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Mulher é acusada de roubar loja no RJ: 'Porque sou negra e de favela'

do UOL

Do UOL, em São Paulo

08/01/2025 12h56Atualizada em 08/01/2025 12h56

Uma mulher negra de 52 anos foi acusada de roubar uma loja no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, na última terça-feira (7). Para provar a inocência, Sandra Silva de Carvalho precisou jogar todos os seus pertences no chão do estabelecimento.

O que aconteceu

Funcionário obrigou Sandra a esvaziar sua bolsa e a proibiu de sair da loja. Em entrevista ao UOL, ela contou que entrou na Casa e Vídeo, localizada na rua Figueiredo Magalhães, para ajudar sua irmã a fazer o pagamento de uma compra. "Ela não sabe fazer pagamento por Pix. Então, depois que eu fiz a transferência, peguei uma Coca-Cola, mas desisti de levar ao saber o preço e devolvi ao rapaz do caixa", lembrou.

Na saída da loja, ela guardou o telefone e foi surpreendida pelo segurança. "Eu joguei meu celular dentro da minha bolsa e logo em seguida ele pulou na minha frente e falou 'você roubou a loja, abre a bolsa'. Eu tentei dizer que não tinha roubado nada, mas ele falou que tinha visto na câmera, aí joguei tudo no chão", contou Sandra.

O momento em que ela se desespera foi registrado em vídeo por outra cliente. A imagem mostra Sandra chorando com os pertences no chão da loja. "Não preciso roubar nada de ninguém, eu trabalho. Quem me acusou foi esse cidadão aí, me acusando de roubo, isso é uma injustiça", diz ela no vídeo. Clientes exigiram a presença de um gerente, mas ninguém apareceu, segundo Sandra.

A mulher procurou a polícia e registrou queixa. "Fui direto para a delegacia", disse. Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o crime foi registrado como constrangimento ilegal na 12ª DP (Copacabana). A corporação esclareceu que a tipificação tem como base a declaração da vítima, que não narrou ato explicitamente racista. "Contudo, a ocorrência foi encaminhada para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que dará continuidade à investigação a fim de apurar todos os fatos".

Sandra conta que é cliente da loja há anos. Ela é moradora do Morro do Cantagalo e trabalha como responsável pela limpeza de um escritório. "Frequento essa loja há muito tempo, tenho até o cartão, nunca passei por isso. Estou muito triste, ser acusada de algo que você não fez é horrível. Estou perdi a fome, estou com dor de cabeça e chorando até agora. A pior coisa é a discriminação porque sou negra e de favela, tenho muito orgulho porque trabalho e não preciso roubar nada de ninguém", afirmou.

Ela disse que também está abalada porque o seu marido morreu há dois meses. "Perdi o meu marido para um câncer e agora vem essa calúnia, me acusando de roubo sem ter roubado nada, um absurdo. Eles acham que todos os negros são ladrões, não podemos aceitar isso, temos que falar, lamentou.

Em nota publicada nas redes sociais, a Casa e Vídeo declarou que não compactua e repudia qualquer ato a discriminação e desrespeito com o próximo. "A Casa e Vídeo está apurando o ocorrido e está tentando contato direto com a cliente. Reafirmamos nosso compromisso em investigar 100% das denúncias e adotar as medidas necessárias".

A loja também publicou que oferece treinamentos constantes para todos os colaboradores. "As condutas relatadas não condizem com a nossa cultura e valores que são inegociáveis, como o respeito ao próximo, o cuidado e foco no cliente".

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