Entenda como a prefeitura de Paris cuida das 500.000 árvores
Os ventos fortes acompanhados de temporais que marcaram a semana em São Paulo também têm se tornado frequentes em Paris, em decorrência da mudança climática. Porém, uma diferença marcante entre os gestores das duas cidades é a preocupação com a manutenção das árvores e o papel que elas exercem para tornar o meio urbano mais resiliente ao aumento das temperaturas.
Os ventos fortes acompanhados de temporais que marcaram a semana em São Paulo também têm se tornado frequentes em Paris, em decorrência da mudança climática. Porém, uma diferença marcante entre os gestores das duas cidades é a preocupação com a manutenção das árvores e o papel que elas exercem para tornar o meio urbano mais resiliente ao aumento das temperaturas.
A capital francesa tem 200.000 árvores plantadas nas ruas, praças, cemitérios e jardins públicos, e mais 300.000 árvores em dois grandes parques, um localizado na zona leste (Bois de Vincennes) e outro a oeste da cidade (Bois de Boulogne).
A prefeitura de Paris é responsável pela manutenção dessas 500.000 árvores e faz isso o ano todo, com os agentes especializados do Departamento de Árvores e Florestas do município. O pessoal que vai a campo tem uma formação técnica de um a dois anos em silvicultura, para poder monitorar, fazer a poda dos galhos, identificar um tronco ou uma raiz doente, providenciar o tratamento, e se necessário, derrubar a árvore que está representando um risco à população.
Segundo a prefeitura, as árvores que são plantadas nas ruas de Paris raramente vivem mais de 80 anos. Quando elas estão condenadas, são substituídas por novas, no mesmo lugar. Em meio urbano, algumas espécies resistem melhor do que outras.
Árvore mais antiga de Paris tem 424 anos
O xixá que caiu no Largo do Arouche, no centro de São Paulo, na quarta-feira (12), tinha cerca de 200 anos. A árvore original da Mata Atlântica tinha perdido galhos, estava enfraquecida e precisava de tratamento. Reportagens mostraram que a prefeitura foi notificada dos problemas, mas não agiu para evitar a queda.
A árvore mais antiga de Paris é uma falsa acácia (Robinia pseudoacacia) plantada em 1601 num jardim público do 5° distrito da capital (square René Viviani). Se ela está de pé até hoje, é um sinal de que é bem cuidada.
As quedas de árvores, e ainda seguidas de morte, são raríssimas em Paris. A cidade tem registrado chuvas e tempestades cada vez mais fortes, como outras no mundo. Mas esse tipo de morte acidental continua raro na capital francesa. A última grande tempestade em Paris aconteceu em 1999 e derrubou 140.000 árvores, um terço do total que havia na cidade na época.
Em outubro do ano passado, um homem de 49 anos morreu na zona norte de Paris, atingido por uma árvore que caiu dentro do condomínio em que morava. A árvore em questão não constava na subprefeitura do bairro como estando doente. Existe um inquérito aberto até hoje para apurar as responsabilidades no caso.
Pessoal especializado
O Departamento de Árvores e Florestas de Paris conta com 1.500 agentes, incluindo engenheiros florestais, paisagistas, jardineiros e silvicultores, que entendem de árvores e corte de madeira. O monitoramento de pragas e doenças é feito o ano todo.
No início do inverno e da primavera, eles fazem a poda, que ajuda a minimizar o estresse nas árvores e a reduzir o risco de doenças. O plantio geralmente acontece no outono e no começo da primavera. Os cortes definitivos, por razões de segurança, representam menos de 1,5% do patrimônio arbóreo da cidade.
Tecnologia a serviço do monitoramento das árvores
Desde 2001, a prefeitura criou um banco de dados computadorizado de todas as árvores existentes em Paris, estabelecendo uma cartografia por bairro. Com a evolução das novas tecnologias, esse sistema foi redesenhado em 2014, quando foi criado um aplicativo móvel, instalado em tablets usadas pelos agentes que vão a campo. Esse aplicativo permite tirar fotografias, inserir informações, produzir relatórios fitossanitários e atualizar o cadastro da árvore.
Hoje, cada uma das 200.000 árvores de Paris tem uma "carteira de identidade informatizada", que reúne dados sobre a data de plantio, a frequência com que são regadas, datas das podas, estado de saúde geral - condições fisiológicas, se apresenta feridas, fungos ou marcas de choques. Isso facilita o diagnóstico de árvores que representam alguma espécie de perigo e requerem acompanhamento.
Com cabos elétricos enterrados, apagão é raro
Paris já eliminou há um certo tempo outro problema que São Paulo ainda não resolveu - a quantidade de cabos elétricos aéreos. As obras de enterramento da fiação elétrica começaram nos anos 1930 e sofreram uma aceleração entre 1970 e 1990.
Na capital e na maior parte das aglomerações urbanas do país, a rede elétrica é enterrada. Somente em áreas rurais e localidades onde os cabos elétricos ainda são aéreos, habitantes enfrentam cortes de luz quando ocorrem chuvas fortes e inundações. Quando linhas de transmissão são atingidas por raios também ocorrem cortes de energia. Mas os apagões são raros.
No início de fevereiro, cinco bairros de Paris e subúrbios ao sul da capital ficaram sem eletricidade durante três horas. Mas a razão foi uma pane técnica em uma central elétrica da periferia, que deixou 100.000 parisienses sem luz.
O mais longo apagão registrado na história da França aconteceu em dezembro de 1978. O país ficou às escuras durante quatro horas, devido a uma falha numa linha de alta tensão em Bezaumont, no leste.
Vegetalização da cidade no centro da campanha eleitoral
De acordo com o Plano Árvore em vigor, 170.000 árvores deveriam ser plantadas em Paris entre 2020 e 2026: nas ruas, na forma de florestas urbanas, em praças, ao longo do anel viário e nas áreas comuns internas dos prédios. A prefeita socialista Anne Hidalgo pretende cumprir a meta até março de 2026, quando termina seu mandato.
Paris é governada pela esquerda há 24 anos, mas a direita quer ganhar a próxima eleição com críticas à segunda parte do plano de vegetalização elaborado por socialistas e ecologistas. A principal candidata na disputa é a atual ministra da Cultura, a conservadora Rachida Dati.
Ela argumenta que a vegetalização dos telhados de Paris e a transformação de 150 ruas em corredores de árvores e jardins é uma medida cara para os cofres públicos e ineficaz, se novos edifícios continuarem a ser construídos
Entretanto, quando os parisienses veem imagens do projeto, com quilômetros de asfalto substituídos por árvores, para reduzir em quatro graus a temperatura média nos meses do verão, de acordo com os cálculos da prefeitura, a maioria deles aprova.
Este será o tema central da próxima campanha municipal, que também tem implicações na redução da circulação de carros na cidade.