Com Hezbollah enfraquecido, Líbano buscará eleger presidente
Por Laila Bassam e Tom Perry
BEIRUTE (Reuters) - O Parlamento do Líbano tentará eleger um presidente na quinta-feira, com as autoridades vendo melhores chances de sucesso em um cenário político abalado pela guerra de Israel com o Hezbollah e a derrubada do aliado do grupo, Bashar al-Assad, na vizinha Síria.
O cargo, reservado a um cristão maronita no sistema sectário de compartilhamento de poder do país, está vago desde que o mandato de Michel Aoun terminou em outubro de 2022. Nenhum dos grupos políticos no Parlamento de 128 assentos tem assentos suficientes para impor sua escolha, e até agora não conseguiram chegar a um candidato de consenso.
A votação marca o primeiro teste do equilíbrio de poder do Líbano desde que o grupo xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã -- que impulsionou seu então aliado cristão Aoun à Presidência em 2016 -- saiu gravemente abalado da guerra com Israel.
Isso ocorre em um cenário de mudança histórica no Oriente Médio mais amplo, onde o Estado sírio liderado por Assad exerceu domínio sobre o Líbano por décadas, tanto diretamente quanto por meio de aliados como o Hezbollah.
Refletindo as mudanças, o Hezbollah e seu aliado, o movimento xiita Amal, liderado pelo presidente do Parlamento, Nabih Berri, desistiram de insistir em Suleiman Frangieh, seu candidato declarado nos últimos dois anos, e estão prontos para escolher uma figura menos divisiva, segundo três fontes graduadas familiarizadas com suas ideias.
Entre os candidatos em foco estão o comandante do Exército, General Joseph Aoun -- que os políticos libaneses dizem ter a aprovação dos Estados Unidos -- Jihad Azour, um funcionário graduado do Fundo Monetário Internacional que já foi ministro das Finanças, e o Major-General Elias al-Baysari -- chefe da Segurança Geral, uma agência de segurança estatal.
O primeiro-ministro interino Najib Mikati disse que se sentia feliz porque "se Deus quiser, amanhã teremos um novo presidente", de acordo com uma declaração de seu gabinete.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, também expressou esperança em comentários à rádio France Inter, dizendo que a eleição é "um pré-requisito para a continuação dessa dinâmica de paz" e também para a recuperação econômica e social do Líbano.
Entretanto, duas das fontes e um analista advertiram que ainda não havia certeza de que algum candidato seria eleito. Para vencer, um candidato deve obter 86 votos no primeiro turno, ou 65 no segundo turno.
Refletindo o interesse ocidental e regional na votação, enviados franceses e sauditas se reuniram com políticos libaneses em Beirute nesta quarta-feira. Quatro fontes políticas libanesas que se reuniram com o enviado saudita, o príncipe Yazid bin Farhan, na semana passada, disseram que ele explicou as qualificações preferidas que sinalizam o apoio saudita a Aoun.
A Arábia Saudita já foi um grande ator no Líbano, competindo com Teerã pela influência sobre Beirute, antes de ver seu papel ofuscado pelo Irã e pelo Hezbollah.
Aoun, chefe do Exército libanês apoiado pelos EUA, ainda precisaria de 86 votos porque sua eleição exige uma emenda constitucional, já que ele ainda é um funcionário público em exercício, disse Berri.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que "cabe ao Líbano escolher seu próximo presidente, e não aos Estados Unidos ou a qualquer ator externo".
"Temos sido consistentes em nossos esforços para pressionar o Líbano a eleger um novo presidente, o que consideramos importante para fortalecer as instituições políticas do Líbano", disse o porta-voz.
Wafiq Safa, funcionário do Hezbollah, disse na semana passada que não havia "nenhum veto" a Aoun. Mas as fontes disseram que o Hezbollah, designado como grupo terrorista pelos Estados Unidos, não apoiará Aoun.