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Entorno de Bolsonaro vê Gusttavo Lima sendo usado e cometendo traição

do UOL

Do UOL, em Brasília

03/01/2025 13h38Atualizada em 03/01/2025 17h53

Uma figura extremamente popular, inexperiente na política e que cometeu uma traição por estar sendo usada. É assim que pessoas próximas a Jair Bolsonaro (PL) avaliam as últimas atitudes do sertanejo Gusttavo Lima.

O que aconteceu

O cantor disse ontem que deseja ser presidente. A declaração incomodou bolsonaristas e arrastou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), para a polêmica. Ele é autodeclarado pré-candidato à Presidência e se indipôs com Bolsonaro durante as eleições municipais de 2024, com candidatos conservadores se enfrentando. Caiado saiu vitorioso com seu aliado Sandro Mabel sendo eleito prefeito de Goiânia.

Gusttavo Lima teria descumprido um acordo com Bolsonaro. Ele iria se filiar ao União Brasil, partido de Caiado, e sairia ao Senado por Goiás. O cantor faria campanha alinhado com o ex-presidente, segundo teriam combinado.

O UOL buscou contato Caiado e não houve retorno. Sua assessoria afirmou que o governador estava "incomunicável". Ao colunista Tales Faria, Caiado disse que via "com normalidade o sentimento que ele já vem declarando há muito tempo". "É meu amigo pessoal e da minha parte terá total respeito à sua decisão."

Gusttavo Lima não se pronunciou. A assessoria do cantor nem sequer respondeu as mensagens enviadas pela reportagem.

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Ronaldo Caiado e Bolsonaro foram adversários na eleição municipal, e o governador venceu
Imagem: Ranier Bragon - 28.out.24/Folhapress

Vida vasculhada

Políticos experientes avaliam que Gusttavo Lima está sendo ingênuo. Eles contam que o cantor terá a vida devassada e situações como a investigação da Polícia Civil sobre irregularidades com bets serão exploradas.

O artista chegou a ter a prisão preventiva decretada. A operação apurava um esquema de lavagem de dinheiro por meio de casas de apostas e levou à apreensão do passaporte de Gusttavo Lima.

Os cachês de seus shows também são fragilidades a serem exploradas. Crítico da Lei Rouanet, ele terá a carreira escrutinada para saber quanto recebeu por meio do incentivo fiscal.

Situações mal explicadas retornarão à mídia. Em 2022, o artista ganharia R$ 1,2 milhão para um show na cidade de Conceição do Mato Dentro (MG). Descobriu-se que a verba só poderia ser usada em educação, saúde e infraestrutura e a apresentação foi cancelada.

Gusttavo Lima ainda recebeu isenções milionárias com um programa federal. A empresa dele, Balada Eventos e Produções, obteve acesso a R$ 18,9 milhões em benefícios fiscais via Perse somente em 2024.

A soma destes episódios pode manchar a imagem de Gusttavo Lima. A exposição e o risco ficam muito maiores em caso de tentar o Planalto. Pessoas experientes em Brasília consideram pouco provável que o cálculo político do cantor tenha levado estes fatores em conta.

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Gusttavo Lima cantou em live de Bolsonaro durante a campanha de 2022
Imagem: Reprodução/YouTube

Estratégia de Caiado

Pessoas ligadas a Bolsonaro enxergam o dedo de Caiado nesta movimentação. Eles consideram que o governador, bastante ligado ao artista, está se aproveitando da inocência política de Gusttavo Lima para antecipar as conversas sobre eleição.

Mesmo inelegível, Bolsonaro afirma que será candidato. Aliados do ex-presidente falam em manter seu nome até março de 2026. Ainda que a inelegibilidade permaneça, o ex-presidente acumularia força política para exigir compromissos de um aliado em troca de apoio.

Ao antecipar a discussão sobre o nome da direita, Caiado limitaria a influência de Bolsonaro. Uma vez escolhido, o candidato poderia viajar o Brasil em pré-campanha, angariando apoios. Gusttavo Lima é visto como uma ferramenta de Caiado para atingir este objetivo.

A avaliação de bolsonaristas é que o cantor sairá candidato ao Senado. Isto, se a intenção de ingressar na política persistir. O artista faria uma carreira pública alinhada à direita conservadora.

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A polêmica atual não é considerada incontornável e Bolsonaro e Caiado podem estar juntos em 2026
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapres

Aliança Bolsonaro e Caiado é possível

Relação Bolsonaro Caiado não rachou de vez. Pessoas próximas ao ex-presidente consideram legítimo o movimento do governador.

Há quem considere ser a última chance de Caiado no Planalto. Ele está com 75 anos e seria aceitável que fizesse de tudo para tentar encerrar a carreira com a faixa presidencial no peito.

A desavença atual não inviabiliza alianças em 2026. O governador é apontado por pessoas próximas a Bolsonaro como pessoa que cumpre acordos e visto com um verdadeiro político de direita. Estas credenciais permitem um acordo para a próxima eleição, a depender da configuração política.

Gusttavo Lima é encarado de outra forma. Seria um grande puxador de votos e garoto-propaganda, mas com a limitação de concorrer ao Senado por Goiás.

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