Clima: 2023 e 2024 superaram limite crítico de aquecimento de 1,5°C
Os últimos dois anos superaram, em média, o limite crítico de aquecimento de 1,5°C, estabelecido pelo Acordo de Paris, um sinal de um aumento contínuo das temperaturas sem precedentes na história moderna, anunciou na sexta-feira (10) o observatório europeu Copernicus.
Conforme previsto há meses, e agora confirmado por todas as temperaturas registradas até 31 de dezembro, 2024 foi mais quente já registrado, superando 2023 e apresentando uma sequência de calor extraordinário que impulsionou extremos climáticos em todos os continentes.
Não se espera a princípio outro ano recorde em 2025, quando o cético climático Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos, e um prazo se aproxima para que os países se comprometam a cortar mais profundamente os níveis crescentes de emissão de gases de efeito estufa.
No entanto, o serviço meteorológico do Reino Unido prevê que 2025 ainda estará entre os três anos mais quentes da história.
Esse excesso de calor potencializa eventos climáticos extremos. Em 2024, países como Espanha, Quênia, Estados Unidos e Nepal foram atingidos por desastres que provocaram prejuízos de mais de US$ 300 bilhões, segundo algumas estimativas.
Los Angeles enfrenta incêndios florestais mortais que destruíram milhares de prédios e forçaram milhares de pessoas a fugir de suas casas. O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que os incêndios foram os mais "devastadores" a atingir a Califórnia e são uma prova de que "as mudanças climáticas são reais".
O Copernicus afirmou que o aquecimento constante e sem precedentes fez com que as temperaturas médias de 2023 e 2024 fossem mais de 1,5?°C mais altas do que em tempos pré-industriais.
Quase 200 países concordaram em Paris, em 2015, que atingir 1,5?°C oferecia o melhor patamar para se evitar as repercussões mais catastróficas das mudanças climáticas.
No entanto, o mundo está longe de atingir essa meta. "Agora estamos à beira de ultrapassar o nível de 1,5?°C", disse Samantha Burgess, diretora adjunta do Copernicus.
Extremos climáticos
Os registros do Copernicus remontam a 1940, mas outras fontes de dados climáticos, como calotas de gelo e anéis de árvores, permitem que os cientistas digam que a Terra tenha hoje provavelmente as temperaturas mais quentes em milhares de anos.
O limite de 1,5?°C é medido em décadas, não em anos individuais, mas o Copernicus estabelece que atingir esse limite, mesmo que brevemente, ilustra as mudanças sem precedentes causadas pela humanidade.
Os cientistas afirmam que cada fração de grau acima de 1,5?°C é significativa e que, além de certo ponto, o clima pode mudar de maneiras difíceis de antecipar.
Nos níveis atuais, as mudanças climáticas impulsionadas pelos humanos já estão tornando mais frequentes e intensos os períodos de seca, tempestades, inundações e ondas de calor.
A morte de 1.300 peregrinos na Arábia Saudita devido ao calor extremo, uma série de fortes tempestades tropicais na Ásia e América do Norte e inundações históricas na Europa e África foram marcos sombrios em 2024.
Os oceanos, um regulador climático crucial que absorve 90% do calor excessivo dos gases de efeito estufa, aqueceram a níveis recordes em 2024, colocando em risco os recifes de corais e a vida marinha, além de estimular o clima violento.
Mares mais quentes significam maior evaporação e mais umidade na atmosfera, o que provoca chuvas mais intensas, alimenta ciclones e traz uma umidade insuportável em alguns casos.
O vapor d'água na atmosfera atingiu novos recordes em 2024 e, combinado com as temperaturas elevadas, causou inundações, ondas de calor e "miséria para milhões de pessoas", disse Burgess.
'Aviso claro'
Johan Rockstrom, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impactos Climáticos, disse que atingir 1,5?°C é um "aviso claro".
"Experimentamos agora uma prévia de um mundo com mais de 1,5?°C, que causou sofrimento sem precedentes para as pessoas e custos econômicos globais", afirmou ele à AFP.
Os cientistas afirmam que o início do fenômeno El Niño de aquecimento em 2023 contribuiu para o calor recorde que se seguiu. No entanto, o El Niño terminou no início de 2024, e os cientistas ficaram intrigados com o motivo pelo qual as temperaturas globais permaneceram em níveis recordes ou quase recordes desde então.
Em dezembro, a Organização Meteorológica Mundial afirmou que, se o evento oposto de La Niña ocorrer nos próximos meses, será "fraco e de curta duração" para ter um grande efeito de resfriamento.
"O futuro está em nossas mãos - uma ação rápida e decisiva ainda pode alterar a trajetória do nosso clima futuro", disse Carlo Buontempo, diretor do clima do Copernicus.
Os países concordaram em fazer a transição dos combustíveis fósseis em uma cúpula da ONU em 2023, mas na última reunião, em novembro, tiveram dificuldades em avançar sobre como realizar reduções mais profundas nas emissões de gases de efeito estufa.
(Com AFP)