Após interrogar mototaxista, criminoso o mata com tiro nas costas; vídeo
Um mototaxista morreu com cinco tiros pelas costas após deixar uma passageira no bairro do Pici, em Fortaleza, e ser abordado por criminosos. O homicídio foi gravado pelo próprio criminoso e as imagens fortes circulam nas redes sociais.
O que aconteceu
Um motociclista por aplicativo de 21 anos foi morto com tiros pelas costas após deixar uma passageira no bairro da zona oeste de Fortaleza. O caso aconteceu no dia 17 de dezembro, mas ganhou repercussão nesta semana após divulgação do vídeo do crime.
A vítima teria deixado uma passageira na região quando os criminosos o abordaram. Na sequência, o atirador aparenta liberá-lo: "vai, vai, vai embora". Contudo, disparos são ouvidos e o homem é atingido nas costas.
O mototaxista seria de uma região dominada por uma facção rival da que o criminoso pertenceria. O UOL apurou que o Pici sofre com a presença do crime organizado, com o tráfico na região sendo controlado pelo CV. Ainda não se sabe o bairro em que a vítima residia, mas o Ceará tem registrado altos índices de violência com a tentativa de expansão de grupos criminosos pela capital. Somente em dezembro, três homens teriam morrido no bairro por estarem envolvidos com uma facção rival.
A Polícia Civil do Ceará investiga as circunstâncias da morte do jovem. "A vítima, um homem de 21 anos, foi a óbito após ser lesionada por disparos de arma de fogo em uma via pública da região. A 6° Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) realiza diligências para elucidar o caso", disse a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), em nota.
Guerra de facções gera violência
A intensa guerra por controle territorial no Ceará tem despertado a atenção pelo alto índice de mortes e violência na capital. No ano passado, ao menos quatro chacinas chocaram a população do estado, com facções expandindo suas áreas de influência.
Cinco facções têm influência em Fortaleza. Para a coluna de Carlos Madeiro, no ano passado, o sociólogo e pesquisador do LEV (Laboratório de Estudos da Violência) da UFC (Universidade Federal do Ceará) Luiz Fábio Paiva, explicou que a dinâmica do crime no estado se transformou a partir de 2005.
Ele explica que, a partir dali, houve um "reordenamento da dinâmica criminal, com a ascensão de facções criminosas".
O Ceará vive há pelo menos 20 anos situações de conflito armado extremamente violento. Muitas chacinas ocorreram justamente em função do rearranjo das forças de grandes facções no interior e busca pela hegemonia do crime.
Luiz Paiva
Nesse cenário, um fator que agravou a tensão foi a criação da facção GDE (Guardiões do Estado), um grupo local criado em 2014 que ficou conhecido por conta da forma violenta com que costuma agir.
Ela surgiu em um momento em que PCC e CV já atuavam no estado e replicavam, no Ceará, as tensões e disputas nacionais. Um terceiro grupo acabou colocando ainda mais artefatos na guerra. A facção "Massa", que surgiu após conflitos internos nos grupos cearenses, e o TCP (Terceiro Comando Puro), oriundo do Rio de Janeiro, também atuam no estado.
O CV se consolidou dentro dos territórios, dentro dos bairros ocupando realmente territórios, enquanto o PCC tem uma posição estratégica, inclusive apoiando o grupo local que era a GDE, que disputa os territórios com a o CV: elas invadem territórios inimigos e expulsam os faccionados. Obviamente, isso se tornava suscetível a revanches do outro grupo.
Luiz Paiva
Existem muitos investimentos na área de segurança, com policiamento, mas isso não tem surtido um efeito na redução dos homicídios em longo prazo. É preciso ações em grande escala para uma transformação das realidades periféricas e, consequentemente, o crime não controlando territórios; não é contratando mais policiais que vai ser resolvido.
Luiz Paiva