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Primeiro-ministro canadense Justin Trudeau renuncia em meio a popularidade baixa e crises

06/01/2025 14h12

O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau anunciou na segunda-feira (6) que deixará o cargo de chefe de governo assim que seu partido, o Partido Liberal do Canadá, encontrar um sucessor. Trudeau havia deixado um clima de grande expectativa mais cedo no meio político canadense ao anunciar que faria um discurso em um momento em que cada vez mais vozes pedem que ele renuncie, inclusive dentro de seu próprio partido.

Justin Trudeau, 53 anos, enfrenta um descontentamento crescente entre os membros eleitos de seu partido, que estão preocupados com as pesquisas desastrosas e a recente perda de duas cadeiras parlamentares tradicionalmente ocupadas pelo Partido Liberal. Alguns deles pediram publicamente que o primeiro-ministro renunciasse nas últimas semanas. 

"Pretendo renunciar ao cargo de líder do partido e de primeiro-ministro assim que o partido escolher seu próximo líder", declarou ele aos repórteres na capital Ottawa no início da tarde desta segunda-feira, pelo horário local. Quase dez anos depois de chegar ao poder, Trudeau estava sob pressão há semanas, com a proximidade de uma eleição geral e seu partido no fundo do poço nas pesquisas.

Trudeau anunciou, ao mesmo tempo, a suspensão do Parlamento canadense até 24 de março, mas permanecerá como primeiro-ministro para dar tempo ao seu partido de encontrar um substituto. 

"Este país merece uma escolha real na próxima eleição. Ficou claro para mim que, se eu tiver que travar batalhas internas, não poderei ser primeiro-ministro", disse ele, emocionado. 

As campanhas dentro do Partido Liberal podem durar vários meses. E mesmo que o processo seja acelerado, é improvável que Trudeau deixe o cargo nos próximos dias. Portanto, ele ainda deverá ser primeiro-ministro em 20 de janeiro, quando Donald Trump assumir o cargo. 

Popularidade baixa e crises 

Justin Trudeau, que antes havia anunciado sua intenção de se candidatar à reeleição, está atrás de seu rival conservador, Pierre Poilievre, por mais de 20 pontos nas pesquisas. A próxima eleição geral deve ser realizada até outubro de 2025. 

Com uma minoria no Parlamento, ele foi enfraquecido pela retirada de seu aliado de esquerda e pelo crescente descontentamento dentro de seu próprio partido. Depois de quase uma década no poder, Justin Trudeau agora está sofrendo com um baixo índice de popularidade, sendo responsabilizado pela alta inflação do país, bem como pela crise de moradia e serviços públicos. 

Além disso, o caos reina na capital Ottawa desde a surpreendente renúncia da vice-primeira-ministra Chrystia Freeland, que discordava de Justin Trudeau sobre como lidar com a iminente guerra econômica com os Estados Unidos. 

As declarações de Donald Trump nas últimas semanas aprofundaram a crise política do Canadá e provocaram ondas de choque em todo o país. O país está buscando uma resposta para as ameaças feitas pelo presidente eleito, que prometeu impor tarifas de 25% sobre o Canadá e o México assim que retornar ao poder em janeiro. 

Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Canadá e o destino de 75% de suas exportações. Cerca de 2 milhões de canadenses, de uma população de 41 milhões, dependem desse país. 

Causa perdida 

O contexto político atual é "altamente incomum", disse à AFP Lori Turnbull, professora da Universidade de Dalhousie. Durante o período de festas, várias personalidades têm trabalhado nos bastidores para assumir a liderança do partido. 

Segundo uma fonte do Partido Liberal, o ex-governador do Banco do Canadá, Mark Carney, 59 anos, que tem sido o conselheiro econômico do partido desde o verão passado, fez várias ligações nos últimos dias para avaliar seu apoio. O mesmo aconteceu com a ex-vice-primeira-ministra Chrystia Freeland. 

O partido deve realizar uma reunião importante na quarta-feira para discutir a situação.

Vários desafios aguardam seu sucessor, de acordo com especialistas, que estão apostando em uma vitória dos conservadores na próxima eleição. 

"É uma causa perdida", diz André Lamoureux, especialista em ciência política da Universidade do Quebec em Montreal (UQAM). "Ninguém no Partido Liberal está em condições hoje de recriar um entusiasmo, um movimento de filiação". 

Filho mais velho do carismático Pierre Elliott Trudeau, ex-primeiro-ministro morto em 2000, Justin Trudeau passou muito tempo buscando seu próprio caminho: boxeador amador, instrutor de snowboard, professor de inglês e de francês. 

Como primeiro-ministro, ele tornou o Canadá o segundo país do mundo a legalizar a maconha, introduziu a assistência médica na morte, um imposto sobre o carbono, lançou um inquérito público sobre mulheres aborígenes desaparecidas e assassinadas e validou uma versão modernizada do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). 

(Com informações da AFP)

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