Groenlândia, Panamá e mais: falas de Trump geram mal-estar antes de posse
O presidente norte-americano eleito Donald Trump ainda não assumiu o seu segundo mandato e já enfrenta mal-estar com outros países (alguns deles próximos aos Estados Unidos) após algumas declarações. O republicano tomará posse no dia 20 de janeiro em uma cerimônia no Capitólio, em Washington DC.
Groenlândia e Panamá
Trump já sinalizou que pretende tomar o controle da Groenlândia e que cogita usar as Forças Armadas para isso. Em uma coletiva de imprensa, o presidente eleito afirmou que "não poderia garantir nada" sobre o uso de coerção econômica e militar para ter controle sobre a ilha e também sobre o Canal do Panamá. "Posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica", completou.
Presidente eleito considera tarifas elevadas contra a Dinamarca, caso não haja acordo. A maior ilha do mundo é de posse da Dinamarca —país a quase três mil quilômetros de distância e cerca de 50 vezes menor em tamanho. Pouco antes dos comentários de Trump, seu filho Don Jr. chegou à Groenlândia para uma visita particular. Em 2019, o Wall Street Journal publicou que Trump —então presidente dos EUA— usou "vários graus de seriedade" para questionar seu círculo sobre a compra do território dinamarquês.
Dinamarca rebateu afirmando que "Groenlândia não está à venda". "Não acho que seja um bom caminho lutar uns contra os outros com meios financeiros quando somos aliados e parceiros próximos", disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, na noite de terça-feira (7), em resposta aos comentários de Trump.
Primeiro-ministro da ilha negou venda do território e considera referendo de independência da Dinamarca. Há duas semanas, Múte Egede disse que "não devemos perder nossa longa luta pela liberdade". Em seu primeiro discurso de 2025, ele afirmou que "o próximo passo para a Groenlândia" é a independência e pediu para que os cidadãos considerem a ideia.
Já as autoridades do Panamá declararam que a soberania do seu canal interoceânico "não é negociável". "O presidente [do Panamá] José Raúl Mulino já disse: a soberania de nosso canal não é negociável e é parte de nossa história de luta e uma conquista irreversível", disse o chanceler panamenho Javier Martínez-Acha ao ler uma declaração. O diplomata acrescentou que "as únicas mãos que controlam o canal são panamenhas e continuará sendo assim".
União Europeia
A UE afirmou que as alegações de Donald sobre tomar a Groenlândia são "altamente hipotéticas". Nesta quarta-feira (8), Paula Pinho, porta-voz da Comissão Europeia, o braço Executivo da UE, disse que "é algo altamente hipotético e por isso não queremos insistir". A Groenlândia é um território autônomo da Dinamarca, país membro da UE e, portanto, associado ao bloco.
Outra porta-voz da Comissão lembrou que o artigo 42.7 do Tratado de Lisboa sobre a defesa mútua dos países da UE também se aplica ao território da Groenlândia. "Em geral, para nós, a soberania dos Estados deve ser respeitada", disse Anitta Hipper.
O porta-voz do governo francês denunciou "uma forma de imperialismo" após a fala de Trump sobre a Groenlândia, enquanto seu homólogo alemão ressaltou que "as fronteiras não podem ser deslocadas pela força". "Em minhas conversas com nossos parceiros europeus, houve uma notável incompreensão no que diz respeito às atuais declarações dos Estados Unidos sobre o princípio da inviolabilidade das fronteiras", declarou o social-democrata Olaf Scholz, sem mencionar diretamente Trump.
Canadá
Trump usou as redes sociais para publicar um mapa falso unificando os Estados Unidos com o Canadá. O post aconteceu após uma série de falas do republicano em relação ao país vizinho, que acabou de perder o seu primeiro-ministro, Justin Trudeau.
Foto compartilhada por Trump pinta os dois países com a bandeira dos Estados Unidos. Ela foi publicada na rede social Truth, criada pelo próprio grupo do republicano, na noite de terça-feira (7).
Republicano também já disse repetidas vezes que o Canadá deveria "ser o 51º estado" dos EUA. Em discursos antes de assumir a presidência, ele tem mencionado a "necessidade de unificação" alegando que o seu país sofre com os subsídios e déficits comerciais do país vizinho.
Norte-americano sugeriu que Trudeau se demitiu do cargo por saber dessa necessidade de unificação. Ele também afirmou que, se unido com os EUA, o Canadá estaria "totalmente seguro" de "navios russos e chineses".
Ex-primeiro-ministro reagiu à fala. Em publicação no X, Trudeau afirmou que "não há chances" de o Canadá e os EUA se unificarem e que "trabalhadores e comunidades dos dois países" são beneficiados pela relação comercial dos dois.
Presidente do México responde provocação
Na quarta-feira (8), a presidente do México, Claudia Sheinbaum, sugeriu que os Estados Unidos sejam rebatizados pelo nome de ''América Mexicana''. A resposta ocorreu um dia após Trump dizer que pretende mudar o chamado Golfo do México para ''Golfo da América''.
''Por que não chamamos os Estados Unidos de América Mexicana?'', questionou. ''Isso soa bem'', disse Sheinbam enquanto mostrava um mapa antigo do México, que inclui terras que atualmente fazem parte dos EUA. Ela enfatizou que o Golfo do México é um nome reconhecido internacionalmente.
A presidente disse ainda que Trump estava vivendo no passado. "Acho que disseram errado ao presidente [eleito] Trump, disseram-lhe que Felipe Calderón ainda é presidente", disse Sheinbaum. Calderón comandou o México de 2006 a 2012.
Trump deixou claro suas intenções de rebatizar o Golfo do México. "Vamos mudar esse nome para Golfo dos EUA", disse. "Que nome bonito e que apropriado", insistiu em uma coletiva de imprensa realizada na terça-feira (7).
O presidente eleito destacou futuras mudanças na relação entre os dois países. Entre elas, ele voltou a prometer a implementação de tarifas sobre produtos mexicanos. Além disso, o político promete a deportação em massa de imigrantes ilegais.
(Com AFP e Reuters)