Venezuelanos exilados na Argentina apoiam Edmundo González em sua estratégia para derrubar Maduro
O presidente eleito da Venezuela, Edmundo González Urrutia, visitou neste sábado (4) o presidente argentino, Javier Milei, na Casa Rosada, como primeira escala de uma estratégia internacional para pressionar a queda do regime de Nicolás Maduro. Em frente à Casa Rosada, os manifestantes lotaram a Praça de Maio em apoio ao presidente eleito que promete voltar à Venezuela para assumir a Presidência no próximo 10 de janeiro.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Do lado de fora da Casa Rosada, sede do governo argentino, milhares de manifestantes, na sua maioria venezuelanos que fugiram do regime de Nicolás Maduro, gritam "Liberdade" e pedem uma "Venezuela Livre". A manifestação é uma demonstração de força contra os planos de Maduro de assumir um novo mandato dentro de uma semana, em 10 de janeiro.
Um dos que gritam como a própria sobrevivência de um povo é René Ramírez, de 42 anos, há oito na Argentina. René explica à RFI que a importância desta primeira manifestação na América Latina, a seis dias do fim do mandato de Nicolás Maduro, é motivar os venezuelanos que continuam no país a não baixar os braços.
"A estratégia é apoiar os nossos compatriotas, oprimidos por Maduro, a não desistirem. Queremos levantar a moral deles com esta manifestação e com todas as que vão acontecer pelo mundo", indica René, segurança privado em Buenos Aires.
O venezuelano ergue uma bandeira da pátria que forçosamente abandonou. Ao seu lado, um cartaz agradece ao presidente Milei por apoiar os venezuelanos.
"Eu sei que dói e que haverá derramamento de sangue. Não queremos isso porque lutamos para que este regime saia pela via pacífica e que aproveite todos os mecanismos da democracia", teme.
Pressão internacional
Do lado de dentro da Casa Rosada, Edmundo González, reúne-se com o presidente argentino, Javier Milei. A escala na Argentina, a primeira em um país da América Latina, é consequência da liderança opositora ao regime venezuelano por parte do presidente argentino, que foi o primeiro líder mundial a denunciar a fraude eleitoral e a não reconhecer o resultado das eleições de 28 de julho passado. "Obrigado, Milei", grita a multidão com regularidade.
Edmundo González antecipa, nesta visita, a pressão internacional com Javier Milei, aliado de Donald Trump. Dez dias depois, em 20 de janeiro, Trump vai assumir o cargo com o mesmo propósito de reconhecer Edmundo González como o legítimo presidente da Venezuela.
"Serão Trump e Milei a liderar o ataque à resistência de Maduro. Edmundo González conta com essa aliança", acredita o analista internacional argentino, Jorge Castro.
Maduro contra-ataca Milei
Mas a aposta de Milei contra Maduro tem feito o regime venezuelano reagir. Em agosto, expulsou o corpo diplomático argentino do país. O Brasil assumiu os serviços consulares da Argentina em Caracas.
Na Embaixada da Argentina, sob bandeira brasileira, seis ex-integrantes da equipe de campanha da opositora María Corina Machado resistem às intimidações de Maduro que não respeitam o direito internacional.
Há um mês, o regime de Nicolás Maduro prendeu o cabo argentino Nahuel Gallo. O militar tinha entrado na Venezuela para visitar a esposa venezuelana e a filha, mas foi preso sob a falsa acusação de espionagem e de terrorismo.
O Comitê Interamericano de Direitos Humanos (CIDH) pediu que Maduro informe sobre o cabo da Polícia do Exército argentino, cujo paradeiro é desconhecido. "Uma situação grave e urgente", exortou a CIDH.
A Organização dos Estados Americanos exigiu a imediata libertação do militar e considerou a prisão arbitrária como "crime de lesa humanidade".
Euforia popular e importância estratégica da visita à Argentina
De repente, o venezuelano Edmundo González e o argentino Javier Milei saem à varanda da Casa Rosada para saudar a multidão, que vai à loucura aos gritos de "Liberdade, Liberdade".
Edmundo González já conhecia a Casa Rosada, desde quando foi embaixador da Venezuela na Argentina (1999-2002), bem no começo do governo de Hugo Chávez.
Adriana Flores é chefe do comando de campanha de Edmundo González e de María Corina Machado na Argentina. Ela participou da reunião e disse à RFI na porta da Casa Rosada que não pode contar qual é a estratégia do presidente eleito para voltar à Venezuela e assumir o cargo sem ser preso pelo regime - que ofereceu US$ 100 mil por informações que levem à captura de Edmundo González Urrutia.
"Não é coincidência que Edmundo González tenha chegado à Argentina em primeiro lugar. A Argentina é, geopoliticamente, uma nação muito estratégica pela influência na região e ao nível mundial, devido à Presidência de Javier Milei. Por outro lado, estamos tecendo alianças estratégicas que vão jogar a favor no dia 10 de janeiro", explicou Adriana Flores sobre a importância da visita.
"Esta manifestação na Argentina é um incentivo para que os nossos compatriotas na Venezuela repliquem os protestos no dia 10 de janeiro. Por isso, chamamos todos às ruas, absolutamente todos", pede a chefe de campanha.
Brasil não está no roteiro da estratégia internacional
As visitas de Edmundo González Urrutia aos países da região continuam pelo Uruguai, pela República Dominicana e pelo Panamá.
Além desses países da América Latina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru também acusam Nicolás Maduro de fraude e reconhecem Edmundo González como eleito.
O opositor venezuelano não irá ao Brasil, nem à Colômbia, nem ao México.
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