Novo primeiro-ministro do Canadá afirma que país 'nunca fará parte dos EUA'
O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, assumiu o cargo nesta sexta-feira (14), sucedendo Justin Trudeau, em um país em turbulência devido às ameaças de seu poderoso vizinho norte-americano.
Carney foi empossado primeiro-ministro pela governadora-geral Mary Simon, representante do Rei Carlos III no Canadá, em uma cerimônia na capital Ottawa.
O novo primeiro-ministro substitui Justin Trudeau no cargo e se destaca por seu perfil atípico. Ele já dirigiu os Bancos Centrais do Canadá e da Inglaterra, mas é um novato na política.
Carney, que completará 60 anos daqui a dois dias, acredita que as ameaças de Donald Trump representam "um perigo existencial" para o Canadá e "a maior crise de nosso tempo".
Assim que conquistou a liderança do partido do governo no domingo, ele se posicionou contra o presidente norte-americano, garantindo que seu país "vencerá" e "nunca fará parte dos Estados Unidos, de forma alguma".
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"Donald Trump está atacando as famílias, os trabalhadores e as empresas canadenses, e não vamos permitir que ele tenha sucesso." Ele é visto pelos canadenses como capaz de encarnar um Canadá forte diante dos ataques do presidente norte-americano.
Mark Carney projeta uma "imagem tranquilizadora" que é "o oposto de Donald Trump", disse Daniel Béland, da Universidade McGill, em Montreal, à AFP. "Ele é um tecnocrata", continua, "pondera cada uma de suas palavras" e é "um especialista em políticas públicas que domina muito bem seus arquivos".
"Centrista"
Descrevendo-se como um centrista que se recusa a colocar a economia contra o meio ambiente, o 24º premiê do Canadá foi até recentemente o Enviado Especial das Nações Unidas para o Financiamento do Clima e se apresenta como um homem de mudanças.
Com eleições programadas para outubro, mas que podem ser convocadas nos próximos dias, ele pode não permanecer como primeiro-ministro por muito tempo. Mas independentemente da duração de seu mandato, o perfil do primeiro-ministro é singular.
Ele é o primeiro chefe de governo do Canadá a nunca ter sido membro do parlamento ou ministro. Pai de quatro filhas, Mark Carney nasceu na pequena cidade isolada de Fort Smith, perto do Ártico, filho de dois professores. Mas ele cresceu em Edmonton, a capital de Alberta, e, como muitos canadenses, jogou hóquei por muito tempo.
Economista formado em Harvard, nos Estados Unidos, e em Oxford, no Reino Unido, Mark Carney fez fortuna como banqueiro de investimentos na Goldman Sachs antes de se tornar presidente do Banco do Canadá, onde ajudou o país a superar a crise financeira de 2008-2009.
Em 2013, ele se tornou o primeiro não britânico a liderar o Banco da Inglaterra até 2020, e muitos o consideram um dos arquitetos da estabilidade que prevaleceu durante o Brexit.
Elite
Calmo e afável, Mark Carney é "excepcionalmente bem preparado para administrar crises econômicas", diz Lori Turnbull, professora da Dalhousie University.
Mas ele não é um excelente comunicador, e seus conhecimentos de francês, que é importante nesse país oficialmente bilíngue, atraiu críticas no Quebec, província que conta nas eleições.
É provável que isso o prejudique junto ao eleitorado nas eleições gerais, quando ele enfrentará o líder conservador Pierre Poilievre, que não mede suas palavras. Este último não hesitou em retratá-lo como um membro da "elite que não entende o que as pessoas comuns estão passando", explica Lori Turnbull.
Suas ideias sobre o combate às mudanças climáticas também podem ser atacadas pelos conservadores.
O clima tem sido o cerne da última parte da carreira de Mark Carney, e ele é a favor de soluções orientadas por investimentos, como as tecnologias verdes, que geram lucros e empregos.
"Estamos nos concentrando no lado comercial da questão, na competitividade", disse ele recentemente em um podcast. Porque "é para lá que o mundo está indo".
(Com AFP)