Putin diz favorecer cessar-fogo na Ucrânia, mas sob seus termos
Putin diz favorecer cessar-fogo na Ucrânia, mas sob seus termos - Mandando sinais contraditórios, líder russo agradeceu a Trump por proposta, mas sugeriu que pretende arrancar mais concessões antes se comprometer com pausa nos combates contra a Ucrânia.O líder russo Vladimir Putin disse nesta quinta-feira (13/03) estar aberto em princípio a um cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia, mas elencou várias condições antes de se comprometer com uma paralisação dos combates.
Na sua primeira manifestação pública sobre a proposta de cessar-fogo de 30 dias que foi praticamente imposta pelo governo Donald Trump aos ucranianos, Putin disse que há ainda muitas "questões" a serem resolvidas e sugeriu que quer negociá-las com Washington.
Sem dizer "sim" ou "não" para o cessar-fogo de um mês, Putin apontou quais seriam algumas das suas condições, sinalizando que a Rússia pode usar o desejo de Trump por uma pausa para tentar arrancar concessões mais amplas.
"Concordamos com a proposta de cessar as hostilidades, mas isso deve levar a uma paz duradoura e eliminar as causas subjacentes dessa crise", disse Putin, durante uma coletiva de imprensa no Kremlin ao lado do ditador belarusso Aleksandr Lukachenko, seu aliado.
Nos últimos três anos de conflito na Ucrânia, Putin já deixou claro que pretende no mínimo impor uma neutralidade militar da Ucrânia - com o país fora da Otan -, desarmamento do vizinho e reconhecimento da anexação ilegal sob o direito internacional de quatro regiões ucranianas ocupadas pelo Kremlin.
Avanços russos
Na mesma coletiva, Putin se gabou de avanços russos nos últimos meses, especialmente na contraofensiva russa para repelir uma incursão ucraniana na região de Kursk. "Os eles morrem ou se rendem", disse. Putin também aproveitou a deixa para, numa tática de morde e assopra, questionar se um cessar-fogo é de interesse da Rússia.
"Como eles [os ucranianos] usarão esses 30 dias? Para conseguir armas? Para mobilização forçada? Para treinamento? Como podemos ter certeza de que nada disso acontecerá no futuro? Quem dará as ordens de cessar-fogo? Qual é o valor dessas ordens? Quem decidirá? Quem e onde violará esse acordo?", questionou Putin, acrescentando que "todas essas questões precisam ser minuciosamente estudadas em um futuro próximo".
"Acho que precisamos discutir isso com nossos parceiros americanos, talvez precisemos ter uma conversa telefônica com o presidente [dos EUA] Trump. Mas apoiamos o fim desse conflito de forma pacífica", disse Putin.
Putin ainda agradeceu a Trump durante a coletiva. "Gostaria de começar expressando minha gratidão ao presidente dos EUA, senhor Trump, por prestar tanta atenção à solução do problema ucraniano".
Mais cedo, um assessor de Putin, Iuri Uchakov, já havia mandado sinais contraditórios ao afirmar que a proposta de trégua temporária só favorecia o presidente ucraniano Volodimir Zelenski e que o Kremlin só aceitaria discutir um cessar-fogo permanente – levando em conta demandas russas.
"O que [a trégua temporária] dá para nós? Não nos dá nada. Só dá aos ucranianos a oportunidade de se reagrupar, ganhar força e continuar a mesma coisa", disse Uchakov.
A proposta de cessar-fogo foi anunciadaapós uma reunião entre autoridades diplomáticas da Ucrânia e dos Estados Unidos na Arábia Saudita. Nos dias anteriores, Washington pressionou duramente os ucranianos a aceitarem a proposta, chegando a cortar a assistência militar e o comportilhamento de informações com Kiev com o objetivo de forçar o governo Zelenski a se comprometer.
O principal negociador de Trump na Árabia Saudita, Steven Witkoff, chegou a Moscou nesta quinta-feira e, segundo a imprensa russa, deve se reunir com Putin.
Após a divulgação das falas de Putin, Trump afirmou que as declarações eram "promissoras, mas não completas", e disse esperar que "a Rússia faça a coisa certa".
jps/ra (ots)