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O que há na Groenlândia, território da Dinamarca que interessa a Trump?

Olivier Morin/AFP
Imagem: Olivier Morin/AFP
do UOL

Colaboração para o UOL

08/01/2025 12h16

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, já anunciou que pretende anexar territórios estrangeiros como a Groenlândia, atualmente de posse da Dinamarca, e o Canal do Panamá.

Qual é o interesse de Trump na Groenlândia?

Os EUA mantêm a Base Aérea Thule — sua base militar no ponto mais ao norte da Terra, 1.200 km acima do Círculo Polar Ártico — na ilha desde 1951. A localização é estratégica para o país, em uma região rica em recursos naturais como minerais utilizados na fabricação de tecnologia, equipamentos militares e até geradores de energia eólica e smartphones. Este tipo de mineração é hoje dominada pela China.

Groenlândia está "no meio do caminho" até Rússia e China, potências na Europa e Ásia com tensões militares crescentes com os EUA. "Se olharmos para os inimigos primários dos EUA neste momento, temos grande competição com a China por poder. E se principalmente a Rússia enviasse mísseis aos EUA, a rota mais curta seria pelo Polo Norte, por cima da Groenlândia", argumentou Marc Jacobsen, professor no Royal Danish Defence College, à alemã DW.

Mudanças climáticas tornam região ainda mais interessante. O degelo no Ártico acaba tornando a passagem pela Groenlândia uma nova rota de envio de produtos comerciais, mais curta e mais eficiente. Navegar pelo Oceano Ártico da Europa Ocidental até o leste da Ásia, por exemplo, representa um caminho cerca de 40% mais curto do que pelo Canal de Suez, apontou o jornal americano The New York Times. O tráfego de navios na região cresceu 37% na última década, segundo um relatório recente do Conselho Ártico. Controle de rotas comerciais pode ser o mesmo motivo do interesse renovado de Trump no Canal do Panamá.

Currículo político de Trump seria "inflado" com a anexação. "É possível que Trump queira se alinhar à tradição de presidentes que expandiram o território americano. No século 19, quando os EUA cresceram em direção ao oeste, depois compraram o Alasca — isso seria algo que faria dele realmente um grande presidente", disse o professor de política internacional e externa na Universidade de Colônia, Thomas Jäger, ao canal alemão NTV.

Ele não é o primeiro presidente americano cobiçando o território. Os EUA teriam tentado comprar a Groenlândia em 1946, mas não houve sucesso, e o presidente Harry Truman acabou se esquivando de responder em público sobre o possível controle da região. Em 1867, o Secretário de Estado William Seward também já havia se interessado na compra.

O que aconteceu

Trump já havia manifestado interesse na Groenlândia em seu primeiro mandato. Em dezembro de 2024, já eleito, ele voltou a chamar a anexação de "necessidade absoluta".

Ele fala em compra do território, embora não descarte ações militares. "Não posso garantir [que não haverá coerção militar ou econômica], mas posso dizer isso: precisamos deles para segurança econômica [dos EUA]", afirmou Trump em entrevista coletiva nesta terça-feira (7).

Donald Trump Jr., filho do mandatário, desembarcou na Groenlândia nesta terça. Na segunda, em uma publicação em sua rede Truth Social, Trump afirmou que o filho iria ao território "com vários representantes" para "visitar algumas das áreas mais magníficas e com as melhores vistas".

Tenho ouvido que o povo da Groenlândia é 'MAGA'. A Groenlândia é um lugar incrível e as pessoas se beneficiarão tremendamente se, e quando, se tornar parte da nossa nação. Nos vamos protegê-la e cuidar dela, de um mundo muito perverso lá fora. Torne a Groenlândia Grande Novamente. Escreveu Donald Trump na Truth Social, em referência ao seu movimento político e slogan, "Make America Great Again" (Torne a América Grande Novamente, em tradução livre).

Trump Jr. realiza uma espécie de campanha de opinião nas redes durante a visita. Ele postou imagens de um cidadão local usando um boné MAGA e pedindo ao seu pai que compre a Groenlândia para libertá-la do "domínio colonial dinamarquês".

O que diz o governo dinamarquês?

Groenlândia não está à venda, diz a Dinamarca. Apesar de o território ser autônomo, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen chamou a ideia de Trump de anexar a Groenlândia de "absurda". No entanto, seu governo tem preferido observar o xadrez geopolítico no momento, em vez de tomar posições mais firmes em relação aos EUA.

Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, reforçou o desejo de independência da região. Antes da coletiva de Trump na terça, Egede postou no Facebook a seguinte mensagem: "Deixe-me repetir: a Groenlândia pertence ao povo da Groenlândia. Nosso futuro e nossa luta pela independência [da Dinamarca] é problema nosso". Em dezembro de 2024, ele já havia garantido que a Groenlândia nunca estará à venda.

[Dinamarca e EUA] têm direito às opiniões deles, mas não devemos deixar pressões externas nos distrair de nosso caminho [de independência]. Múte Egede, primeiro-ministro da Groenlândia

A parlamentar Aaja Chemnitz garantiu que, apesar de a população da Groenlândia poder ter algum interesse em Trump, isso não quer dizer que eles queiram ser cidadãos americanos. "A Groenlândia não é MAGA. A Groenlândia não será MAGA. Acho que a maioria na Groenlândia acha assustador, na verdade, e muito desconfortável que haja tanto foco [no território] e que os EUA de uma maneira verdadeiramente desrespeitosa estejam demonstrando que querem comprar ou controlar a Groenlândia, porque não é o que a população quer", garantiu à rede CNN.

A Groenlândia é habitada pelo povo indígena inuit, popularmente conhecidos como esquimós, e possui cerca de 56 mil habitantes. Ela foi colonizada no século 18 pela Noruega e a Dinamarca. Após a Segunda Guerra, a Groenlândia deixou oficialmente de ser uma colônia, conquistando a autonomia em 1979, mas mulheres da ilha foram submetidas a controle obrigatório de natalidade e tiveram filhos raptados e levados para a Dinamarca. Os horrores daquele período são a base do desejo de independência da ilha.

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