Editora que publicou principais autores brasileiros recebe prêmio e diz que França espera "novo Jorge Amado"
A editora Metailié, especializada em literatura estrangeira, com foco em autores da América Latina há mais de 45 anos, recebeu na terça-feira (14) o prestigioso prêmio literário Roger Caillois. Sua fundadora, Anne-Marie Métailié, que editou e publicou na França livros de alguns dos principais autores brasileiros, disse à RFI que se sentia comovida com o reconhecimento.
A editora Metailié, especializada em literatura estrangeira, com foco em autores da América Latina há mais de 45 anos, recebeu na terça-feira (14) o prestigioso prêmio literário Roger Caillois. Sua fundadora, Anne-Marie Métailié, que editou e publicou na França livros de alguns dos principais autores brasileiros, disse à RFI que se sentia comovida com o reconhecimento.
"Para mim é muito importante porque faz 44 anos que montei minha editoria, que foi reconhecida pela Feira [Internacional do livro] de Guadalajara, que me deu o [prêmio] Mérito Editorial. No Brasil, eu recebi a medalha Machado de Assis e vários países da América Latina reconheceram o trabalho que faço com a literatura do continente. Mas na França ninguém tinha notado", disse. "Então, para mim, receber esse prêmio é uma coisa muito comovente. Quer dizer que me conhecem fora, mas também no meu país."
No início, Anne-Marie Métailié pensava editar principalmente livros de ciências humanas, mas acabou realizando um salto para a ficção em português e espanhol. "Na universidade, tinha estudado autores que não existiam no mercado francês. Eu queria publicar Machado de Assis, porque foi uma leitura fundadora da minha intelectualidade e dos meus sentimentos", diz. "Capitu, para mim, é uma mulher maravilhosa. Então, comecei publicando novas traduções do Machado de Assis e vi que era muito mais agradável trabalhar com a literatura", conta.
A editora relata que nesta mesma época apareceram novos autores em Portugal, como Lobo Antunes, José Saramago e Lídia Jorge. "Então eu queria trabalhar com esse pessoal, que eram pessoas maravilhosas. Tínhamos quase a mesma idade. Trabalharmos juntos e foi realmente muito agradável", lembra.
Logo após, ela publicou os contos de Carlos Drummond de Andrade, com quem teve um "encontro extraordinário". A Métailié também publicou na França Antônio Torres, Ariano Suassuna e Euclides da Cunha.
França espera novo Jorge Amado
Nos anos 1990, ela começou a publicar jovens autores hispano-americanos que tiveram muito sucesso e mudaram o tamanho da editora e sua maneira de trabalhar. "A gente continuou, até agora, publicando livros que não têm um comitê editorial. Tem gente que vem e que me ajuda, me propondo projetos. Somos 10 pessoas na editora. Qualquer um pode propor um texto. Mas tem que gostar muito do texto, porque os livros são como filhos. Você não deve ter filhos se não gosta de crianças. Porque é duro criá-los, assim como é tão difícil vender os livros, convencer os outros de ler o desconhecido", compara.
Anne-Marie Métailié lamenta que a percepção da literatura brasileira na França ainda é muito baseada em estereótipos. "O problema é que os franceses funcionaram com esquemas, ideias e imagens falsas do Brasil. Para eles o Brasil é música. Brasil são as praias, palmeiras. O Jorge Amado funcionou bem na França. E aí, eles esperam o próximo Jorge Amado, que não vem porque o mundo mudou e a literatura é o reflexo da sociedade. Eu publico José Falero. Não é a mesma coisa", explica.
O prêmio literário Roger Caillois, criado em 1991 pela associação de escritores internacionais PEN Club, a Maison de l'Amérique Latine em Paris e a Sociedade de leitores de amigos do crítico e escritor Roger Caillois, recompensa a cada ano, além de uma editora, um autor latino-americano e um francês pela excelência de seu trabalho.
Este ano ele foi atribuído a escritora argentina Samantha Schweblin e ao francês René Depestre. O poeta e tradutor Martin Rueff recebeu o prêmio de melhor ensaio.