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Rica, fashion e amante discreta: quem era socialite 'bem amada' de Getúlio

Montagem de fotografias mostra Aimée, então casada com Luiz Simões Lopes, e Getúlio Vargas em março de 1938. Caso extraconjugal entre a jovem e o então presidente foi descrito nos diários de Vargas - Arquivo Alzira Vargas Amaral Peixoto, CPDOC/FGV
Montagem de fotografias mostra Aimée, então casada com Luiz Simões Lopes, e Getúlio Vargas em março de 1938. Caso extraconjugal entre a jovem e o então presidente foi descrito nos diários de Vargas Imagem: Arquivo Alzira Vargas Amaral Peixoto, CPDOC/FGV
do UOL

Giovanna Arruda

Colaboração para o UOL

06/01/2025 05h30

Considerada uma das damas mais elegantes de sua época, Aimée de Heeren frequentou ambientes luxuosos ao redor do mundo, era um importante nome no mundo da moda e foi namorada de Getúlio Vargas, em um caso extraconjugal.

Quem foi Aimée de Heeren

Natural do Paraná, Aimée viveu boa parte da vida fora do país. Nascida no município de Castro e tida como a primeira socialite brasileira, Aimeé morou em mansões nos Estados Unidos e na França.

Na adolescência, Aimée se mudou com a família para o Rio de Janeiro. À época, a jovem já mantinha contato com nomes da alta sociedade. Em terras cariocas, se casou com Luiz Simões Lopes, então chefe de gabinete de Getúlio Vargas e que posteriormente criaria a fundação que leva o nome do ex-presidente.

Entre as amizades de Aimée, estavam nomes como a estilista Coco Chanel. A relação de Aimée com a moda era uma de suas principais características, e a brasileira vestia peças de Christian Dior antes mesmo de a grife ter a fama atual. Em 1942, a revista Time a elegeu como uma das dez mulheres mais bem vestidas do mundo, ficando atrás somente da Duquesa de Windsor e de Barbara Cushing, editora de moda da Vogue norte-americana.

A coleção de vestidos do acervo de Aimée está exposta no Fashion Institute of Technology, em Nova York. Entre as peças, estão vestidos de grifes como Dior, Balenciaga e Chanel.

Além da moda, Aimée tinha espaço entre os políticos e membros da nobreza. A experiência com grandes eventos sociais fazia com que a brasileira fosse acionada por embaixadores para a organização de suas festas. Em suas casas ao redor do mundo, a socialite preparava jantares e encontros, sendo uma anfitriã conhecida entre nomes da política e do mundo dos negócios, como Marcos Azambuja, que foi embaixador em Buenos Aires e em Paris.

A socialite não revelava sua idade, e especula-se que Aimée tenha nascido em 1903. A brasileira morreu em Nova York em 2006.

Livro conta trajetória de Aimée de Heeren - Reprodução/Amazon - Reprodução/Amazon
Livro conta trajetória de Aimée de Heeren
Imagem: Reprodução/Amazon

Um novo livro conta como a história de Aimée é "entrelaçada com as transformações sociais, políticas e culturais decisivas do século 20". A Bem-Amada: Aimée de Heeren, a Última Dama do Brasil (Todavia) foi escrito pelo jornalista Delmo Moreira. Segundo a obra, a trajetória da socialite é marcada pelo glamour das colunas sociais e pelo caso extraconjugal com Getúlio Vargas.

A relação com Getúlio Vargas

O relacionamento entre Aimée e Getúlio Vargas começou enquanto a socialite era casada com Simões Lopes. "Ela era uma mulher tão discreta que namorou o presidente da República no Rio de Janeiro e isso jamais saiu em jornais", disse Delmo Moreira em entrevista ao Estadão.

O affair aconteceu entre 1937 e os primeiros meses de 1938. O caso coincidiu com importantes acontecimentos na história política do Brasil, como a nova Constituição de 1937, que marcava o início do Estado Novo.

Após o caso ser descoberto pelo marido e pela então primeira-dama Darcy Vargas, Aimée se separou de Simões Lopes e se mudou para Paris. Na capital francesa, a brasileira passou a frequentar a alta sociedade do final da década de 1930, sendo um dos grandes nomes do baile de Paris.

Aimée Simões Lopes (à esquerda) e Alzira Sarmanho Vargas, filha de Getúlio Vargas, em fevereiro 1938. Aimée tinha relações próximas com a família do então presidente - Arquivo Alzira Vargas Amaral Peixoto, CPDOC/FGV - Arquivo Alzira Vargas Amaral Peixoto, CPDOC/FGV
Aimée Simões Lopes (à esquerda) e Alzira Sarmanho Vargas, filha de Getúlio Vargas, em fevereiro 1938. Aimée tinha relações próximas com a família do então presidente
Imagem: Arquivo Alzira Vargas Amaral Peixoto, CPDOC/FGV

Com a publicação dos diários de Getúlio Vargas em 1995, foram divulgados o nome de Aimée e a relação com o político. Nas anotações datadas de 1930 a 1942, Getúlio Vargas cita a amante diversas vezes, enfatizando a paixão e os riscos familiares e políticos que corria ao se encontrar com Aimée. Segundo os registros de Vargas, foram ao menos 38 encontros com a jovem, chamada pelo amante de "Bem Amada". "Ela é a luz balsâmica e compensadora dos meus dias atribulados", escreveu.

Terminado o expediente, saí à tardinha para um encontro longamente desejado. Um homem no declínio da vida sente-se, num acontecimento destes, como banhado por um raio de sol Getúlio Vargas sobre Aimée, em anotação em seu diário datada de abril de 1937

Segundo marido e relacionamento aberto

Em Palm Beach, na Flórida (EUA), Aimée conheceu seu segundo marido, Rodman de Heeren. O rapaz era um dos herdeiros da Wanamaker, uma das maiores lojas de departamento dos EUA. Com o matrimônio, Aimée passou a carregar o sobrenome "de Heeren". No auge de sua fortuna, a socialite tinha quatro casas: em Nova York, em Palm Beach, em Paris e em Biarritz (França).

Segundo as pesquisas de Moreira, Aimée e Rodman de Heeren passaram a conviver como amigos. Os dois cultivavam namoros fora do casamento, em uma configuração equivalente a um relacionamento aberto atual. "Esse não é um arranjo incomum na elite. Eles não queriam dividir o patrimônio", conta o autor.

Apesar do romance com Getúlio Vargas, Aimée permaneceu pouco conhecida no Brasil. Mesmo após a divulgação dos diários do ex-presidente, a fama da brasileira era maior no exterior. "Ela tem essa quase contradição de ser uma celebridade com uma vida pouco conhecida. Era mais conhecida lá fora. Quando ela morre, não sai nada aqui. Já o New York Times dá um obituário de duas páginas e a chama de 'última dama' da Era de Ouro, de 1960, 1970", lembra Moreira.

Segundo Moreira, Aimée se recusava a dar entrevistas complexas. A socialite também dispensou pedidos para colaboração para uma biografia sobre sua vida. "As pessoas só se interessam por crime e sexo. Crime não tem na minha vida, e de sexo eu não vou falar", dizia Aimée.

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