Países latino-americanos se planejam para expulsões em massa nos EUA com chegada de Trump ao poder
A Guatemala está se "preparando para expulsões em massa de seus cidadãos dos Estados Unidos", anunciou um porta-voz do governo guatemalteca nesta segunda-feira (6). Outros países latino-americanos também tomam providências sobre o tema e a esperada onda de deportações de estrangeiros que pode ocorrer em breve, a partir da posse em 20 de janeiro, conforme prometido pelo presidente eleito Donald Trump.
"Estamos trabalhando em um plano específico" diante da ameaça de expulsões em massa de migrantes, disse o secretário encarregado das comunicações da presidência, Santiago Palomo, em uma coletiva de imprensa, prometendo 'anúncios importantes' nos próximos dias.
"Quaisquer medidas tomadas respeitarão a dignidade dessas pessoas, seus direitos e garantirão seu retorno [à Guatemala] de acordo com os padrões internacionais", acrescentou, sem dar mais detalhes.
O republicano Donald Trump prometeu usar o exército para realizar "a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos". O bilionário descreve a entrada de estrangeiros sem documentos pela fronteira com o México como uma "invasão".
As autoridades da Guatemala estimam que cerca de 2,7 milhões de guatemaltecos vivem nos Estados Unidos, mas apenas 400 mil deles têm documentos que os autorizam a trabalhar.
Em 2024, os Estados Unidos deportaram um recorde de 61.680 guatemaltecos.
Latino-americanos preocupados
Em 27 de dezembro, o governo mexicano chegou a anunciar a introdução de um "botão de pânico" para seus cidadãos nos Estados Unidos, ameaçados pelas deportações em massa prometidas pelo presidente eleito Donald Trump após sua posse em 20 de janeiro.
"Se você se encontrar em uma situação de prisão iminente, você ativa um botão de alerta que envia um sinal para o consulado mais próximo", explicou o ministro das Relações Exteriores, Juan Ramon de la Fuente.
O México realizou reuniões a respeito de possíveis deportações com os governos de outros países da região, como Honduras e Guatemala.
Estima-se que os mexicanos que vivem nos Estados Unidos terão enviado um total de "quase US$ 66,5 bilhões para o país em 2024, o que representará 3,7% do PIB nacional", de acordo com o banco BBVA em um documento datado de 29 de agosto.
Trabalhadores do campo tem maioria de imigrantes
Depois de uma vida inteira vivida no campo californiano, Joe Del Bosque conhece bem o paradoxo americano: para se alimentar, os Estados Unidos dependem muito de imigrantes sem documentos, mas esse contingente de trabalhadores "essenciais" nunca foi realmente bem-vindo.
"Quando eles precisam de trabalhadores imigrantes nos campos, eles os aceitam, e quando não precisam deles, os jogam fora", resume esse fazendeiro de 75 anos entre suas amendoeiras.
Como ele, muitos agricultores temem as declarações feitas por Donald Trump, que prometeu deportar milhões de imigrantes ilegais quando retornar à Casa Branca.
Isso é paradoxal em áreas rurais que frequentemente votaram a favor do bilionário republicano. Perto das terras de Del Bosque, um fazendeiro vizinho exibe orgulhosamente uma grande placa "Trump 2024".
Se o novo presidente cumprir suas promessas de deportações em massa, a produção de alimentos dos EUA poderá ser rapidamente interrompida e o preço de determinados produtos poderá subir, de acordo com muitos economistas.
Dos 2,4 milhões de trabalhadores agrícolas nos Estados Unidos, 44% estão sem documentos, de acordo com uma pesquisa do Departamento do Trabalho.
Em sua fazenda no centro da Califórnia (oeste), Del Bosque torce para que ninguém o incomode. Donald Trump "falou sobre deportações, mas não sabemos o que isso significa. Significa todo mundo? Criminosos?", quesitona. "De qualquer forma, esperamos que isso não signifique que ele vai ordenar batidas em nossas fazendas, porque sem nossos homens, elas vão parar."
Rick Naerebout, diretor-executivo da Idaho Dairy Farmers Association (Northwest), compartilha esse diagnóstico. No caso de expulsões em massa, "bastariam apenas alguns dias de interrupção sem a possibilidade de alimentar ou ordenhar nossas vacas para que o setor de laticínios de todo o país" sofresse "danos irreparáveis", acredita ele.
A agricultura americana "depende muito da mão de obra sem documentos", diz o economista David Ortega. Muitos imigrantes ilegais "realizam funções essenciais que muitos trabalhadores nascidos nos Estados Unidos não podem ou não querem realizar", como semear ou colher nas plantações, continua esse professor da Universidade de Michigan.
"Os americanos não querem esses empregos", diz Naerebout, em contraste com as afirmações amplamente repetidas de Donald Trump de que os imigrantes estão 'roubando' o trabalho dos cidadãos nacionais.
No ano passado, um dos produtores de laticínios de sua associação em Idaho fez um anúncio para cerca de "6 mil trabalhadores", diz ele. "Eles receberam menos de 30 candidaturas nacionais. (...) Apenas 12 delas foram entrevistadas, e apenas duas pessoas foram contratadas, mas não para a colheita".
(com AFP)