Já faz um bom tempo que os preços dos carros estão estáveis.
No período da pandemia, os preços explodiram, com correções em quase todos os meses - mas, felizmente, voltamos a ter apenas aumentos pontuais e até mesmo descontos generosos. Tudo isso tem impactado o mercado de veículos usados - que como um elástico, acompanha as variações e a estabilidade do mercado de novos.
Fato é, que mesmo estáveis, nossos carros ainda são caros e inacessíveis para boa parte dos brasileiros. Quem pretende comprar um exemplar zero- quilômetro precisa separar cerca de R$ 70 mil só para a compra, fora outros custos como emplacamento, IPVA e seguro. É muito dinheiro, ou melhor, muitas horas trabalhadas para conquistar um automóvel.
Não por acaso, cada vez mais pessoas procuram carros no mercado de usados, que consegue atender o público que precisa de um automóvel por menos de R$ 70 mil. Aliás, não faltam boas opções usadas, mais completas, seguras e potentes, que também são mais baratas que qualquer modelo zero.
Porém, nem tudo é perfeito no mercado de usados. É preciso atenção no momento da compra para não comprar um carro "maquiado", que em pouco tempo vira um pesadelo na sua garagem.
Na coluna desta semana, apresento importantes dicas do que você deve observar numa procura por um usado e, caso se depare com um desses itens, recomendo que repense a compra.
1 - Radiador sem aditivo
Um dos pontos mais críticos de carros usados, principalmente aqueles com idade e quilometragem avançadas, é o sistema de arrefecimento.
Eu me impressiono com a falta de atenção com a manutenção desse sistema, que é das mais baratas. Basta aparecer o primeiro problema, como um vazamento, para que o motorista opte por apenas completar o reservatório com água pura, ao invés de solucionar o real problema.
Com o tempo, o líquido original, que é uma mistura de água desmineralizada com aditivo, vira apenas água.
Essa água pura é como um câncer para o motor, pois vai corroendo as galerias por onde passa, além de enferrujar componentes como bomba d'água e válvula termostática.
Sendo assim, caso você se depare com um reservatório completo apenas com água, ou até mesmo com a coloração do aditivo muito clara, o que indica proporção baixa do mesmo, evite a compra do carro.
Você pode até pensar que basta tirar essa água pura e adicionar a mistura correta, mas os estragos continuarão lá, e a conta do reparo nunca é pequena.
As oficinas mecânicas nem gostam de lidar com essa manutenção corretiva, pois sabem que, mesmo fazendo tudo do jeito certo, são grandes as chances de retorno do problema no curto prazo, por conta de novos vazamentos que podem aparecer.
2 - Pneus remoldados
Eu já tive pneus remoldados no meu primeiro carro.
Caso o leitor não saiba, são pneus usados, já no fim da vida, que recebem uma nova camada de borracha na banda de rodagem.
É melhor do que andar com pneus carecas, sem dúvida, mas está longe de ser a melhor solução.
Quando usei esses pneus, não gostei da experiência. Apresentaram desgaste rapidamente, de maneira bem irregular, além de surgirem bolhas com muita facilidade. Jamais transmitiram a mesma segurança.
Hoje, quando vejo um carro usado com pneus remoldados, fico com a percepção de que foi utilizado por alguém sem condições de mantê-lo como se deve. Se economizou nos pneus, é provável que tenha economizado na escolha do óleo lubrificante, do combustível e de peças de reposição.
Um carro como esse pode até estar funcional, mas dificilmente traz manutenções em ordem e, provavelmente, vai dar gastos indesejados no curto prazo.
3 - Falta de comprovante de manutenção
O manual do proprietário é composto por alguns livretos, sendo que um deles é o do cronograma de manutenção, com o espaço para anotar e carimbar as revisões feitas ao longo do tempo, sejam nas concessionárias ou em oficinas particulares.
Ocorre que esse livreto das manutenções, tem pernas próprias, em muitos casos. É impressionante como ele some, desaparece, evapora...
Pode parecer bobagem a ausência desse livreto, mas ele é um forte indício de adulteração de quilometragem. Ele pode apresentar aquilo que o vendedor talvez não queira mostrar, como um registro de manutenção com quilometragem superior à que está no painel.
Sendo assim, recomendo que verifique o manual com atenção e suspeite dos exemplares sem o respectivo livreto de manutenção.
Alguns carros mais recentes já aposentaram o manual de papel e os registros são feitos em aplicativos do fabricante.
É uma boa solução para inibir as adulterações e forçar o proprietário a realizar as revisões.
4 - Luzes de alerta acesas
Muita atenção nas luzes do painel de instrumentos.
Algumas delas acendem no momento da partida, mas logo devem se apagar. Como é um processo muito rápido, vale a pena utilizar o celular no modo vídeo para gravar e depois assistir várias vezes, até ter certeza das luzes que acendem.
Luzes de alerta importantes como de pressão do óleo, airbags, freios ABS, injeção eletrônica e controle de estabilidade podem ser desconectadas propositalmente pelo vendedor, para não acusarem falhas nesses sistemas.
Porém, se estiverem funcionando perfeitamente, mas não se apagarem, a boa notícia é que o vendedor não está querendo enganar ninguém.
A má notícia é que o carro tem problemas. Se o interesse por ele for grande, recomendo que só feche o negócio depois da certeza do diagnóstico feito por um profissional de confiança para poder negociar o reparo e o preço do veículo.
5 - Ar-condicionado não gela
Esse é um problema muito chato de se resolver.
O ar-condicionado é um sistema que precisa ser usado com frequência e, quando apresenta falhas, geralmente é pela falta de uso.
Muitos carros usados são oferecidos com defeito na climatização, mas o vendedor garante que uma nova carga de gás refrigerante é suficiente para deixá-la em ordem.
Nunca acredite nisso, pois uma carga de gás é barata e até pode solucionar a falha momentaneamente, mas bastam alguns dias para o gás vazar e problema voltar.
O leitor pode imaginar que esse defeito aparece somente em carros mais antigos, mas, infelizmente, isso não é verdade.
Oficinas especializadas em manutenção de ar-condicionado estão sempre atendendo carros modernos, recém saídos da garantia do fabricante.
Uma manutenção bem feita, que de fato descubra o real problema, sempre fica cara. Por isso, ao se deparar com um carro usado com ar que não gela, o ideal é procurar outro.
6 - Lâmpadas não originais
Outra coisa que eu não gosto de me deparar é com adaptações na parte da iluminação.
Já foi o tempo em que os faróis dos carros eram ineficientes. Hoje em dia, até mesmo o pior deles ilumina muito bem à noite - portanto, as adaptações com lâmpadas mais fortes ou mais claras são meramente estéticas.
Já presenciei casos em que o sistema elétrico do carro não suportou as lâmpadas mais fortes, e outros problemas apareceram por conta disso.
Também é preciso considerar que o material dos faróis e das lanternas foi projetado para suportar a temperatura de uma lâmpada original, e não lâmpadas mais potentes. É por isso que nos deparamos com tantos carros que apresentam derretimento em partes dessas peças.
Ou seja, se você não quer ter problemas elétricos no seu carro, prefira um que preserve sua originalidade.
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