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Rita Carelli recebe prêmio na França pela versão francesa do romance "Terrapreta"

14/03/2025 09h44

"Terrapreta" foi traduzido por Marine Duval e publicado em 2024 na França pela editora Métailié. A obra foi recompensada pelo Prix Caméléon 2025 (Prêmio Camaleão) da Universidade Jean Moulin Lyon 3. Rita Carelli veio à França para receber a recompensa e para participar de uma série de eventos que integram a programação da temporada cruzada Brasil-França.

O Prêmio Camaleão recompensa anualmente, desde 2014, um romance estrangeiro traduzido para o francês. A escolha é feita por um júri composto por estudantes da Universidade de Lyon 3. "Terrapreta" (Terre Noire em francês), traduzido por Marine Duval, concorria com dois outros livros brasileiros: "Torto Arado", de Itamar Vieria Junior, e "Preto e Branco", de Fernando Molica.

A entrega da premiação aconteceu na última terça-feira (11), durante o Encontro Internacional da Francofonia, que este ano homenageou o Brasil e a língua portuguesa.

"Terrapreta", que acaba de ganhar na França uma versão em livro de bolso, é um romance de formação que se passa entre São Paulo, o Alto Xingu e Paris. O livro conta a história de uma adolescente que viu a sua vida alterada subitamente depois da morte inesperada da mãe e vai morar com o pai antropólogo na Amazônia. Em contato com a cosmovisão dos indígenas, a jovem se transforma.

Rita Carelli acredita que todas essas camadas do livro atraíram os estudantes que leram e recompensaram "Terrapreta". "O fato de ser uma personagem jovem, passando por um processo de luto, fazendo a sua passagem da adolescência para a vida adulta, tudo isso talvez tenha contribuído. Mas acredito que a novidade deles entrarem em contato com esse mundo indígena do Alto Xingu, tudo isso trouxe para eles uma novidade muito grande que os deixou muito interessados, muito surpresos", conta.

Projeto político

Os estudantes de Lyon não foram os únicos que ficaram impressionados com o romance de Rita Carelli. A obra concorre a um outro prêmio estudantil, o Fronteiras da Universidade de Lorraine, cujo vencedor será anunciado em 5 de abril.

"Ter essa apreciação dos estudantes me deixa muito feliz porque esse livro é um projeto também político, posso dizer assim, sobre esse desejo meu de talvez diminuir minimamente o tamanho da ignorância que a gente ainda conserva sobre as populações autóctones no Brasil, suas tradições, o seu jeito de viver e de estar presente no planeta", pondera.

A autora indica que também aborda essa "ignorância" com o público francês. "Eu brinco com os estudantes, com o público francês, que se eles acham que esse mundo é muito exótico, que eles saibam que para os brasileiros também é." Ela ressalta a "herança de um projeto político de apagamento dessas culturas" no Brasil, mas acredita que "o interesse está crescendo sobre esses temas, sobre essa presença indígena tão forte no Brasil, tão poderosa".

Carelli, que coescreve livros com Ailton Krenak, colabora com essa tendência. Mas, segundo ela, essa onda é gerada especialmente com "a produção de autores, estudantes, artistas, cineastas, doutorandos e mestrandos indígenas que estão produzindo seus conteúdos e fazendo essas pontes entre esses dois mundos".

Ponte França-Brasil

Parte da família Rita Carelli é francesa e ela tem uma relação forte com o país, onde morou durante um tempo para estudar mímica. O tio da autora, Mario Carelli, foi professor da Sorbonne e é autor de um livro seminal "Culturas Cruzadas", sobre a história das trocas culturais entre a França e o Brasil. "Além de tudo, tem uma ancestralidade aí que estudava justamente essa relação tão próxima e profícua entre a França e o Brasil".

Neste ano de 2025, os dois países voltam a celebrar essa relação histórica. Rita Carelli também está na França para participar de uma série de eventos da temporada cruzada Brasil-França. Depois de Lyon, participa de uma mesa redonda nesta sexta-feira (14) na Universidade Sorbonne Nouvelle-Paris 3, e no sábado (15) estará no Salão do Livro Africano, que este ano homenageia a literatura brasileira.

Rita Carelli apoia a iniciativa, mas, na complexa geopolítica atual, gostaria que o Brasil estreitasse também suas relações com outras regiões do mundo. "Estreitar seus laços com os outros países da América Latina, com os quais historicamente a gente tem pouca relação apesar da proximidade, ou o Brasil estreitar seus laços com os países africanos, dos quais a gente tem uma origem imensa, mas as relações ainda são muito limitadas. Enfim, eu acho que, sem dúvida, todos esses movimentos de aproximação são formas de a gente ganhar e compreender coisas sobre esse mundo global", pontua.

Clique na foto principal para ouvir a entrevista completa.

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