsonaro ataca 'mão pesada' de Moraes
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou hoje, em ato em Copacabana, Rio, o que chamou de "mão pesada" do ministro do STF Alexandre de Moraes nas eleições de 2022 e criticou altas condenações para envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em tom messiânico, disse também que será um "problema morto ou preso".
O que aconteceu
Bolsonaro voltou a atacar a atuação de Alexandre de Moraes na disputa presidencial de 2022. "Houve, sim, mão pesada do Alexandre de Moraes por ocasião da eleição de 2022", criticou o ex-presidente em discurso para apoiadores na praia de Copacabana. Ele voltou a se queixar de decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que suspenderam propagandas eleitorais contra o então candidato Lula (PT).
O ex-presidente afirmou que não sairá do Brasil e tratou as penas de condenados pelo 8 de janeiro como prenúncio de uma condenação maior para ele. "Se é 17 anos para as pessoas humildes, é para justificar 28 anos para mim", criticou. Ao fazer um apelo para que o Congresso Nacional vote a anistia para crimes do 8 de janeiro, Bolsonaro disse que "eles não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo" e que "inventaram uma historinha de golpe".
O ato reuniu 18,3 mil pessoas, de acordo com dados do Monitor do Debate Público do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O cálculo foi feito em parceria com a ONG More in Common. O número é um pouco mais da metade da convocação do político no mesmo local, em abril de 2024.
Antes do evento, Bolsonaro deu declarações dizendo esperar mais de 500 mil pessoas. Em vídeo publicado nas suas redes sociais em 20 de março, o ex-presidente fez uma convocação para o ato deste domingo e disse "um milhão [de pessoas] em Copacabana". Já em entrevista à revista Veja três dias depois, Bolsonaro falou que esperava um público de 500 mil pessoas.
Houve, sim, a mão pesada do Alexandre de Moraes por ocasião das eleições de 22. Por exemplo, segundo decisão dele, eu não podia mostrar imagem do Lula defendendo o aborto. Eu não podia botar imagem do Lula defendendo ladrões de celular dizendo que isso era pra tomar uma cervejinha.
Só não foi perfeita esta historinha de golpe para eles porque eu estava nos Estados Unidos. Se eu tivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto. Mas eu deixo acesa a chama da esperança, da libertação do nosso povo.
Jair Bolsonaro em discurso para apoiadores durante hoje na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro
Discursos no ato foram centrados em críticas ao STF, a Lula e ao governo federal. Moraes foi o maior alvo de ataques, enquanto os ministros do STF Flávio Dino e Cristiano Zanin foram vaiados. Apesar de a previsão inicial apontar que o ato priorizaria a luta pelo perdão aos crimes do 8 de janeiro, a alta dos preços motivou ataques à gestão petista e ao presidente por parte de autoridades que participaram do evento.
Tarcísio de Freitas criticou Lula. O governador de São Paulo pelo Republicanos citou a alta do preço dos alimentos e dos combustíveis, que gerou aumento da inflação, e acusou o governo de ser "irresponsável" e gastar "mais do que deve". "Os caras que assaltaram a Petrobras voltaram para a política. Tá certo isso? Parece haver justiça nisso?", discursou Tarcísio. Disse ainda que vai lutar para que o projeto de lei da anistia seja aprovado.
O senador Flávio Bolsonaro afirmou que o Brasil vai "derrotar o alexandrismo", em referência a Alexandre de Moraes. Flávio citou o caso de Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão, empresário de 46 anos que morreu na Penitenciária da Papuda em Brasília, após ter sido preso por participação no 8 de janeiro. A menção motivou um coro de "assassino" dos manifestantes contra Moraes. "Aguenta a voz do povo aí", respondeu Flávio. O senador ainda chamou Lula de ladrão e disse que o presidente "destruir a esperança de algumas pessoas desavisadas pela última vez".
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) também atacou o STF. Falou que Moraes, "que não teve um voto do brasileiro", tem decidido sobre a vida de pessoas. Moraes, vale lembrar, é ministro do STF e tem atribuição, justamente, de julgar. "Existem hoje pessoas presas injustamente que estão perdendo momentos de vida. (...) Esse país não é país de ministro do STF, não é o país da esquerda, esse país é dos brasileiros", criticou.
Valdemar da Costa Neto também fez ataques a Lula. No discurso, criticou a alta no preço dos combustíveis, da energia elétrica e da carne e afirmou que Bolsonaro será candidato à Presidência em 2026, mesmo estando inelegível.
Protesto ocorreu uma semana antes de o STF julgar denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) que pode tornar Bolsonaro réu. A Primeira Turma da Corte marcou para 25 de março o início do julgamento da acusação contra o chamado núcleo central da trama para impedir a posse do presidente Lula (PT). Esta é a primeira manifestação desde que a denúncia da PGR foi apresentada ao Supremo, em fevereiro.
Se denúncia for aceita, Bolsonaro pode se tornar réu por tentativa de golpe de Estado. A PGR aponta o ex-presidente como líder do núcleo central, que seria composto ainda pelos ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Defesa), o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, o deputado Alexandre Ramagem e o tenente-coronel Mauro Cid.
Além do Rio, manifestantes foram à avenida Paulista, em São Paulo, na tarde de domingo. O ato ocorreu no quarteirão em frente ao MASP. Um boneco de dez metros de Lula pedia o impeachment dele. Também havia faixas defendendo voto impresso. Cerca de 1,4 mil pessoas participaram do ato, segundo levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common.
Objetivo dos atos foi demonstrar apoio popular ao projeto de lei que prevê o perdão para crimes relacionados ao 8 de Janeiro. A pauta vem avançando na Câmara dos Deputados com apoio do centrão, incluindo partidos como Republicanos, PSD, União Brasil e PP, que possuem ministros no governo Lula. O movimento mira também atacar a acusação contra Bolsonaro, feita pela PGR.
Manifestação
Ato levou 18,3 mil pessoas para a praia de Copacabana. Os dados são do Monitor do Debate Público do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), em parceira com a ONG More in Common. Imagens aéreas mostraram que o público ocupou pelo menos duas quadras da Avenida Atlântica. Maioria dos manifestantes estava vestida com a camisa da seleção brasileira, que se tornou marca dos protestos bolsonaristas. Havia faixas com a bandeira do país, além de cartazes que pediam "anistia já" e compararam Bolsonaro ao presidente americano Donald Trump.
Bolsonaro chegou ao evento às 10h18. Ele cumprimentou apoiadores e posou para fotos. No trio, além de Bolsonaro, estavam Tarcísio de Freitas e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), além do pastor Silas Malafaia, do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e dos filhos Carlos Bolsonaro (PL) e Flávio Bolsonaro (PL).
O ex-presidente deixou o ato apoiado do lado de fora de um carro, que foi acompanhado por apoiadores. O desfile começou na avenida Atlântica e terminou no acesso à Lagoa Rodrigo de Freitas.
Ex-primeira-dama não foi ao evento. Michelle Bolsonaro (PL) passou por cirurgia estética recente e não teve liberação médica para participar do evento.