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'Se carregar, bairro apaga': 37 ônibus elétricos estão parados no Jabaquara

Garagem da MobiBrasil em Jabaquara com 37 ônibus elétricos parados - Divulgação
Garagem da MobiBrasil em Jabaquara com 37 ônibus elétricos parados Imagem: Divulgação
do UOL

Do UOL, em São Paulo

14/03/2025 14h00Atualizada em 14/03/2025 14h02

A operadora de ônibus MobiBrasil tem 37 veículos elétricos novos parados em uma de suas garagens, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo, por falta de infraestrutura adequada para abastecimento de energia.

O que aconteceu

Risco de apagão no Jabaquara impede carregamento dos ônibus, diz gerente. "Imagina você ter uma instalação elétrica no seu apartamento de 120V e compra um refrigerador de 220V. Se a gente colocar todos os carregadores para funcionar, a energia do bairro cai", explicou Manoel Barbosa Pereira ao UOL.

A MobiBrasil culpa a Enel pelo atraso na circulação dos ônibus. No local, outros oito veículos são carregados em dois equipamentos —cada carregador consegue abastecer dois ônibus simultaneamente.

Ao todo, há 80 ônibus elétricos novos parados em garagens da capital, segundo a prefeitura, aguardando a instalação adequada. O município ainda diz que, nos últimos meses, as operadoras de ônibus têm negociado individualmente os custos de instalação da infraestrutura elétrica com a Enel. A Secretaria de Mobilidade Urbana e Transporte e a SPTrans, empresa que gere o transporte público em São Paulo, acompanham as negociações.

MobiBrasil instalou recentemente mais 16 carregadores, suficientes para os veículos que estão parados. "A recarga de cada carro demora de 3h a 4h. Você tem que criar uma logística operacional para que os carros não sejam recolhidos todos de uma vez para recarregar", disse Pereira.

Ainda há outros cinco ônibus elétricos da MobiBrasil em operação em outra garagem na Estrada do Alvarenga, também na zona sul. Ao todo, a empresa tem 618 veículos circulando na capital paulista. Da frota de elétricos, apenas 13 estão em circulação.

Enel informou hoje à empresa que neste final de semana deve instalar a estrutura para os novos ônibus, disse Manoel. Procurada pelo UOL, a concessionária não confirmou o prazo.

A execução das obras de renovação estrutural em todas as garagens da cidade está dentro do prazo, afirma concessionária. "O contrato com as empresas é assinado após a apresentação de projeto e documentação necessários para a viabilidade da obra. Após toda a regularização por parte dos operadores, é que ocorre a assinatura do contrato", argumentou a companhia.

Contrato com a Enel para a instalação da estrutura foi assinado em dezembro de 2024, disse a MobiBrasil. A concessionária deveria ter instalado a nova estrutura em 30 dias, segundo a operadora de ônibus. "Durante esse tempo, eles pediram para fazermos adequações nas garagens. A gente atendeu aos pedidos, mas até agora não cumpriram com o acordado", reclamou o gerente da empresa.

Nos dois primeiros meses de 2025, foram concluídas obras para oito operadores de ônibus, garante Enel. Para este ano, a concessionária promete entregar 45.7 MW de energia para as empresas.

O UOL também entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo. Se houver resposta, o texto será atualizado.

Troca por ônibus elétricos pode levar décadas

No mês passado, o UOL mostrou que a troca dos ônibus a diesel por elétricos em São Paulo pode levar décadas. Após quatro governos e uma mudança de metas, o município aguarda aprovação judicial para descartar a obrigação de ter 50% da frota limpa até 2028.

Hoje, 95% da frota de ônibus da capital paulista é movida a diesel. O número mostra que a cidade está longe de atingir a meta estipulada em 2018, de ter metade da frota descarbonizada até 2028. Uma mudança de lei em fevereiro de 2025 excluiu a meta em questão, mas foi suspensa na Justiça por risco de danos ao meio ambiente.

Ao todo, 12 mil ônibus operam na cidade. Desses veículos, 630 se movem por energia limpa. Os dados são da Fetpesp (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado), que concentra todas as empresas de ônibus da capital, e da SPTrans. Entre os elétricos, 429 ônibus são movidos a bateria e outros 201 são trólebus (conectados por cabos à rede elétrica da rua), segundo a prefeitura.

Falta de estrutura de recarga é o maior desafio no momento. É consenso entre prefeitura e viações de ônibus de que não há hoje pontos de recarga suficientes para o abastecimento dos veículos com energia elétrica.

Não há até o momento um balanço de quantas estações de abastecimento são necessárias para que 100% da frota da capital seja elétrica. Questionados à época, nem a Fetesp nem a Enel informaram quantos pontos de abastecimento seriam necessários. A companhia de energia explicou que o balanço é feito diretamente pelas viações e a federação patronal disse que os desafios logísticos dificultam a estimativa.

Investimento para comprar os ônibus é outro fator, já que um veículo elétrico custa três vezes mais do que um movido a diesel. Enquanto um ônibus convencional custa R$ 700 mil, uma versão movida a bateria vale, em média, R$ 2,4 milhões.

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