Análise: comentários de Musk sobre política alemã e britânica não são vistos com bons olhos na Europa
Ele está em toda parte, promovendo o que entende por "bem" e combatendo o que entende por "mal". Sua visão de mundo não reconhece fronteiras. É cidadão norte-americano, mas vê a si mesmo como um "cidadão do mundo", de alcance planetário, atuando nos cinco continentes habitados. É o Batman? O Capitão América? O Super-Homem? Não! Ele é muito mais do que um super-herói de ficção.
Flávio Aguiar, analista político
Ele é real. Ele é Elon Musk, o multibilionário que nasceu na África do Sul, transitou pelo Canadá, naturalizou-se norte-americano e nas últimas semanas habita um chalé de luxo em Mar-a-Lago, a cidadela do ex-presidente e agora de novo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em Palm Beach, na Flórida.
O referido chalé se situa a algumas centenas de metros da casa principal, ocupada por Trump. Nomeado para ser um dos secretários para a Promoção da Eficiência Governamental, junto com outro empresário de sucesso, Vivek Ramaswamy, hoje Musk é descrito como um dos conselheiros mais influentes de Donald Trump. Não só quanto à administração do governo, mas também sobre todos os assuntos relevantes para um presidente dos Estados Unidos, inclusive a política externa.
Elon Musk nasceu em 1971 na cidade de Pretória, sede do Poder Executivo da África do Sul, primogênito de três irmãos e de alguns meio-irmãos, dentro de uma próspera família branca. Entretanto, já descreveu seu pai, Errol Musk, como "um homem violento" de quem sua mãe se divorciou quando ele ainda era criança.
Musk começou seus estudos em Pretória, mas ainda jovem mudou-se para o Canadá, onde sua mãe tinha parentes. Depois foram para a Califórnia, nos Estados Unidos.
Ele tornou-se um empresário de grande sucesso, agindo em vários ramos, como no setor de comunicações e redes sociais, no automotivo e na produção de energia renovável, sobretudo solar e tem investimentos no mundo inteiro. É considerado o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em mais de US$ 450 bilhões.
Musk na política mundial
O magnata fez uma doação de US$ 250 milhões para a campanha de Donald Trump em 2024, tornando-se seu principal financiador. Por isso há quem diga, ironicamente, que antes de ser nomeado para o governo, foi Musk que empregou Trump como seu político preferido.
Politicamente, Musk teve uma atuação oscilante no passado. Fez doações para o Partido Democrata e para o Partido Republicano. Consta que na eleição presidencial de 2016 votou em Hillary Clinton, que concorreu contra Donald Trump. Porém, pouco a pouco sua preferência foi convergindo para políticos de extrema direita, em escala mundial.
O empresário interferiu, semeou controvérsia e confusão no Canadá, na Austrália, na França e na União Europeia. Sua rede social X, o antigo Twitter, envolveu-se em controvérsia judicial até no Brasil, chegando a ser fechada por ordem do juiz Alexandre de Moraes, acusada de afrontar a legislação do país. Musk recuou, acatou as regras de Moraes e reativou o X no Brasil, sendo um dos poucos casos em que ele conheceu e reconheceu uma derrota política e judicial.
Além de atuar nos Estados Unidos ao lado de Trump, nos últimos tempos voltou-se para o Reino Unido e agora, no apagar das luzes de 2024 e chegada de 2025, aterrissou na política alemã, como de costume, provocando terremotos.
Aproximação com a extrema direita europeia
No Reino Unido aproximou-se de Nigel Farage, líder do partido de extrema direita "Reform UK", "Reforma o Reino Unido". Criticou o primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer quando este mandou reprimir manifestações e agressões islamofóbicas contra cidadãos muçulmanos.
Mais recentemente pressionou o governo de Londres para libertar Tommy Robinson, líder de extrema direita, acusado de incitar a violência contra os muçulmanos.
Nas últimas semanas, Musk teceu críticas pesadas ao atual chanceler alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata, chamando-o de "fool", que se traduz por "louco", mas que no contexto significa algo como um "bufão desmiolado". E literalmente acendeu uma fogueira ao defender o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD, "Alternative für Deutschland"), afirmando que ele é o único que "pode salvar o país" e pedindo que votem nele na eleição prevista para fevereiro.
A atitude de Musk levantou polêmicas na mídia alemã, despertando defesas e críticas de políticos e jornalistas. O próprio chanceler deu-lhe uma indireta, dizendo que quem vai decidir o futuro da Alemanha é o povo alemão e não algum dono de rede social.
O jornalista Georg Diez escreveu no jornal Zeit um artigo intitulado "O feudalismo está de volta", dizendo que Musk não se comporta como um empresário, mas sim como um príncipe medieval. Eu diria mais: ele, na verdade, vem se comportando como um papa medievo, que procurava regrar o comportamento das nações e dos estados modernos então emergentes. Um papa arrogante, que se acha eleito não pelo Colégio dos Cardeais, mas pelos bilhões de dólares que possui.