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Não é só no Arpoador, Rio tem points de sexo ao ar livre: 'Tem de tudo'

Dezenas de homens fizeram orgia ao ar livre até o amanhecer do dia 1º, no Rio - Reprodução
Dezenas de homens fizeram orgia ao ar livre até o amanhecer do dia 1º, no Rio Imagem: Reprodução
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

09/01/2025 05h30

A prática de sexo ao ar livre em espaços públicos do Rio de Janeiro veio à tona após o vazamento de um vídeo em que dezenas de homens são vistos "se pegando", num evento que ficou conhecido como "surubão do Arpoador". No entanto, a prática é antiga e por vezes chega a incomodar moradores de regiões próximas aos espaços escolhidos por quem quer sexo fácil.

O que aconteceu

Sexo ao ar livre não é novidade para quem frequenta espaços públicos do Rio de Janeiro, como trilhas e parques. Locais como o Aterro do Flamengo, parque Garota de Ipanema e Arpoador, onde o vídeo foi gravado, são points conhecidos de "pegação", gíria para o sexo casual.

Na internet há blogs que apontam os principais pontos destinados ao cruising, uma gíria para quando as pessoas "se cruzam" e acaba rolando "pegação". "No aterro do Flamengo a pegação rola o dia inteiro por toda a extensão do parque, porém, de noite é que o babado esquenta. O lugar mais quente fica na altura do Hotel Glória. O melhor horário é pelas 2h da manhã, pois quase não tem policial fazendo ronda", diz trecho de um artigo publicado no blog Rio de Arco-Íris.

Sexo casual ao ar livre, porém, não é uma prática exclusiva do público gay. Casais heteronormativos também buscam espaços públicos para o sexo e a prática é conhecida como dogging. No Reddit, por exemplo, há vários posts com dicas e recomendações para quem busca uma "aventura proibida".

Locais escolhidos ficam em praias, área de parques, e áreas com vegetação mais densa. Entre eles, o Parque Lage, na região do Jardim Botânico, o Bosque da Freguesia, em Jacarepaguá, trilhas na floresta da Tijuca e até mesmo a pedra da Gávea.

Moradores que vivem em áreas próximas reclamam da frequência com que os locais são procurados. "Sempre rolou uma sacanagem 'na encolha' (escondida) aqui no Aterro do Flamengo. Antes rolava muita pegação entre os caras, mas agora tem até travestis e trans se prostituindo. Dependendo do horário, não dá para caminhar por lá, não", afirma o empresário Paulo Campos, que mora com a esposa e um filho pequeno na avenida Senador Vergueiro, a poucos metros do parque.

Curto caminhar e correr, e já vi cada coisa no Aterro. Gente fazendo oral, anal, tem de tudo por lá. E não é só isso. Muita gente drogada procura também. Por isso evito levar meu filho lá para brincar.
Paulo Campos

O empresário não está sozinho na indignação, que se estende para os membros da associação de moradores. "Essa questão de pontos de prostituição no Aterro do Flamengo sempre existiu, especialmente em áreas como a marina e próximo ao MAM (Museu de Arte Moderna), que são pontos já conhecidos por esse tipo de público, informa a presidente da Amafla (Associação de Moradores do Flamengo), Bebel Franklin.

A falta de controle no parque é alarmante, especialmente diante do aumento da violência e das brigas entre facções, que estão se espalhando por todos os cantos. Isso abre um alerta que talvez ainda não tenha sido percebido por muitas pessoas. É crucial reforçar a presença da Guarda Municipal e da Polícia Militar. Embora o segundo batalhão faça rondas à noite, o contingente é insuficiente para atender a todas as demandas de segurança.
Bebel Franklin

Moradores de Copacabana também se queixam dos points de "pegação". O Parque Garota de Ipanema, onde ocorreu o "surubão do Arpoador", fica nos limites entre os dois bairros. O presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães, diz que a prática incomoda e que é comum moradores e visitantes encontrarem pela manhã diversas camisinhas usadas no local.

Infelizmente a parte alta do Parque Garota de Ipanema e a pedra do Arpoador já há algum tempo virou point de 'pegação' de homossexuais. Já pedimos ao 23° Batalhão da Polícia Militar (BPM) para intensificar o patrulhamento.
Horácio Magalhães

O que dizem as autoridades

Em nota, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro informou que, em casos como esses, caso haja o flagrante, "conduz os suspeitos para a delegacia da área, por se tratar de uma prática proibida". Segundo a corporação, equipes do GEP (Grupamento Especial de Praia) atuam no patrulhamento das praias da cidade com foco no ordenamento urbano e também na segurança dos cidadãos.

Também, em nota, a PM do Rio de Janeiro declarou que o policiamento ostensivo da corporação atua em todo o bairro. "Em setembro de 2024 tiveram início as ações voltadas para a Operação Verão 2024/2025. Diariamente nesse período são empregados 1.250 policiais militares em todo o território estadual, com atenção especial para a orla da capital e cidades litorâneas, além de vias expressas e rodovias de acesso aos municípios com maior fluxo turístico", informou.

Segundo a corporação, a ação na capital concentra um efetivo na faixa entre o Leme e o Pontal, que conta com o emprego de cavalos do Regimento de Polícia Montada (RPMont) e cães do Batalhão de Ações com Cães (BAC). O patrulhamento reforçado também contempla as ruas internas dos bairros das zonas Sul e Oeste. O policiamento dos corredores estruturais de acesso à orla conta com o reforço de policiais do RECOM (Rondas Especiais e Controle de Multidões) e BPVE (Batalhão de Policiamento em Vias Expressas) atuando em conjunto com equipes das unidades operacionais de área.

O UOL entrou em contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, mas até o momento não houve resposta aos questionamentos.

Relembre o caso

"Surubão do Arpoador" se tornou viral e caso foi parar na polícia. Ele aconteceu entre 31 de dezembro e 1º de janeiro. Imagens dos participantes praticando masturbação coletiva e sexo oral foram gravadas e compartilhadas nas redes sociais e aplicativos de mensagem e acabaram viralizando.

Segundo o artigo 233 do Código Penal, praticar ato libidinoso em local público é crime. A pena é de três meses a um ano de reclusão ou multa. A 14ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro, no Leblon (zona sul) está investigando o caso.

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