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Presidente da Áustria encarrega líder de extrema direita de formar governo

06/01/2025 14h30

Por Francois Murphy

VIENA (Reuters) - O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, encarregou nesta segunda-feira o líder do Partido da Liberdade (FPO), de extrema direita, de formar um governo depois que uma tentativa centrista de montar uma coalizão sem a sigla fracassou inesperadamente no fim de semana.

O anúncio marca uma reviravolta dramática para o presidente -- um ex-líder dos Verdes de esquerda que há muito critica o FPO e entrou em conflito com seu líder, Herbert Kickl. Poucas opções restaram para Van der Bellen após o fracasso dos centristas em formar uma coalizão.

Eurocético e favorável à Rússia, o FPO venceu a eleição parlamentar de setembro passado com 29% dos votos. Agora, ele entrará em negociações com seu único parceiro potencial, o conservador Partido Popular (OVP), buscando liderar um governo pela primeira vez desde que foi fundado, na década de 1950, liderado por antigo oficial sênior da elite paramilitar SS de Hitler.

"Eu... o encarreguei de iniciar negociações com o Partido Popular para formar um governo", disse Van der Bellen em um discurso televisionado após se encontrar com Kickl, acrescentando: "Não tomei essa medida levianamente".

Quando Kickl saiu da reunião com o presidente, centenas de manifestantes, incluindo estudantes judeus e ativistas de esquerda, vaiaram, assobiaram, gritaram "Fora nazistas" e agitaram faixas com slogans como "Não queremos uma Áustria extremista de direita".

Van der Bellen enfureceu o FPO ao não incumbi-lo de formar um governo logo após a eleição, já que nenhum parceiro de coalizão em potencial apareceu imediatamente. Essa tarefa coube ao conservador Partido Popular (OVP) e seu líder, o chanceler Karl Nehammer. O OVP ficou em segundo lugar na eleição.

As tentativas de Nehammer de montar uma coalizão de três e depois dois partidos com outras siglas centristas fracassaram neste fim de semana, levando-o à renúncia.

OVP ABERTO A NEGOCIAÇÕES

Nehammer insistiu por muito tempo que seu partido não governaria com Kickl, dizendo que o líder do FPO era um teórico da conspiração e uma ameaça à segurança. O sucessor interino de Nehammer como líder do OVP, Christian Stocker, disse no domingo que seu partido se juntaria às negociações de coalizão lideradas por Kickl.

"Estamos bem no começo. Se formos convidados para essas conversas, o resultado delas estará em aberto", disse o peso-pesado do OVP Wilfried Haslauer, governador do estado de Salzburgo que estava ao lado de Stocker em sua primeira declaração como líder designado do partido, à emissora ORF.

No entanto, se essas negociações fracassarem, é provável que ocorram eleições antecipadas. Pesquisas de opinião mostram que o apoio ao FPO só cresceu desde setembro.

O OVP e o FPO se sobrepõem em várias questões, particularmente no que diz respeito à adoção de uma linha dura em relação à imigração.

A questão mais espinhosa nas negociações dos centristas, no entanto, era como reduzir o déficit orçamentário, que deverá exceder o limite da UE de 3% da produção econômica em 2024 e 2025.

Enquanto ambos os partidos pedem cortes de impostos, o FPO prometeu atacar alguns dos interesses do OVP, como a poderosa Câmara de Comércio. Eles também entraram em choque sobre a oposição do FPO à ajuda à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia, e os planos atuais para um sistema de defesa antimísseis.

Van der Bellen disse repetidamente que permanecerá vigilante para garantir que "os pilares da democracia", incluindo direitos humanos, mídia independente e filiação da Áustria à União Europeia, sejam respeitados.

(Reportagem de Francois Murphy)

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