"Minha cliente teve uma desconexão no tempo e no espaço", diz advogado de ex-atriz que atropelou brasileiros na Argentina
Patricia Scheuer, a empresária argentina que atropelou um casal de brasileiros, matando o homem na hora e deixando gravemente ferida a esposa, alegou ter tido uma "desconexão temporo-espacial de 10 segundos" conhecida como "síndrome de despersonalização". Se conseguir provar o "apagão", pode ser inocentada do homicídio de Fernando Pereira de Amorim Junior e das graves lesões de Cleusa Adriana Nunes Pombo.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
A empresária gastronômica e ex-atriz, Patricia Scheuer, foi libertada da prisão preventiva na tarde desta quinta-feira (2), após a audiência de custódia, via zoom, no final da manhã.
A acusada de homicídio culposo (sem intenção de matar) e de lesões graves fez uso do recurso de não responder às perguntas, limitando-se a dar a sua versão do episódio que culminou no atropelamento do casal de brasileiros Fernando Pereira de Amorim Junior e das lesões de Cleusa Adriana Nunes Pombo.
Fernando, de 62 anos, morreu no local, antes da chegada dos socorristas. Cleusa, de 50 anos, foi levada ao Hospital Fernández. Vindo de São Paulo, o casal fazia a sua primeira viagem a Buenos Aires, onde chegou no dia 28 de dezembro para passar o Ano Novo. Por volta das 10h30 do dia 1º, na esquina das avenidas Libertador com Alvear, quando os dois aguardavam para atravessar, a SUV Nissan Kicks subiu a calçada, atingindo os brasileiros.
"Apagão de 10 segundos"
À Justiça, Patricia Scheuer disse ter tido um "apagão de uns 10 segundos", conforme declarações à imprensa do advogado da defesa Alfredo Humber. "Ela sofreu uma desconexão no tempo e no espaço", garantiu.
Fontes do Ministério Público acrescentaram que Patricia Scheuer alegou sofrer de uma síndrome de perda de consciência, conhecida como "síndrome de despersonalização" que provoca repentinas desconexões temporo-espaciais. Essa desconexão, segundo a defesa, teria levado a empresária a perder a consciência e o controle do veículo.
No seu depoimento, a mulher citou antecedentes psiquiátricos e um prolongado tratamento contra depressão e ansiedade. Contou que, há um ano, viveu um episódio semelhante, onde tudo apagou por 10 ou 15 segundos. "Ela relatou já ter vivido um episódio semelhante, mas dentro de casa", contou o advogado.
Após essa experiência, realizou exames num conhecido centro neurológico de Buenos Aires, obtendo resultados normais que a fizeram continuar a dirigir sem preocupação.
Processo em liberdade
Poucas horas depois, Scheuer deixou a cela da delegacia N°15, onde ficou em prisão preventiva por cerca de 30 horas. A acusada vai responder ao processo em liberdade. As penas por condução imprudente, negligente ou irregular vão de dois a cinco anos de prisão e inabilitação da carteira de motorista entre cinco e dez anos.
As investigações vão procurar definir se a motorista estava acima da velocidade máxima permitida de 60 Km/h, se tem antecedentes psiquiátricos e se declarou os medicamentos que consome e a síndrome ao renovar a sua carteira de motorista.
A lei exige uma declaração juramentada com os antecedentes clínicos e uma autorização médica a ser avaliada pelo órgão de controle.
Se tudo estiver regular e a acusada provar que teve perda da consciência, pode ser inocentada. Se a história clínica indicar que era consciente do risco de dirigir, pode ser condenada.
Se for constatada velocidade acima da permitida por mais de 30 Km/h ou se a brasileira ferida não sobreviver, uma segunda vítima fatal é um agravante que eleva as penas.
Cleusa Pombo está em Terapia Intensiva devido a traumatismo cranioencefálico e torácico, fraturas na clavícula esquerda e nas costelas, além de hemorragia. O estado é "reservado".
Repatriação do corpo
Patricia Scheuer garante que não se lembra de nada e que só voltou a si quando o "airbag" do carro foi acionado. De acordo com ela, quando acordou, uma pessoa disse que a vítima estava debaixo do veículo. O teste do bafômetro deu negativo. O exame toxicológico pode levar até três semanas.
Parentes das vítimas chegaram a Buenos Aires para conduzir o processo de repatriação do corpo de Fernando e para transferir Cleusa para uma clínica privada. O acompanhamento das investigações de perto por parte da família da vítima também será crucial para impulsionar o processo.
O Consulado do Brasil em Buenos Aires informou que "acompanha o caso e que está em contato com os familiares e com as autoridades locais, além de prestar assistência consular cabível".
A ex-atriz e empresária Patricia Scheuer teve participação em novelas e em publicidades antes de tornar-se uma referência no setor gastronômico. Ela é co-fundadora de bares de sucesso em Buenos Aires como "Gran Bar Danzón", "Uriarte", "BASA" e o reconhecido restaurante "Sucre". Em São Paulo, foi sócia do restaurante "Arturito", sendo posteriormente vendida a sua participação.