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Lula diz que haverá 'reciprocidade' se Trump taxar produtos brasileiros

30/01/2025 12h36

O Brasil agirá com "reciprocidade" se os Estados Unidos impuserem tarifas adicionais aos produtos brasileiros, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira (30), embora espere uma melhor relação bilateral durante o governo de Donald Trump.

Lula também questionou a decisão do republicano de retirar os EUA do Acordo climático de Paris e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"É muito simples: se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados dos Estados Unidos. Simples, não tem nenhuma dificuldade", disse o presidente em um encontro com jornalistas em Brasília.

Após retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, Trump ameaçou impor tarifas a países aliados e rivais para os quais estabelece exigências para além do comércio. 

Lula, que manifestou seu apoio à democrata Kamala Harris nas eleições americanas, desejou a Trump um "bom governo" e disse esperar melhores relações bilaterais, sobretudo no comércio, ao invés de uma guerra tarifária.

A balança comercial entre Brasil e Estados Unidos foi de US$ 80,9 bilhões em 2024 (cerca de R$ 500 bilhões, na cotação da época), com déficit de US$ 250 milhões (R$ 1,5 bilhão) para o lado brasileiro, segundo dados oficiais.

"Eu quero respeitar os EUA e que o Trump respeite o Brasil. É só isso (...) Da minha parte, o que eu quero é melhorar a nossa relação com os EUA", declarou.

"Eu não me preocupo se ele vai brigar pela Groenlândia, pelo Golfo de México, se ele vai brigar pelo canal do Panamá, ele só tem que respeitar a soberania dos outros países", acrescentou Lula.

As relações entre Brasília e Washington se tensionaram nos últimos dias após a reclamação do governo brasileiro sobre o tratamento "degradante" dado pelas autoridades americanas a um contingente de 88 deportados.

Na segunda-feira, o governo brasileiro convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos para pedir explicações, mas as partes concordaram em colaborar.

- "Regressão para a civilização" -

Lula também alertou sobre as ameaças à democracia no mundo.

"Para mim, a democracia é a coisa de maior relevância nesse instante na humanidade (...) Ou a gente mantém a democracia funcionando ou a gente vai ter Estados autoritários mais do que Hitler e mais do que o fascismo", afirmou.

"A democracia, na verdade, será a grande derrotada se a gente permitir o crescimento da extrema direita no mundo inteiro" e a "vitória da fakenews como esta acontecendo", acrescentou.

Por outro lado, Lula classificou a decisão de Trump de retirar os EUA, o segundo maior poluente do mundo depois da China, do Acordo de Paris e da OMS como uma "regressão para a civilização humana".

Reiterou suas críticas às nações ricas por não terem cumprido seus compromissos de fornecer aportes de bilhões de dólares aos países em desenvolvimento para que se adaptem às mudanças climáticas.

O presidente também enfatizou que a COP30, que será realizada em Belém, não pode ser um evento em que se "aprovam as medidas, fica tudo muito bonito no papel e depois nenhum país cumpre".

"Queremos uma coisa muito verdadeira para a gente saber se a gente está falando sério ou não está falando sério sobre a questão do clima", destacou.

- Retomar a iniciativa -

Lula realizou uma extensa coletiva de imprensa em Brasília, enquanto seu governo tenta retomar a iniciativa após uma onda de desinformação e uma queda na popularidade do mandatário.

Depois de se submeter a uma cirurgia para interromper uma hemorragia craniana em dezembro, decorrente de uma queda, o presidente disse estar totalmente recuperado e com "a energia de 30 anos".

A menos de dois anos do fim de seu terceiro mandato, a popularidade de Lula caiu para 47%, segundo uma pesquisa da Quaest publicada nesta semana.

No entanto, o presidente disse "não se preocupar" com as pesquisas e descartou qualquer apreensão em relação ao aumento das taxas de juros.

Como era esperado, o Banco Central elevou na quarta-feira a Selic, sua taxa básica de juros, em um ponto percentual, para 13,25%, apesar de o novo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, ter sido indicado por Lula.

"O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau no mar revolto", afirmou Lula.

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© Agence France-Presse

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