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Posse na Venezuela: Maduro convida MST e recebe comitiva com 4 petistas

Fundadores do MST, João Pedro Stédile irá a posse de Maduro na Venezuela - Rafael Stedile
Fundadores do MST, João Pedro Stédile irá a posse de Maduro na Venezuela Imagem: Rafael Stedile
do UOL

Do UOL, em São Paulo

10/01/2025 05h30

Marcada para esta sexta-feira (10), a posse do ditador Nicolás Maduro acontecerá mesmo sem o reconhecimento do resultado das eleições no país. A cerimônia deve contar com militantes da esquerda brasileira —o presidente Lula e nem ministros comparecerão, e o governo vai enviar a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia de Oliveira.

O que aconteceu

Movimentos de esquerda divergem de Lula e vão à posse de Maduro. Mesmo que o Presidente da República não reconheça as eleições venezuelanas, organizações da base do petista devem estar presentes na cerimônia de posse de Maduro.

MST se programou para enviar uma comitiva com cinco pessoas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra terá como seu principal representante um de seus fundadores, João Pedro Stédile. Os outros escolhidos para representar a organização são militantes e não tiveram seus nomes divulgados. "Jovens e mulheres", informou a assessoria do MST ao UOL. "Buscamos compor uma diversidade que representa nossa base social."

PT será representado por Camila Moreno. Integrante da executiva nacional da legenda, ela já estava em Caracas participando de uma reunião do Foro de São Paulo nesta quinta-feira (9) e ficou para representar o PT na cerimônia de posse. Além dela, Vera Lúcia Barbosa, Mônica Valente e Valter Pomar, diretor da Fundação Perseu Abramo, integram a comitiva.

Camila Moreno representará o PT na posse de Maduro - Reprodução/Camila Moreno no Instagram - Reprodução/Camila Moreno no Instagram
Camila Moreno representará o PT na posse de Maduro
Imagem: Reprodução/Camila Moreno no Instagram

Lula foi convidado, não vai, e Brasil será representado pela embaixadora Glivânia de Oliveira. Nenhuma delegação está prevista para sair de Brasília.

Maduro deixou convite em aberto para organizações que o apoiam. O MST foi a organização brasileira que teve convite mais direto. A diferença de posicionamentos expõe racha entre movimentos da base do petista: enquanto 19 organizações o pressionam para reconhecer as eleições no país vizinho, parte do entorno de Lula prefere que ele não faça acenos à ditadura chavista.

Essas são organizações que historicamente se articulam [em conjunto] aqui no Brasil. Sugiram no mesmo contexto - processo de redemocratização, pós-ditadura. Constroem a defesa de uma série de bandeiras de forma conjunta, como a luta contra o golpe sobre Dilma, contra a prisão de Lula, a sua eleição em 2022. MST, em nota

Glivânia Maria de Oliveira, embaixadora do Brasil na Venezuela - Geraldo Magela/Agência Senado - Geraldo Magela/Agência Senado
Glivânia Maria de Oliveira, embaixadora do Brasil na Venezuela
Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Ida de lideranças do PT para a Venezuela sem reconhecimento de Lula mostra diferenças entre partido e governo. "Uma coisa é a divisão nas esquerdas, que sempre existiu —como existem divisões entre a direita— são visões diferentes sobre o conceito de democracia. Uma coisa é o partido, outra coisa é o governo", diz o cientista político Fabricio Pereira da Silva, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e especialista no regime político venezuelano.

O Brasil pode vetar a participação da Venezuela em projetos econômicos no exterior, por exemplo. Para Maduro não é tão simples romper relações diplomáticas com o Brasil. Ele morde e assopra, faz declarações bombásticas, depois volta atrás, ele está tentando entender qual a posição do Brasil.Fabricio Pereira da Silva, cientista político (Unirio)

Esquerda mundial não sabe como lidar com o problema venezuelano, segundo especialista. "A Venezuela se tornou um grande questão para as esquerdas mundiais", aponta Silva. "Todo esse processo do chavismo, chamou muita a atenção nos primeiros anos. Se falava em possibilidades de redução da pobreza, da desigualdade, revoluções sociais, por um caminho pacífico, que preservasse a democracia", relembra. "Isso foi se perdendo nos últimos anos."

Ao mesmo tempo que boa parte da esquerda tem dificuldade de criticar e romper esse processo, uma parte significativa também reconhece que extrapolou os limites do que se pode chamar de regime democrático. A partir do momento que há repressão das oposições, fraude eleitoral, já se torna intolerável, mas essa situação não se resolve fácil e essa polêmica vai seguir. Não vai se resolver fácil.
Fabricio Pereira da Silva, cientista político (Unirio)

Relacionamento entre Lula e Maduro está enfraquecido

Apesar de a Presidência da República não apontar fraude, Lula não reconheceu o resultado do pleito. Após as eleições venezuelanas, o governo Lula insistiu na apresentação de atas que comprovassem a legitimidade da disputa, o que deu início a uma crise diplomática entre os dois países. "Eu quero o resultado, se tiver, vamos tratar [de reconhecer]", disse Lula em agosto.

Após suspeita de fraude nas eleições, venezuelanos protestaram contra Maduro, e mortes foram registradas. Pelo menos 25 pessoas morreram e 192 ficaram feridas nos protestos no país. A Guarda Nacional Bolivariana agiu contra os manifestantes. Dezenas de violações a direitos humanos foram registradas, militantes compararam ação de Maduro a "terrorismo".

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