Ecologistas da Alemanha cedem e apoiam futuro chanceler conservador em plano de 'rearmamento' de € 500 bi
O futuro chanceler alemão Friedrich Merz pode respirar aliviado: seu gigantesco plano de investimento para rearmar e modernizar a Alemanha, ansiosamente aguardado pelos parceiros do país, está agora no caminho certo graças a um acordo político alcançado no último minuto. O líder dos conservadores conseguiu que os deputados verdes concordassem em levantar o veto para seu programa de gastos de bilhões de euros, sem precedentes para a maior economia da Europa.
Friedrich Merz saudou um compromisso que era "aceitável e bom para todos os envolvidos", ao final de uma semana de negociações com os Verdes, que apontaram as deficiências do projeto.
O fracasso enviaria um sinal muito ruim para o futuro líder, cuja iniciativa foi bem recebida pelas capitais europeias.
Os conservadores do CDU e os sociais-democratas do SPD, que negociam a formação de um governo após a vitória dos conservadores nas eleições gerais de fevereiro, estão propondo a criação de um fundo de € 500 bilhões ao longo de 12 anos para infraestrutura e a alteração das regras de empréstimo da Alemanha para apoiar seus esforços de defesa e impulsionar o crescimento da maior economia da Europa.
Eles agora devem ter a maioria de dois terços necessária para adotar emendas constitucionais, que devem ser votadas na próxima terça-feira, a fim de implementar seu plano. Juntamente com os deputados verdes, Merz agora pode alterar a constituição e flexibilizar as regras de endividamento do país.
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A votação do texto ocorrerá na próxima terça-feira na câmara baixa do parlamento, o Bundestag. Em seguida, o Bundesrat, que representa as regiões, também terá que adotá-lo.
A votação será uma oportunidade para "libertar" a Alemanha de seus "grilhões financeiros" e enviar um "sinal importante para a Europa, Ucrânia, Vladimir Putin e Donald Trump", como Lars Klingbeil, o líder social-democrata nas negociações, apontou nesta sexta-feira (14).
Dando as costas a décadas de ortodoxia orçamentária, os conservadores e os social-democratas, prováveis parceiros no próximo governo, estão propondo uma grande reviravolta para a Alemanha, na forma de um relaxamento das regras da dívida para gastos militares e para as regiões.
"Somos capazes de nos defender"
Friedrich Merz justificou a necessidade de seu programa ser adotado pelo parlamento pelas recentes mudanças na política dos EUA sob o comando do presidente Donald Trump, alertando que uma Rússia hostil e um Estados Unidos "não confiável" poderiam enfraquecer a segurança da Europa.
"Esta é uma mensagem clara para os nossos parceiros (...), mas também para os inimigos da nossa liberdade: somos capazes de nos defender", disse o futuro chanceler em uma coletiva de imprensa na sexta-feira.
A Alemanha "voltou"
"A Alemanha está de volta, a Alemanha está dando sua grande contribuição para a defesa da liberdade e da paz na Europa", disse Friedrich Merz ao apresentar o compromisso à imprensa.
Com esse plano, "não haverá falta de recursos financeiros para defender a liberdade e a paz" na Europa, prometeu ele.
Na quinta-feira, durante o exame do texto no parlamento, Merz considerou "irresponsável" adiar o rearmamento do país em um momento em que a Europa deve tomar sua segurança em suas próprias mãos diante dos Estados Unidos, que se tornou "imprevisível".
Mas os Verdes, cujos votos são indispensáveis, lamentaram a ausência de uma revisão abrangente do "freio da dívida" e de reformas mais estruturais na segurança e na transição climática.
Para ganhar o apoio deles, Merz anunciou que um quinto do fundo especial, ou seja, € 100 bilhões, seria destinado a medidas climáticas.
"Nesse nível, esses € 100 bilhões farão a diferença", entusiasmou-se Katharina Dröge, co-líder do Grupo Verde.
Apoio para a Ucrânia
Mais uma vitória para os conservadores: com a votação do novo plano, o chanceler social-democrata que deixa o cargo, Olaf Scholz, deve liberar "na próxima semana" um adicional de € 3 bilhões em apoio militar para a Ucrânia, disse Friedrich Merz nesta sexta-feira.
Esse pacote de ajuda adicional foi uma fonte de tensão entre os social-democratas e os verdes dentro do atual governo.
Outra boa notícia para o futuro chanceler veio de Karlsruhe, onde o Tribunal Constitucional rejeitou um recurso de partidos de extrema direita e de esquerda radical para impedir que o atual Bundestag realizasse a votação.
O futuro chanceler está sob pressão para que seu plano seja adotado pelo atual parlamento porque, quando os membros recém-eleitos do Bundestag se reunirem em 25 de março, esses partidos, a Alternativa para a Alemanha (AfD) e a Esquerda (Die Linke), terão uma minoria de bloqueio.
Na quinta-feira, a líder da sigla AfD, de extrema direita, Alice Weidel, denunciou "um golpe de Estado financeiro", acusando Friedrich Merz de trair suas promessas eleitorais sobre disciplina orçamentária ao lançar "o maior pacote de dívidas desde a criação da República Federal".
Durante a campanha, "Friedrich Merz sugeriu erroneamente (...) que não havia necessidade de reformar o freio da dívida", e também atacou Katharina Dröge, cujo grupo ecologista deve fazer parte da futura oposição.
Esse jogo de xadrez parlamentar está ocorrendo ao mesmo tempo em que as negociações entre conservadores e social-democratas para formar uma "grande coalizão", que Friedrich Merz espera reunir até o dia 21 de abril.
(Com AFP)