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'Vontade de rir' segue intacta dez anos após o atentado jihadista ao Charlie Hebdo

06/01/2025 10h18

Dez anos após o ataque jihadista que devastou sua redação, a revista satírica francesa Charlie Hebdo publicou, nesta segunda-feira (6), um número especial com charges sobre Deus, para reafirmar que sua vontade de rir "nunca desaparecerá".

Cerca de quarenta charges de 28 países aparecem nesta edição de 32 páginas, para demonstrar que o estado de espírito dos seus criadores é "inabalável!"

A capa mostra um leitor sentado sobre um fuzil de assalto, sorrindo enquanto lê a revista, à qual a AFP teve acesso antecipado. O autor da charge é Riss, atual diretor e um dos sobreviventes da redação.

"A sátira tem uma virtude que nos ajudou a superar estes anos trágicos: o otimismo. Se alguém quer rir é porque quer viver. O riso, a ironia e a charge são manifestações de otimismo. Não importa o que aconteça, seja trágico ou feliz, a vontade de rir nunca vai desaparecer", destaca Riss no editorial.

Em 7 de janeiro de 2015, doze pessoas, incluindo oito membros da redação, perderam a vida no ataque ao semanário executado pelos irmãos Kouachi, franceses de origem argelina que juraram lealdade à rede Al-Qaeda. Entre as vítimas estavam o chargista Charb, além de duas lendas da caricatura na França, Cabu e Wolinski.

A Charlie Hebdo, revista irreverente e de espírito anarquista fundada em 1970, com um público fiel mas pequeno, tornou-se um dos símbolos globais da liberdade de expressão.

- "Os valores da Charlie Hebdo" -

A revista assumiu essa bandeira decisivamente e tornou-se mais do que nunca um órgão de imprensa, com longos artigos comentando temas da atualidade.

"Para que editar um periódico sem ser com este objetivo", pergunta-se Riss neste editorial.

"Hoje em dia, os valores da Charlie Hebdo, como o humor, a sátira, a liberdade de expressão, a ecologia, a laicidade e o feminismo, para mencionar apenas alguns, nunca haviam sido tão questionados", prossegue.

"Talvez porque é a própria democracia que se encontra ameaçada por novas forças obscurantistas", explica.

A Charlie Hebdo, cujos editores estão agora sob medidas de segurança extraordinárias, tem sido alvo de ameaças jihadistas desde a publicação de charges do profeta Maomé em 2006. Embora sua sede seja agora secreta, a revista continua a publicar milhares de exemplares todas as semanas.

Nesta segunda-feira, começou em Paris o julgamento de um homem que, em setembro de 2020, atacou duas pessoas com um facão na porta da antiga sede da revista. 

O agressor pensou equivocadamente que essas pessoas trabalhassem no Charlie Hebdo. 

Durante a audiência, o principal acusado pediu "perdão" às vítimas.

"São incidentes muito graves. Peço perdão às vítimas, a suas famílias e às pessoas que prejudiquei", disse Zaheer Mahmood.

- "O controle de todas as religiões" -

Em novembro de 2024, os criadores da revista anunciaram um concurso internacional com o tema #rirdeDeus, convidando colegas de todo o mundo a "expressar sua raiva contra o controle de todas as religiões sobre suas liberdades". 

Entre as caricaturas, estavam uma de Jesus Cristo crucificado fazendo uma selfie, outra com homens barbudos e turbantes segurando uma placa que diz "a teocracia é legal".

O Charlie Hebdo publica também os resultados de uma pesquisa realizada em junho de 2024 que mostra que 76% dos franceses consideram que "a liberdade de expressão é um direito fundamental e que a liberdade de criar charges faz parte disso".

Além disso, 62% dos entrevistados são a favor do "direito de criticar de forma provocativa uma crença, símbolo ou dogma religioso". Porém, o mesmo percentual acreditam que "não dá para rir de tudo".

Os ataques de 7 de janeiro de 2015 abalaram o mundo e deram origem a um slogan de apoio que ficou famoso: "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie).

No dia 11 de janeiro daquele ano, quase 4 milhões de pessoas se manifestaram em toda a França, com a participação de muitos chefes de Estado e de Governo em uma marcha em Paris.

Dez anos depois, as comemorações organizadas para esta terça-feira contarão com a presença do presidente francês, Emmanuel Macron, e de vários de seus ministros.

A luta contra o terrorismo deve continuar "sem descanso", pediu Macron nesta segunda.

"O risco continua sendo alto em nossas sociedades", acrescentou.

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© Agence France-Presse

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